Ensaio
CEU Parque Bristol
Vocacional Dança
Artista- orientadora: Larissa Verbisck
Ensaio escrito no mês de julho de 2013
Sinto-me como um lavrador. À
espera. Sem o controle sob o que plantei. À espera. Sem por isso deixar de
realizar o árduo trabalho do mobilizar a terra, arar, adubar, plantar, regar,
cuidar. Trata-se de uma plantação fora do comum, pois não é um plantio de uma
só semente com o objetivo da colheita. É mais como um viveiro, sem fins
pragmáticos, é um nascer, um experimentar fazer existir do que antes não
existia.
Muito foge do meu alcance, minha
espera precisa ser paciente. Tento encontrar formas de não criar expectativa,
pois não sei o que vai nascer, o que pode nascer, como vai ser...
Árduo e prazeroso trabalho a
fazer, não estou sozinha. A riqueza ou pobreza do solo não depende de mim, nem
as chuvas, o forte sol, o frio ou até uma provável e repentina infestação de
insetos! O CEU é para mim esta imagem.
São pouquíssimas sementes que vieram
e vem ao meu encontro. Umas com mais e outras com menos desejo de nascer.
Sementes únicas e tão distintas entre si. Ao observá-las não sei ao certo o que
delas pode brotar. É preciso esperar sem criar expectativa, pois triste será se
por esperar uma frondosa árvore, deixar de ver a beleza de uma delicada erva
que nasce. O tamanho não importa.
O viveiro alcança sua boniteza na
interdependência. Cada qual com seu espaço, diferença, o convívio retroalimenta.
Por isso é tão importante ações em rede, de encontro entre vocacionados,
plantas que na maioria das vezes habitam lugares com condições tão
desfavoráveis e que descobrem forças no estar junto.
Há os que dizem isto não está
levando a nada, não colhemos, não temos lucro, e querem fazer com que o cultivo
deixe de existir.
Há outros que mesmo entendendo o
que é o viveiro e a importância dele, se dão conta que é tão pouco que nasce
mesmo diante de tanto trabalho, que se perguntam como isso podia ser diferente.
Como fazer chover mais, como enriquecer o solo, como fazer com que sementes se
percebam sementes e encontrem o desejo de brotar. É possível?
Há quem consiga plantar no
deserto. Mas quem, quantos conseguem, como?
Como lavradora, sigo com o que
posso de entrega e perseverança na semeadura, por vezes duvidando da minha
possibilidade de cultivo diante da aridez. Insisto em ser lavradora, em lavrar,
lavrar, a dor.
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