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sábado, 30 de novembro de 2013

PUERIS – UMA ELEGIA AO TEMPO - Por Hercules Morais

PUERIS – UMA ELEGIA AO TEMPO
Ainda que não seja, eu fui, sem sê-lo.
Por Hercules Morais - 
CEU CASABLANCA - SUL - TEATRO

“O teatro é síntese, mas não brevidade”.
(E. Nekrosius)

Geralmente, nos domínios das artes, tem-se olhado mais aos frutos do que à árvore que os dá ou cria. Nesta esteira mora o aspecto dinâmico da criação artística, acompanhando-a desde os seus intentos primórdios até à sua definitiva eclosão. Visto a produção artística não ser mera conseqüência do acaso, mas antes elaboração sensível e formação/interação adequada, o presente rascunho em linhas tortas, em palavras suspensas, visa apontar este limiar sensível do homem e seu entorno, nas organicidades vivificantes que nos tocam, para do subjetivo ir ao objetivo, o caminho inverso ao filho pródigo, morrer e depois nascer, as palavras que se desprendem terão inspiração na arquitetura - no paisagismo de Burle Marx - na física - no principio da incerteza de Heisenberg – uma elegia aos quarks, aos fótons e a todos os grãos de poesia do invisível que nos esclarecem e intrigam.
Esses retraços/retratos surgiram sentado no olhar que mira o muro do banco mal posicionado. Ali meu universo em uma casca de noz nasceu. Do fóton a universalidade do todo, o principio das matérias sólidas constituídas de luz.
A biblioteca vazia e fria me configura em estética relacional aos tempos vacilantes de nossa contemporaneidade, os freqüentadores do CEU não há vêem. Assim este exercício do efêmero - passeios ao léu – buscará relatar em retrato textual no limite da linguagem a descrição do fenômeno que ali se passa.
A dinâmica arquitetônica do CEU, compreende uma tensão entre aquilo que se propõe e aquilo que se verifica na prática, o que afinal significa Centro Educacional Unificado? Quando piso os pés nesta arquitetônica conjectura filosófica, não deixo de relacionar a Bauhaus e seu empenho de diálogo silencioso daquilo que se constrói em tijolos com aquilo que se visa construir em devir humano. A idéia por trás estaria na não dissociação entre áreas - o fim da hierarquia – com vistas a formação integral, os “blocos” cultural, esportivo, didático seriam todos funções complementares de um projeto da educação integral.
Para isso foi pensado um desenho arquitetônico e funcionamento próximo ao que o comércio sabiamente apropriou-se hoje, a exemplo: escadas rolantes em shoppings que te obrigam a circular por todo o espaço, sendo atravessado por promoções, cores, cheiros, sapatos, roupas, bolsas, ainda que seu objetivo primeiro era apenas ir ao banheiro nos caminhares apressados de nossa experiência moderna, essa inteligência da organização do consumo prova que pelo menos com um sorvetinho você vai sair. Assim deveria ser projetado o CEU sermos bombardeados por atividades que nos formam para além de nossos limitados objetivos iniciais, possibilidades formativas com vistas a esta educação integral em todas as potencialidades humanas, e que saíssemos pelo menos com um livrinho de poesias.
Na exploração e verificação da relevância deste ambiente de formação, criação e difusão, defendendo a compreensão de sua atuação, como forma ampliada de atender as necessidades de pensar os processos de ensino e aprendizagem em artes cênicas que nos ligamos como artistas que pensam seu tempo, e relacionam as possibilidades estruturais e a relação com o que podemos interferir.
Neste apontamento artístico-pedagógico da exploração do ambiente como vivência, se mostra a possibilidade de completude, artista-criador, que reflete e aprofunda-se em seu próprio processo - partureja-se em dor e alegria – se o fruto que aqui citamos é traduzido em beleza e obra, o fenômeno não se dá espontaneamente, é antes o produto deste esforço da vontade criadora que caminha essencialmente nas circunstâncias adequadas suprimidas e fomentadas por este ambiente de formação, o local adequado para que se dê.
Na formação do artista, do vocacionado, do cidadão, do homem, na formação da formação, o conhecimento da técnica é necessário para dar vazão à intuição, mas o essencial é a elaboração de sua visão de mundo. Este busca, por meio de uma linguagem singular desenvolvida ao longo da vida, compartilhar seu olhar. A obra de arte surge quando o mesmo consegue lançar um olhar crítico para o mundo e elaborar sua transmissão por meio de uma expressão própria.
A criação artística liga-se deste modo ao processo formativo educacional, criar em arte é um tormento enquadrado na moldura da inteligência, da vontade e da técnica e a exploração do tempo e das condições adequadas pode configurar-se em obra e processo emancipatório. Aqui não interessam os frutos colhidos verdes, tampouco os maduros, interessam à qualidade das sementes, sobretudo, a do solo, assim o tempo será o senhor da criação e sempre as safras serão consagradas nos encaminhamentos da própria natureza...

