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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Primeiros escritos: carta-ensaio de maio

De lá de 27 de maio, uma das primeiras cartas trocadas entre os artistas da Leste 2.

Primeiros escritos: do reencontro ou do primeiro encontro com o material norteador, com os equipamentos, com os vocacionados, com a rede de coordenadores, gestores, professores, com as ruas, becos, terminais, ...

Reencontrar todas as segundas pela manhã no CEU Sapopemba a perplexidade de artistas-orientadores que espiam para fora do ônibus no caminho até os equipamentos.

Grades de ferro separam os andares de escolas estaduais cuja chave fica em poder de um funcionário que controla cada andar, os alunos ficam presos dentro destes andares, as portas de ferro também separam alunos e funcionários, alunos e professores, alunos e diretores, artistas-orientadores e a escola.

A peça montada por um grupo de vocacionados parece reforçar todos os preconceitos de uma sociedade 
machista e desigual.

Queremos seguir o processo com os vocacionados (novamente), mas o primeiro ano de mandato com todas as suas transições demoradas e apertos orçamentários dificultam as ações.
A copa de 2014 parece acirrar as aberrações nos locais que serão vistos pelo estrangeiro e também naqueles que serão escondidos. Caos que mistura propositalmente exuberância, sensualidade e miséria.
Há resistência? O funk é uma resistência ou uma alienação? É possível que seja as duas coisas ao mesmo tempo? O engajamento evangélico é uma resistência? Vemos expressividade dos corpos quando a fé evangélica surge. E no teatro?
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O material norteador ainda responde à revolução industrial e à alienação no trabalho o que, infelizmente, faz-se pertinente. Como voltar a falar das especificidades da linguagem, da artesania, sem retroceder ao autoritarismo nos modos de produção? É possível falar em artesania no teatro contemporâneo? Faz sentido pensar em artesania, aprofundamento técnico, no teatro contemporâneo? O que seria isso na cena contemporânea?
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É possível, a cada nova posição das constelações, dentro dos grupos e turmas do Vocacional, identificar:
1-      O que surge na forma da cena que é cópia de uma cultura opressora e midiática?
2-      O que parecem ser elementos de uma cultura hegemônica e opressora mas que escondem sementes de resistências?
3-      É possível falar em resistência quando não se tem consciência daquilo contra o que se resiste?
4-      Quando eu, artista-orientadora, ajo e falo como “aprisionada por condições sociais externas e impostas” sem me dar conta?  
   
    Marina Corazza, artista-orientadora do CEU São Rafael (Leste 2)


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