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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O Prelúdio – Uma consideração a cerca do material norteador.

Mayki Fabiani - Coordenador Equipe Leste II, III e IV

1 – Prelúdio
O ato de preludiar está associado ao momento anterior ao da execução da música, ou seja, um momento de percepção  na qual o músico afina o instrumento, observa o espaço onde a música vai reverberar, percebe o público e a expectativa que percorre todo o ambiente.
O ato de preludiar foi primeiramente associado aos instrumentos de cordas em principal o alaúde e alguns relatos descrevem que muitas vezes o prelúdio era muito mais significante e belo que a própria música a ser tocada após o ato de preludiar. Em princípio o prelúdio era apenas um momento inicial em que o instrumentista dedilhava seu instrumento, mas posteriormente o prelúdio passa a ser um procedimento composicional. Notamos que o prelúdio é algo anterior ao ato em si e mesmo quando se torna procedimento composicional o prelúdio é a peça inicial de uma forma de danças conhecida como suíte.

2 – O material norteador
É interessante notarmos que o material norteador do Programa Vocacional é iniciado com um Prelúdio em forma de pergunta: “Uma pessoa ignorante poderia ensinar outra pessoa ignorante o que ambas não conhecem?”.[1]
A pergunta é profunda o suficiente para não ser respondida diretamente, e talvez por não ter somente uma resposta, pode ser defendida ou contrariada e pode ser uma pergunta retórica a fim de embasar um complexo de pensamentos que se alinham ou ainda uma prática pedagógica.
Esse prelúdio questionador nos remete às nossas próprias práticas pedagógicas, no sentido de nos questionarmos até que ponto podemos ensinar aquilo que não sabemos? É a mesma pergunta feita de outra maneira, e poderíamos ainda fazê-la com outros formatos, e é assim que acontece o prelúdio, dedilhados intermináveis com inúmeras interpretações e significados.
A associação do Prelúdio enquanto conceito à função do Artista Orientador me parece válida, pois, esse Artista Orientador precisa observar um grupo, entender o que está ao seu redor e compreender os anseios desse grupo, assim como o alaudista antes de iniciar sua apresentação.
O tópico Prelúdio está dividido em três partes: a primeira com a pergunta que foi exposta acima, a segunda parte com o tópico Imitador de Vozes e terceira parte Semente.
O Imitador de Vozes nos remete à reflexão do fazer artístico enquanto prática cotidiana enquanto Semente esclarece os objetivos do Programa Vocacional.

3 – “A emancipação no Programa Vocacional envolve produção de processos de subjetivação dos participantes em seus coletivos”.[2]
  O ato de preludiar como definição inicial, daquele que ainda está se preparando para algo, que está observando, criando forças para o ato em si, é um processo de subjetivação no qual Artista Orientador e Vocacionado se percebem como elementos que se completam, que se confrontam, que se constroem e também se desconstroem.
O prelúdio é a fonte geradora de um todo, é a semente plantada, é a instauração de um processo, não é linear em seu conceito é expansivo assim como o Programa Vocacional que tem a emancipação artística como foco.
O processo de emancipação é coletivo e composto em multipartículas que se relacionam em diversos níveis de profundidades, interesses, níveis culturais, etc.
A alusão entre o ato de preludiar, ou seja, o alaudista no momento que antecede sua apresentação e o Prelúdio do material norteador é o levantamento de alguns conceitos relacionados ao Artista Orientador: percepção da realidade que o cerca, expectativa em torno dos vocacionados e para os vocacionados.
O Artista Orientador é aquele que vai ajudar a desenvolver o desejo do vocacionado, que encaminha o vocacionado para o entendimento do prazer e do fazer musical, do entendimento da música como ars liberales e ars mechanica, não significa que o Artista Orientador tenha que transformar o vocacionado em músico, mas ambos necessitam se submeter aos prazeres estéticos da música, dessa maneira, como uma troca os processos criativos vão “naturalmente” surgindo.
Arnold Schoenberg deixou escrito em seu livro Harmonia que se “conseguir transmitir a um aluno o que na nossa arte há de artesanal de um modo tão completo como sempre consegue um joalheiro”,[3] então se dá por satisfeito. Assim como Schoenberg, penso que o artista-orientador deva mostrar o que tem na música artesanal e o que há de reflexão estética. Isso se dá por meio da “experiência criativa, baseada na pesquisa cotidiana”, ou seja, na formulação constante de perguntas, e, dessa forma ele “poderá construir, conduzido e apoiado pelo artista-orientador, o conhecimento necessário para expressar musicalmente”.[4] 

Referências bibliográficas
Material norteador, extraído do endereço:

DAHLHAUS, Carl. Estética Musical. Lisboa: Edições 70, 2003.




[1] Material norteador, p. 1
[2] Material norteador, p. 2
[3] DAHLHAUS, 2003, p. 11
[4] Material norteador, p. 2-3.

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