Antes, dois textinhos inspiradores:
Em que medida podemos mudar a vida, eis a questão.
É uma questão de eficiência; e se pudermos mudar a vida de
um modo geral,
devemos fazê-lo. Mas não se consegue fazê-lo através da
arte.
De qualquer maneira, existe a questão de saber até que ponto
se pode, ao mudar a
vida, mudá-la para melhor.
No entanto, dentro de cada um de nós existe a esperança e a
vontade de fazê-lo, mas
é essencial sabermos que não é através da cultura que se realiza isso, quero dizer,
não através de um caminho tão indireto como é o da cultura.
Através da cultura, é verdade, pode-se falar a propósito das modificações do mundo.
Através da criação pode-se falar como mudar a vida, as estruturas, as civilizações,
é essencial sabermos que não é através da cultura que se realiza isso, quero dizer,
não através de um caminho tão indireto como é o da cultura.
Através da cultura, é verdade, pode-se falar a propósito das modificações do mundo.
Através da criação pode-se falar como mudar a vida, as estruturas, as civilizações,
como tornar o mundo melhor. Mas “falar a respeito” não
modifica nada. Lamento.
(GROTOWSKI, 1974)
Eres hijo de
alguien? No eres un vagabundo, eres de algún sítio, de algún país, de algún
lugar, de algún paisaje. Habían personas reales a tu alrededor, cerca o lejos.
Eres tu hace doscientos, trescientos, cuatroscientos o mil años, pero eres tú.
Porque quién empezo a cantar las primeras palabras era hijo de alguién, de
algún sítio, de algún lugar, entonces, si tu reencuentras eso, eres hijo de
alguién. Si no reencuentras eso, no eres hijo de alguién, estás cortado,
estéril, infecundo.
Este ejemplo
muestra cómo, a partir de um pequeño elemento – una canción – se desemboca
sobre varios problemas de pertenencia, de aparición de la canción, de la
encantación, de nuestros lazos humanos, de nuestro linaje en el tempo, todo
esto aparece, y con esto aparecen las preguntas clasicas de tu oficio. Que es
el personaje? Tu? El primero que cantó la canción? Pero si tu eres hijo de
aquel que por primera vez cantó esa canción, si, es este el verdadero rastro del
personaje. Tu eres hijo de algún tiempo, de algún lugar. No se trata de actuar
em rol de alguién que no eres. Entonces en todo este trabajo aparece el aspecto
vertical, siempre más hacia el comienzo, siempre más “estar de pié en el
comienzo”. I cuando tienes este no-diletantismo, entonces es el problema de ti
– de hombre – que se abre. Con esta cuestión de hombre es como una grande porta
que se abre: detrás de ti esta la credibilidad artística y delante de ti hay
algo que no exige una competência técnica, sino una competencia de ti mismo.
Hamlet, hablando con Horacio de su padre, el rey muerto, dice: “He was a man”.
Dice: “Jamás encontraré otro como él”.
Esta es la
verdadera pregunta: Eres hombre?
Agora sim, minha carta-resposta
que é pergunta, ou um reverso que é um verso, ou “eu é nóis”:
Há um
exercício de teatro que me intriga toda vez que eu pratico. É simples: todos os
atores colocam-se no espaço e, caminhando, tentam criar para si alguns círculos
de atenção ligados ao “eu”, ao “tu”, ao “ele”, ao “nós” e também ao “vós”. Passeando
internamente por tais círculos, tenta-se experimentar a possibilidade de os
fazer coincidir entre si, ou de existirem simultaneamente. Corporalmente, na
caminhada em silêncio, busca-se perceber o que acontece quando nos incluímos,
quando incluímos o outro, quando nos retiramos de todos, quando estamos com
todos. Experimenta-se ser ao mesmo tempo “eu” sem eliminar o “tu”, ou ainda ser “vós” sem esquecer o
“ele”.
Às vezes,
depois de algum tempo, acontece de o “eu” virar “nós”, ou o “tu” virar “vós”. Também
pode ser que o “ele” se transmute em um “nós”. Outras vezes, dependendo do dia,
é impossível de se criar o “tu”, ou ainda esse “tu” é um “ele”, e assim por
diante. Mas isso tudo é muito concreto, vivo, altera a presença do ator e se
torna visível, para o espectador.
Lembrei desse
exercício ao ler o texto do Oswaldinho, principalmente à luz dos acontecimentos
dessa semana, na cidade de São Paulo. Oswaldinho se pergunta: como me conectar
com este novo mundo, produzindo silêncio na sociedade do Grito? Pergunta-se se
deve recuar ou participar, interferir ou participar.
Bom, em
primeiro lugar, quero dizer que essas são as mesmas perguntas que me faço. Em
segundo lugar, também não tenho respostas. Mas, vendo o movimento imenso das
pessoas na rua, parece que é tão difícil reconhecem quem é o tu, quem o ele,
que somos nós no meio da multidão que anseia por mudanças na avenida Paulista,
na Praça da Sé. Quem bate, quem apanha, quem ateia fogo, quem é incendiado,
quem é chama explosiva, o que tudo isso quer dizer?
Acho quase
impossível de ser decifrado. Será que, diante de tudo isso, o caminho da
consciência ainda cabe? Será que se perguntar sobre a consciência ainda é um
caminho? Em silêncio ou gritando, faço parte disso tudo, ainda que não me
perceba.
Quando a
violência se manifesta, parece-me que o discurso do opressor e do oprimido é só
uma parte da explicação, mas não dá conta de justificar tudo. Como se, para
além dos lados definidos, das posições, muita coisa estivesse doente, podre. E
muita coisa estivesse viva, mesmo onde não a captamos.
Como olhar
para isso sem separar? Como acolher, como criar espaço para que não está sendo
visto, que não está sendo dito e que, no entanto, é real? Acredito também que,
em algum lugar que a consciência não alcança, as coisas estão se resolvendo,
ainda que a solução não esteja sob nosso controle.
O que nos
cabe, então? O que isso tudo tem a ver com teatro? Essa semana, no horário da
grande manifestação, eu tenho ensaio. E me dói muito não estar na rua.
Decidi que, na
próxima semana, falarei, no encontro do vocacionados, desse grande coro que
saiu de casa, nessa semana, para pedir mudanças pelas ruas. O que foi aquilo? Um
coro contra outro, ou um protagonista (uma só voz em muitos corpos) contra um
coro? Um coro que comenta, que interfere, ou que se associa? Quantos coros no
meio da multidão? Quantos coros em casa, vendo novela? Gostaria de ouvir,
deles, em forma de teatro, onde toca tudo isso, onde isso é vivo, não como
discurso, mas como pele, como reação, como ação, que isso já diz tanto... o
Otavio Paz dizia que a melhor resposta a um poema é sempre um outro poema. Ouvir
se algo toca neles, dessa semana de turbulência, para além do que se ouve do
que o Jornal Nacional diz.
Mas, diante do
que me dirão, continuo me perguntando: como olhar a vida que emerge disso? Como
não julgar nem manipular, não tirar conclusões e não me deixar calar pela
inércia? É tudo bem difícil...
Natacha Dias/2013
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