1
– Prelúdio
O
ato de preludiar está associado ao
momento anterior ao da execução da música, ou seja, um momento de percepção na qual o músico afina o instrumento, observa
o espaço onde a música vai reverberar, percebe o público e a expectativa que
percorre todo o ambiente.
O
ato de preludiar foi primeiramente associado aos instrumentos de cordas em
principal o alaúde e alguns relatos descrevem que muitas vezes o prelúdio era
muito mais significante e belo que a própria música a ser tocada após o ato de preludiar. Em princípio o prelúdio era
apenas um momento inicial em que o instrumentista dedilhava seu instrumento,
mas posteriormente o prelúdio passa a ser um procedimento composicional.
Notamos que o prelúdio é algo anterior ao ato em si e mesmo quando se torna
procedimento composicional o prelúdio é a peça inicial de uma forma de danças
conhecida como suíte.
2
– O material norteador
É
interessante notarmos que o material norteador do Programa Vocacional é
iniciado com um Prelúdio em forma de
pergunta: “Uma pessoa ignorante poderia ensinar outra pessoa ignorante o que
ambas não conhecem?”.[1]
A
pergunta é profunda o suficiente para não ser respondida diretamente, e talvez por
não ter somente uma resposta, pode ser defendida ou contrariada e pode ser uma
pergunta retórica a fim de embasar um complexo de pensamentos que se alinham ou
ainda uma prática pedagógica.
Esse
prelúdio questionador nos remete às nossas próprias práticas pedagógicas, no
sentido de nos questionarmos até que ponto podemos ensinar aquilo que não
sabemos? É a mesma pergunta feita de outra maneira, e poderíamos ainda fazê-la
com outros formatos, e é assim que acontece o prelúdio, dedilhados intermináveis
com inúmeras interpretações e significados.
A
associação do Prelúdio enquanto conceito à função do Artista Orientador me
parece válida, pois, esse Artista Orientador precisa observar um grupo,
entender o que está ao seu redor e compreender os anseios desse grupo, assim
como o alaudista antes de iniciar sua apresentação.
O
tópico Prelúdio está dividido em três
partes: a primeira com a pergunta que foi exposta acima, a segunda parte com o
tópico Imitador de Vozes e terceira
parte Semente.
O
Imitador de Vozes nos remete à
reflexão do fazer artístico enquanto prática cotidiana enquanto Semente esclarece os objetivos do
Programa Vocacional.
3
– “A emancipação no Programa Vocacional envolve produção de processos de subjetivação dos
participantes em seus coletivos”.[2]
O ato de preludiar como definição inicial,
daquele que ainda está se preparando para algo, que está observando, criando
forças para o ato em si, é um processo de subjetivação no qual Artista
Orientador e Vocacionado se percebem como elementos que se completam, que se
confrontam, que se constroem e também se desconstroem.
O
prelúdio é a fonte geradora de um todo, é a semente plantada, é a instauração
de um processo, não é linear em seu conceito é expansivo assim como o Programa
Vocacional que tem a emancipação artística como foco.
O
processo de emancipação é coletivo e composto em multipartículas que se
relacionam em diversos níveis de profundidades, interesses, níveis culturais,
etc.
A
alusão entre o ato de preludiar, ou seja, o alaudista no momento que antecede
sua apresentação e o Prelúdio do
material norteador é o levantamento de alguns conceitos relacionados ao Artista
Orientador: percepção da realidade que o cerca, expectativa em torno dos
vocacionados e para os vocacionados.
O
Artista Orientador é aquele que vai ajudar a desenvolver o desejo do
vocacionado, que encaminha o vocacionado para o entendimento do prazer e do
fazer musical, do entendimento da música como ars liberales e ars mechanica,
não significa que o Artista Orientador tenha que transformar o vocacionado em
músico, mas ambos necessitam se submeter aos prazeres estéticos da música,
dessa maneira, como uma troca os processos criativos vão “naturalmente” surgindo.
Arnold
Schoenberg deixou escrito em seu livro Harmonia
que se “conseguir transmitir a um aluno o que na nossa arte há de artesanal de
um modo tão completo como sempre consegue um joalheiro”,[3]
então se dá por satisfeito. Assim como Schoenberg, penso que o artista-orientador
deva mostrar o que tem na música artesanal e o que há de reflexão estética. Isso
se dá por meio da “experiência criativa, baseada na pesquisa cotidiana”, ou
seja, na formulação constante de perguntas, e, dessa forma ele “poderá
construir, conduzido e apoiado pelo artista-orientador, o conhecimento
necessário para expressar musicalmente”.[4]
Referências
bibliográficas
Material norteador, extraído do
endereço:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/dec/formacao/vocacional/,
acessado em maio de 2013.
DAHLHAUS, Carl. Estética Musical. Lisboa: Edições 70,
2003.
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