“Se a gralha faz ninho baixo e o melro alto
Haverá muita chuva nos meses de verão
Se o melro faz ninho baixo e a gralha alto
O verão será seco e quente”
(G. Bidault)

Quais experiências artísticas poderiam dialogar com toda essa dinâmica de arquitetura de nossa modernidade liquida? Estes pensamentos todos deveriam ser escritos por um sociólogo? Um educador? Um engenheiro? Um arquiteto? O que são as funções? A emancipação estaria no entendimento ativo do homem por trás da função? O jovem que não se limita a uma função ou cargo para pensar e, responder em arte o todo que o cerca, que o forma, que o deforma?

-Como a precarização dos espaços públicos pode interferir nos processos  criativos?
(Silêncio).
-Como um artista orientador e um grupo de teatro se veem obrigados a utilizarem-se do rasgo de uma cortina para construir uma estética de um espetáculo?
(Silêncio).
-O que significa melhorar?
(Silêncio).

ASSIM O SILÊNCIO DO BURACO NEGRO CRIOU NOSSO BIG BANG.

Ao descobrir a consciência e a relação propostas em uma formação cultural os sentidos recobram sensações e, como conseqüência recobramos a nossa própria existência.

O CONSTRASTE ENTRE O PROCESSO E A INTERVENÇÃO

Como nomear o que aí nasce se toda palavra é limite, sinal-a-menos e a realidade sinal-a-mais? (Affonso Romano de Sant-Anna)

Da Vinci olha para um bloco de mármore e tira as sobras da escultura que ali já habitava.

-Como fala isso?
-Como é o nome disso mãe?
-Por quê? Por quê? Por quê?...
-Mãe, as coisas que a gente vai fazer, mas ainda não fez, elas existem? Tipo esse quadro aqui. Antes do pintor pintar ele, ele já existia?

