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sábado, 30 de novembro de 2013

Safra Nobre

Ensaio - Novembro 2013
AO Angélica Rovida-  Paço Cultural Júlio Guerra (Casa Amarela)

“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.”- Paulo Freire

   Sim, a alegria a boniteza de perceber os artistas-vocacionados, neste momento “conclusivo” do Programa, transformados. E ainda em transformação, porque apoderando-se dos processos criativos, projetam ações, independentemente da minha presença, relacionando-se entre si e com equipamento de modo autônomo.
Autonomia para eles, plenitude para mim. Após seis anos de participação no Programa e entre tantos percalços, assembleias, de um lado, de outro os encontros com vocacionados, que me permitiram incorporar mais os preceitos do Programa e assim, sentir-me realizada, satisfeita! É como um vinho bom, maturado, que se  degusta melhor ao sabor do tempo.Das experiências adquiridas nestes anos, poder saborear, desfrutar dos processos criativos.

  Tecidos, cirandas e flash-mob (dançados na rua, praças, teatros do CEU, biblioteca, Casa de Cultura) os processos experimentados em espaços distintos foram “macerados” pelas turmas, em que se mesclaram diversas faixas etárias. O respeito entre eles de se permitirem participar dos processos, cada um com suas possibilidades. Rumo à emancipação!
  E, seguindo com a metáfora do vinho, os encontros formaram um mosto tão vivo que é impossível não saboreá-lo. A delícia de desfrutar da disponibilidade e generosidade entre as turmas e o diálogo entre vários equipamentos da região sul. Trânsito que foi aberto, incentivado pelas Mostras locais e regionais. Acredito que o modo da coordenação feita pela Tutti (que incentivou variados formatos, processos mais flexíveis de Mostra) possibilitou um ambiente acolhedor para “estar a vontade”. Espaço confiável para se arriscar, entregar e integrar aos processos.

  A Mostra Itinerante que realizamos em Santo Amaro, juntamente com as linguagens de música e teatro, também foi mais uma ação que nutriu as turmas de dança. Acredito na potência destes diálogos interlinguagens. A experiência de estar em diferentes espaços internos e externos reverberou nos vocacionados como um eco de desejos de sustentar as ações e encontros . A “Yellow House” (assim eles se batizaram) tem agenda movimentada: articulando-se com outros equipamentos as “mostras” continuam, nas ruas. Da Casa Amarela, Biblioteca Belmonte, CEUs da região Sul, para Avenida Paulista. Que hoje, será o palco do flash mob “Bee Rity” .
Como não saborear deste vinho? neste processo de busca, vou enchendo minha taça, com alegria, beleza e desejos, dos artistas- vocacionados. E plena, faço um brinde ao privilégio de ter provado desta safra tão nobre!.

Em que reino, em que século, sob que silenciosa
Conjunção dos astros, em que dia secreto
Que o mármore não salvou, surgiu a valorosa
E singular idéia de inventar a alegria?
Com outonos de ouro a inventaram.
O vinho flui rubro ao longo das gerações
Como o rio do tempo e no árduo caminho
Nos invada sua música, seu fogo e seus leões.
Na noite do júbilo ou na jornada adversa
Exalta a alegria ou mitiga o espanto
E a exaltação nova que este dia lhe canto
Outrora a cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver minha própria história
Como se esta já fora cinza na memória- “Soneto Do Vinho”- Jorge Luis Borges












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