INSPIRAR, MOBILIZAR, IRRADIAR
Estamos de passagem nas vidas uns dos outros.
O que fica de nós é uma fagulha, uma chama, um sopro de inspiração.
E para inspirar nos basta um instante, um breve momento pode ser
suficiente...
Inspiração!
Eis aí a grande mola
propulsora neste ano de 2013. Essa palavra tomou lugar de destaque em minhas
relações permeando as varias instâncias de minha vida. No que tange ao Programa
Vocacional, inspirar e ser inspirada esteve intimamente ligado às dinâmicas de
troca que foram construídas ao longo dos meses de trabalho gerando
possibilidades de dialogo que irromperam os encontros de orientação e extrapolaram
as ações culturais embrenhando por novos territórios.
Eu Artista Vocacionada
Um destes territórios
se refere ao fato de que, este ano estive Artista Orientadora (CEU Pera
Marmelo) e Artista Vocacionada (Galeria Olido, turma de terça-feira de manhã,
orientados pelo AO Renato Vasconcelos) e esta dupla função me permitiu enxergar
o programa através de um outro prisma, estranho, diferente e estimulante. Como
Artista Vocacionada pude vivenciar o Programa Vocacional lá na ponta, na pele
daquele que é a figura central do discurso do programa e descobri que as coisas
são muito mais simples do que se imagina. Percebi que independentemente da
linguagem, abordagem ou metodologia aplicada pelo AO nos seus encontros, muito
do que conta para o Artista Vocacionado é a atenção dada a ele, o ambiente de cooperação, coletividade e
pertencimento que se cria, a combinação entre confiança e autonomia. Soma-se
ai, dois fatores que pra mim são as bases fundamentais: a capacidade de inspirar
e dar voz ao outro.
Reproduzo abaixo trecho
de uma breve reflexão escrita por mim após a mostra de processo da qual
participei como artista vocacionada
junto aos meus colegas da turma do vocacional dança da Galeria Olido,
orientados pelo A.O. Renato Vasconcelos:
29.09.2013
"Eu vocacionada sou eu em experiência: desejo, desenho e beijo se
mesclam no simples prazer do deleite. Sem saber direito onde pisar os passos se
lançam e o corpo segue sôfrego, exausto, ativo, propositivo e receptivo. A
grande vitrine me protege expondo o mais sincero de mim, o meu mais genuíno eu
em movimento..."
"Tenho aproveitado o espaço do Vocacional Dança da Galeria Olido
para aprofundar minhas pesquisas em torno da liberdade propositiva que reside
no encadeamento de instruções as quais permitem o fluxo relacional estabelecido
pelo jogo. Jogo no qual os jogadores somos eu, o outro, a arquitetura da sala,
os transeuntes, o lado de lá e o lado de cá... Entre estranhamentos e
identificações, as ações cênicas se contagiam mutuamente pelo seu potencial de
mobilização coletiva. Vivenciamos trocas inusitadas, inesperadas,
surpreendentes e cada vez mais consistentes no que se refere a plantar vontades
e emergir desejos. Neste espaço-tempo vocaionaldancagaleriaolido, as diferenças
se confluem para uma postura coletiva de descobertas intimas e pessoais, mas
nunca individualistas."
Eu Artista Orientadora
Enquanto Artista Vocacionada
pude refletir a todo instante sobre minha postura como Artista Orientadora, observando,
analisando, e revendo meus passos, atitudes, proposições, ações e
procedimentos. AO e AV estiveram juntas, uma dando espaço à outra, uma
estimulando e provocando a outra, alimentando-se mutuamente.
Inegável dizer o quanto
essa experiência reverberou em minha atuação como AO, e claro no amadurecimento
do grupo Mulheres do Pera (o qual orientei) que alcançou uma autonomia digna da
força dessas mulheres. Vê-se essa força refletida também nas conquistas em
relação ao equipamento CEU Pera Marmelo.
Junto a essa maturidade
veio a constatação de uma realidade: nem todos são ou estão artistas
vocacionados; nem todos estão dispostos a partilhar desta experiência em sua
plenitude, com seus ônus e bônus. E o que fazer? Bem, neste ponto optamos por
dar tempo ao tempo e crer com veemência na potencia da experiência em si, mesmo
que seja de passagem, por um breve período de tempo, e dar liberdade de escolha no que se refere
aos caminhos a serem trilhados por cada um.
DivagAções
Dou me aqui a liberdade
de dizer que, em matéria plantar vontades, plantamos e muitas. O Fórum de
Dança, organizado pelo AO Edson Calheiros no CEU Pq. Anhanguera foi uma destas oportunidades
que agarramos com unhas e dentes. Cada edição do Fórum era uma ótima surpresa.
AOs de diferentes equipes foram até o CEU Pq. Anhanguera mostrar um pouco de sua
visão sobre a dança, dividir seus conhecimentos com outros AOs e AVs de
diferentes equipamentos. Neste ínterim as relações foram se estreitando e fomos
todos nos inspirando uns aos outros, nos encantando uns com os outros.
E o quão potente tem
sido as mostras e as trocas que elas mobilizam... Mostra de processo dança com CEU Jaçanã,
mostra coletiva dança e teatro Ceu Pera Marmelo... Mostra vocacional dança
Olido e Mulheres do Pera... e tantas
mais.
Ver o trabalho do outro
torna a conquista dele a minha também.
Ver a dança no corpo do outro me permite reconhecer-me como ser dançante. Ver e ser artista criador.
Difícil dizer como ou
quando as coisas começaram a se entrelaçar mas o fato é que rompemos os limites
entre titulações, equipes, equipamentos... gerando uma grande rede de criadores,
fazedores, apreciadores e experienciadores de dança.
No fim das contas, tanto faz a sigla ou o nome que se dá - AO,
AV, Coordenador - o cerne da questão reside em não se pautar por uma dualidade
que se fixa em lugares opostos, que distancia e separa, não se ater à um lugar
ou à outro, e sim abrir espaço para a permeabilidade, o diálogo, a interação, as
trocas, a cooperação, a fluidez e o livre transito com o outro.
Vi emergirem, diante de meus
olhos, desejos tão sinceros, tão
genuínos...
25.11.2013
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