Ao passo que passa o menino e a mãe caminham de mãos dadas, tementes em atravessar na faixa a vida que transpassam. Dar nomes – ato humano por excelência – nomeando, pretendemos inscrever em nossa inteligência o ser do que foi nomeado. Em retraços sublinhados na companhia de meus grãos de poesia, escrevo, transcrevo, me meço, me excesso em escrita compartilhada com Perissé. Trazemos o objeto extra-mental para o âmbito da nossa consciência. E, a partir desse momento, podemos atuar sobre ele: para conhecer e cuidar, ou para manipular e destruir.
É divertido ver o menino que cria sua maneira faceira de fazer arte, de fazer ontologia, ‘ontologia’ palavra que amedronta, mas é constitutiva de nossa inocência/indecência, do menino que corre nu comendo a maça antes do pecado original, nas gêneses em gênesis? Essa gênese passiva deve compreender a interioridade do meu próprio universo, em emoções, sentimentos, volições, hábitos e tudo mais que emerge da estrutura de meu corpo. Na gênese ativa envolve a operância da atividade perceptiva da exterioridade, isto é, todo o fluxo da consciência intencional voltado para a busca do sentido, da estrutura eidética da objetividade, eidos/idéia ‘aquilo que se vê’ no sentido empregado por Homero, assim estrutura eidética da objetividade, como um dado que já está aí, na envolvência do âmbito inteiro da experiência.
Olavo Bilac no Caçador de esmeraldas:
 “Fernão Dias Pais Leme agoniza. Um lamento
Chora longo, a rolar na longa voz do vento.”
...estendeu para além das palavras (invadiu nossa percepção) o rolar do lamento pela morte do bandeirante – a aliteração empregada com maestria. O /o/ em lamento/chora/longo/rolar/longa/voz/do/vento, o /r/ em chora/rolar e o /l/ em lamento/longo/rolar/longa combinam-se ao /v/ em voz/vento, à rima lamento/vento e ao jogo longo/longa, alongando a voz chorosa que se desprende do ar, como se a própria natureza estivesse em agonia. Rolar em configuração fonética, é palavra que desliza – visualmente - na escrita, no arredondamento dos lábios de quem ouço pronunciar, sugere rolamento, consoantes liquidas /r/ e /l/ correspondentes ao movimento desimpedido e continuo.
O que já estava ali? A Natureza que jazia em agonia? Ou a invenção fonética da transliteração do mundo em palavras? O rasgo da cortina já existia?
Os poetas, em geral, aprendem a lidar com essa realidade e nela se sentem como peixes dentro d’água. Nem controlam totalmente a linguagem nem são por ela totalmente controlados.
“O idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanhas de cinzas” assim disse Guimarães Rosa. Que não poderia ser outra cor se não rosa, cor e flor, é imagem de poesia nos primeiros encontros de amor, os inícios de namoro que ofertam rosas, é perfume, Rosa, é a confluência dos sentidos em sentidos, a síntese da obrigatoriedade de ser que se foi. O poeta que aqui tece suas conexões têxteis, inventou o sentido da Rosa? A Rosa em Guimarães é sobrenome ou natureza que já existia? Que já estava ali habitava? A Natureza que jazia em agonia? Ou a invenção fonética da transliteração do mundo em palavras? Antes de o poeta nascer ele já existia.
Lançado a verificar nas etimologias as perguntas do pequeno menino grimpante, a pergunta para a mãe e seus redobros, dois dobros, re-dobros, de rolar, pedra que rola, mãe e filho, as pedras da existência que rolam em fio umbilical... “Amor” encontra-se com “mamar”, ligado vivamente ao infantil “mamãe”, balbucio do bebê ao colocar na boca seio materno (e “bebê” é balbucio também, da mãe amorosa que imita os balbucios do filho). Amar é dar este beijo em quem entrega o seio morno e alimentador, beijo que suga mas ao mesmo tempo dá prazer a quem se entrega.
“Antes de existir alfabeto existia a voz
Antes de existir a voz existia o silêncio
O silêncio
Foi à primeira coisa que existiu
Um silêncio que ninguém ouviu”
(Arnaldo Antunes)

Podemos então retomar uma das perguntas do início, é possível “ensinar” alguém a escrever e relacionar com sua história? No fundo seria como se nos perguntássemos, é possível ensinar alguém a olhar para o mundo, para o outro, para si mesmo? E mais especificamente, é possível ensinar alguém a deslocar esse olhar, a trazer para a criação, relação, compreensão algo que nos surpreenda, e principalmente, que não se esgote no próprio instante? Certamente não, não há fórmulas. O que não significa que não seja possível apontar caminhos, aprendendo caminhos, fazer e ser feito, ao nos depararmos hoje com as páginas do Quixote, nos permitimos ter acesso a algo que, mais do que a história de alguém que enlouquece e se imagina cavalheiro andante, é o olhar do autor para um mundo que se extinguia, e continua se extinguindo (outros mundos, outros homens) a cada leitura. A origem da palavra texto vem do latim, textus, têxtil. Portanto, a mesma origem da palavra tecido construção de uma malha de linhas formando um todo vigoroso e uniforme, texto o emaranhado de idéias, palavras articuladas, pensamentos e construção de sentidos.

Escrita refletida Têxtil de nosso processo, linhas de idéias


“Depois do Suzuki fomos assistir aos filmes do Expressionismo Alemão, A Paixão de Joana D’Arc e Nosferatus. Pudemos observar máscaras, fotografia e construirmos um olhar acerca de nossos exercícios e sensações já vivenciadas e do que estávamos visualizando nos vídeos. Expressões muito fortes, como o olhar profundo de Joana D’Arc, as conversas dos seus jurados, um cinema mudo, carregado de um simbólico multifacetado e que jogava fortemente com emoções e gestos. Já em Nosferatus, víamos fotografia, cores, narrativas, que corroboravam ao expressionismo. O que dialoga com nosso embasamento filosófico-epistemológico da criação e imersão no estado poético. Esse tônus sinergético só é possível se bebermos de múltiplas fontes expressivas artisticamente e se estudarmos a fundo a criação humana e sinestésica.
Partimos depois de assistirmos ao filme para um dos exercícios – que na minha concepção – foi um dos mais profundos que já desenvolvemos. Uma manifestação livre de emoções, gestos e expressões tendo como referencial os filmes assistidos. Dentro desse caleidoscópio plural e multifacetado pudemos experimentar um exercício muito denso e permeado de fortes emoções. Emergiram gritos, choros, risadas, todos viscerais e profundos de poesia. Foi uma catarse coletiva, muito perto de um surto. Foi um estado de experimentação, investigação e vivencia cênica que marcou a trajetória do nosso grupo”.
(Daniel Hernandez)
“Nosso orientador nos informou que veríamos um filme|doc chamado QUEM SOMOS NÓS esse que trata sobre a ciência da metafisica (uma das disciplinas fundamentais da filosofia) a palavra possui origem grega e significa:
Meta: depois de, além de.
Fisica|Physis: natural ou físico.
O assunto abordado é um grande alimento para mente e alma, e tem como objetivo estudar a ciência do mundo, a causa e a consequência, ação e reação, tudo é vai e volta. A liberdade, o sobrenatural, a causa primaria para todas as coisas, qual o papel que desempenhamos em nosso planeta. Matéria X espaço, se realmente estamos onde estamos os universos paralelos de cada ser humano e as suas ligações. Tudo o que me rodeia é constituído por átomos. O mundo subatômico! Sendo assim somos uma coisa só, um grande aglomerado de átomos e constituímos um objeto chamado Planeta Terra. Sou uma partícula de um sistema, que faz parte de outros sistemas, mas a forma que interagimos é a questão, como essa energia é distribuída de qual forma os vínculos são realizados e como eles são desfeitos e depois de tudo como são reajustados.
A nossa energia não limita-se apenas a nós mesmos, mas transcende as barreiras do imaginário e tornasse real, provando assim o nosso grande potencial, podemos ser o que quisermos ser, podemos chegar onde a mente nos levar, e podemos levar nossa mente e matéria a um alto nível disciplinar e fazer coisas realmente inimagináveis. Todos somos um. Fazemos parte de um organismo em que agimos individualmente, mas não vivemos sem a interdependência, a troca de energia, uns conduzem e outros são conduzidos. Temos de ter ciência de nossa grandeza enquanto seres humanos, do nosso potencial.”
(Wagner Ribeiro)


“Complicado explicar o tudo vivido, sentido, e compreendido dentro da caixa preta, é complicado também explicar o tudo Vivido, Sentido e observado Fora da caixa preta. No começo tudo era confuso primeira aula, fui sozinha, ninguém me arrastou até ali, pessoas novas até esqueci o nome do Orientador, Mais eu estava, ali... Buscando algo. Apresentamos uns aos outros, nome, idade, profissão, meio de práxis foi o que pensei; A cada semana me instigava mais a querer estar ali não era as pessoas não era o professor não era o local, Era eu, eu queria sentir como é eu queria saber o que eles estavam falando que na primeira aula me pareceu gregos e confusos. Hoje sei exatamente o que era aquilo que disseram nas aulas anteriores fui aprendendo, vivendo, e compartilhando. Teria que escrever um livro pra contar tudo o que foi, mais quero apenas uma única folha. Existem marcas, sentidas, escondidas, mostradas, excluir essas marcas, de um passado, do presente, limpeza corpórea. Ah Antunes filho talentosíssimo, ah joana´darc expressionismo, Ah Bach grande Bach! Maria Callas alma, Bergman silêncio! Livros, poemas, nossa querida e transformada biblioteca, Pessoas e suas historias de vida, Criações, criadores, Criaturas, ”Montrinhos”. Foram 6 meses pra ser mais exata, de trabalho, dedicação, de aprender a ser humano e agir como um, ver através de um olhar, através do delicado, dedicado, sentido, de usar a naturalidade como o natural para mostrar uma verdade, dita, não dita, sentida, não percebida, encontrada, Foram e são muitos passos ainda a serem dados, em que ser aluno era também ser orientador e orientador era ser aluno sem diferenças sem limite para o novo e para a descoberta do novo, onde todos sentiam como é, como fica, como toca, o que sente, o que liberta.”
(Talita Guidio)

“Ver o universo, olhar o mundo, observar pessoas, ouvir humanos, respirar, inspirar, sentir alguma coisa.
De tudo que nos ocorre a cada dia, a cada momento, que talvez mude ou talvez não e nos faça pensar, pensar em cada momento ou em momento algum. Aos círculos que nos cercam até desfazermos aos poucos e nos reconstituindo em nós mesmos. Então temos um conjunto de coisas, coisas estranhas, insignificantes, incompletas, gerando dúvidas, o que são estas coisas? Para que servem? O que são coisas?
O universo como linear se recompõe em si, continua em expansão, se recria a cada momento.
Então elas respiram. Este respirar para um essencial. Este espirar para um começo.
Foi posta uma mesa de experiências/informações que nos foi dada para escolhermos com qual querem nos cortar, então pegamos espadas, machados, guilhotinas! Mas ai a música toca, suavemente/brutamente, e fecha as feridas e deixa somente as marcas”.
(Gabriel Andriola)


“O TEXTO É PRETEXTO PARA O SUBTEXTO! É brilhante como ocorre a cena, as falas  ‘não faladas’ que acabam existindo dentro da nossa cabeça, não é preciso dizer para se fazer entendido mas apenas estar, ser e querer!
Para finalizar deixarei a minha impressão da nossa roda final, nenhum entusiasmo e teve momentos em que o silêncio imperou, esteve mais nítido do que nunca, que existe medo dentro da gente, medo de falar, de ser ouvido, de ver, de ser visto, enfim de estar aqui. Me indaguei!!! EU CAMINHEI, EU RESPIREI, EU DESEQUILIBREI, EU FIZ EXPRESSÕES, SENTI A DENSIDADE DO AR, ATÉ ‘ENLOUQUECI’, GRITEI, RI ALTO, CORRÍ NESTAS MADEIRAS! Tudo para receber a arte dentro de mim, tudo para que ela se apresentasse para mim, como um eu disponível, um eu que transmite. O que nos motivou a vir aqui foi estar sobre estas madeiras, Atuando. Mas nos foi dado muito mais que isso, nos foram dadas as ferramentas para a construção de nós mesmos e agora temos medo de fazer algo de nós”.
(Priscila Gonçalves)



“Uma proposta simples, entrevistar alguém, ouvir uma pessoa contar sobre seus medos, suas alegrias, suas experiências de vida. Nada mais simples que isso. Parar e ouvir alguém. Justamente nesta simplicidade estava, na minha opinião, o coração daquele processo que o Hércules orientava. Em algum encontro agente falou sobre, espada, corte, feridas. Fui cortado. Jamais serei o mesmo depois deste processo. Fazer as cenas como recortes da vida que nós mesmos não paramos para observar, a experiência de ser o criador de minha própria obra, de me sensibilizar com o cotidiano e ver ou transformar isso em poesia, o simples e rico ato de ouvir o outro é algo que ninguém, jamais vai me tirar, é pra toda minha vida.  Já pensou se eu tivesse desistido?
Durante todo o processo a gente passou por Callas, butô, fomos do Expressionismo ao Impressionismo, trabalhamos com respiração, ar, movimento, falamos sobre história, filosofia, etimologia, religião, música, artes plásticas, Bach, discutimos a respeito de Unvelt, campo tácito, metafisica. Erramos, acertamos, choramos, rimos, nos sensibilizamos, fizemos amizades, tivemos despedidas, mas o que importa mesmo é a experiência, a vivência de tudo isso e como artistas – criadores que agora somos encarar cada uma dessas coisas como parte de nossas obras”.
(Romário Lopes)


“Sobre a Educação da Sensibilidade,
Não teria um nome específico para definir, mas vamos chamar de uma peça. Ao decorrer do ano fomos montando recortes/cenas tentando no mais íntimo de nós, dar um ar de realidade aos nossos movimentos, falas, ações e até mesmo pensamentos.
Nossas cenas também surgiram através de conflitos, incômodos, questionamentos e aflições, que nos causaram uma metamorfose silenciosa. Podemos dizer que tivemos uma overdose de informações, conversas complexas e profundas, que no mais íntimo de cada um de nós, nos transformou de certa forma. A vida está ai, não para, o tempo passa e a história vai acontecendo, pessoas nascem e morrem, deixam exemplos, esperanças, perspectivas diferentes do mundo. Abrimos uma pequena fenda no espaço, para poder ver as coisas que talvez não víamos antes. Eis ai a dança dos planetas, cada um com seu movimento, acrescentando a cada instante. Abrimos os olhos, mas podemos enxergar com eles fechados e a poesia continuará viva.
Ótimo! Palavras e mais palavras foram soltas pelo ar, pelo tempo, que no silêncio se transformam em músicas, poesias e livros. Concretiza o não dito pelo dito, intensifica aquilo dentro de nos, os sentimentos que são um só sentir, das nossas emoções e das nossas sensações. Sem mais, flutuamos juntos em uma atmosfera, prontos para uma única viagem sem volta, que pode ser a ida para algo mais complexo, mais profundo, onde não há fendas para escapar.
(Ana Ítala)


“Em um circulo de idéias e incômodos, circulo de pensamentos homogêneos -Circulo dentro de quadrados, quadrados dentro de teatro, teatro dentro de nós- nós (As feras) dotados de sentimentos, fulgidos, sentimentos controlados, iniciamos uma nova vida, pois cada vez que saímos daquela caixa preta saímos outros, tantos, OUTROS.
Engraçado! Nada é como era antes, ouvir sobre o nosso processo é falar de experiências passadas, marcas não físicas, marcas metafísicas, profundas e infeccionadas, marcas contagiosas. Quem é melhor para falar sobre um corte, do que a própria faca/espada, ela rompeu cada micro fibra da nossa pele, cada músculo do nosso corpo, cada órgão do nosso organismo. O conjunto de letras, palavras, frases iam delineando da morte para a vida, falando do processo em que se foi criando vários “monstrinhos”, as acusações verberantes vieram da faca/espada, do ser responsável pela morte e pelo parto. Ser este que todo soltinho brincava com as palavras, escrevendo com navalhas em minhas costas.
O texto será publicado então morrerá, mas com a metamorfose silenciosa ele já não será mais nosso e sim de um passado distante, pois cada domingo são mais mil’anos que avançamos, sentimentalmente, metafisicamente, fisicamente, literaturgicamente.”
(Elvis Torres)


“Paramos diante do estranho para ouvi-lo. Reconhecemos o que nos chega, não necessariamente como nosso, mas que poderia ser. Essa incerteza quanto a nossa presença no mundo permite que nos aproximemos de tal modo da vida do outro que já não possamos friamente separá-la da nossa.
Ao ficarmos diante da história de um ser humano, consentimos antes de tudo para que a vida se faça; olhamos em seus olhos e deixamos que as memórias, imagens passem ‘entre vistas’. É um momento de apoteose, desses de que a vida é feita e para os quais é preciso que existamos.
Talvez passemos cada um de nós nossas vidas em nossos caminho individuais, buscando entender o todo ou mesmo já desesperançados de achar respostas, quando, como num encontro de notas alta e baixa, criamos um movimento harmônico: notas tão distintas e distantes se encontram e percebem estarem dentro de uma malha maior, um pano não-plano em que as regras aprendidas em vida não necessariamente funcionam ou são precisas, pois sentimos que somos parte de uma obra grandiosa em que nossos corpos tão simples propagam ondas sonoras, cada uma em seu tom, umas de tão mínima frequência, pianinhos, outras quase estrondos, metais pesados – tudo para que se forme o grande coro consonante, de movimentos ora uníssonos ora dissonantes, que seguem-se numa ordem própria e nos levam sempre adiante, a um espaço e tempo desconhecidos que, para que se mantenha a ordem, não nos cabe saber.”
(Rênier Vasconcelos)


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