ENSAIO GERAL CEU FEITIÇO DA VILA – Naloana
Lima - 2013 - TEATRO
VOCACIONADOS: Estou no equipamento CEU Feitiço da
Vila desde 2012. Ano que me deparei com um grupo e duas turmas de adolescentes
muito dispostos a embarcar no universo teatral, sem amarras, sem restrições...
Vivenciamos diversos experimentos cênicos e eu pude apreciar o desenvolvimento
de cada aprendiz. Com as turmas criamos cenas com temas distintos que foram
apresentadas nas Ações Culturais ocorridas no CEU Gurapiranga e Cantos do
Amanhecer, depois com o processo mais concretizado apresentaram no Festival Vocacional
e no CEU Feitiço da Vila.
O grupo “Os que titiram o sono” se dividiu em dois coletivos
“Cia Basalto” e “Conectados”, ambos, mesmo após o termino do programa,
estabeleceram comigo laços que se seguiram firmes durante as “férias do
programa”. Os Conectados ganharam o VAI para produzirem o espetáculo chamado
“Sertão Amado” com o texto e musicas criadas pelos vocacionados. Nesse ano de
2013 circularam nos CEUS e apresentaram no Espaço Clariô e agora vão também
participar da festa dos 10 anos de VAI que ocorrerá em dezembro na Olido. O
Grupo Basalto criou uma micro-peça chamada “Carne Seca não da Sopa” e também apresentaram
nos CEU’S e em alguns espaços alternativos além de se apresentaram no Espaço
Clariô , dentro do Sarau do Binho no encerramento da V Mostra de Teatro do
Gueto.
CEU FEITIÇO DA VILA: O diálogo dentro do equipamento tem
sido árduo desde a antiga gestão, como 2012 foi o meu primeiro ano no programa,
observei muito o comportamento dos AO’s das outras linguagens que já estavam no
CEU há mais tempo, e via um diálogo conflitante já naquele período, tivemos
diversas reuniões que começaram a serem resolvidas no final do ano passado.
No começo do programa em 2013, os mesmos problemas afloraram
(pois, como o período de férias é grande, é quase impossível criar um vinculo
duradouro dentro do equipamento) e eu depois da experiência vivida ano passado
mudei meu comportamento, saí do campo da observação e parti para a ação, na
tentativa de minimamente resolver os problemas primários encontrados no
equipamento, mas não tive muitas conquistas e senti com mais força a barreira
que limita a relação entre a gestão do CEU e o projeto Vocacional, pude ver com
clareza o quanto é difícil para o AO isolado com os vocacionados resolver
problemas estruturais do equipamento.
A maior “briga” lá dentro era (e é) para que tivéssemos um
mínimo de estrutura espacial para as orientações, pois as salas não tem teto, e
acabamos por competir de forma desproporcional com o barulho da quadra. O
espaço do redondo também é ruim porque as salas são de vidro e a acústica é
péssima. O teatro seria a única opção viável, porem nós ficamos a mercê de ter
um técnico disponível para acompanhar as atividades. Creio que existe uma má
vontade da coordenação do CEU em ceder o Teatro para as orientações do
programa, mas isso não é revelado de forma clara, o que vejo é que tudo poderia
ser mais tranquilo se houvesse interesse de ambas as partes.
PROGRAMA VOCACIONAL: Esse ano foi de transformação, e não
foi por acaso que ocorram tantas manifestações nas ruas. Esse movimento ao redor reverberou de forma positiva
ao programa, que depois de resistir por diversas fases, hoje se revela muito forte
perante aos programas existentes na cidade. Essa potencia do vocacional, se vê
na ponta, nas orientações, nos encontros, nas ações culturais, no diálogo
político dos vocacionados e tudo isso se desemboca no diálogo ocorrido nas assembleias
das segundas-feiras. Dentro das
assembleias foi conquistado um espaço muito importante de debate em que pudemos
discutir problemas estruturais relacionados ao programa, no intuito de
estabelecer melhores condições de trabalho. Essa ação se fez necessária e deve ser
louvada.
A EQUIPE: Os reuniões artístico-pedagógicas da equipe sul 2 foram potentes no
primeiro semestre. Trocamos experiências que passava pela teoria e pela pratica
através de pensamentos, debates filosofias, exibição de vídeos, filmes, leitura
de textos, artigos etc. Ocorria uma espécie de um “ensaio artístico pedagógico”
de forma colaborativa. Já no segundo semestre as reuniões foram transferidas
para a Olido, porém procuramos manter o diálogo antes do começo da assembleia
no intuito de manter ativa a discussão artístico-pedagógica da equipe.
APOIO PSICOLÓGICO: Tive a oportunidade de trabalhar com uma equipe de psicólogos que
acompanharam o processo criativo da turma de domingo, observaram muito e depois
analisaram cada aprendiz. Para mim foi um prazer ter essa equipe disposta a me
acompanhar com a turma, uma psicóloga chamada Tatiane em um trabalho de
conclusão de curso, precisavava trabalhar com ua grupo e por conta própria
procurou a turma de teatro do CEU Feitiço da Vila, e assim começou, ela se
encantou com o coletivo e chamou uma equipe para continuar com ela o trabalho
iniciado. Essa equipe foi bem acolhida por todos e proporcionou aos
vocacionados uma experiência que talvez eles não tivessem em outro lugar. Muitas
vezes eu começava o trabalho e depois a turma seguia com a equipe por fases que
ia de questionários a pinturas e no final do processo foi entregue um relatório
para cada aprendiz que dizia uma pouco sobre suas inteligências e suas
habilidades. A maioria teve uma
inclinação grande para a arte.
VIVENCIAS
ARTISTICO-PEDAGÓGICAS: Existe autonomia sem conhecimento? Creio que é preciso entender para então
questionar, conhecer para se posicionar e fazer escolhas... Quatro longos meses
de pausa houve dentro do programa, mas o lado criativo despertado lá atrás com
os aprendizes continuou e nesse ano me deparei com diversos questionamentos,
que ano passado não havia sido apontado, tais como:
Quem é esse tal de
Stanislaviski?
O que é uma quarta
parede?
Como faço para elaborar
uma gênese?
O que fazemos é teatro de
Brecht?
O que é quebra?
Hum...
Que tal investigar tudo
isso? Mas me diga uma coisa, o que é
teatro? Qual é o seu teatro?
Qual é a sua Forma e o
seu Conteúdo?
E foi assim que começou a brincadeira. Na EXPERIMENTAÇÃO. A construção
cênica de cada aprendiz traz elementos que carregam em si, tanto sua memória
artística bem como a sua experiência de vida.
Vamos trabalhar temas?
Quais?
Favela, Medo, Romance, Dramaturgia,
Tragédia, Comedia, Mitologia, Moradores de Rua...
De que modo?
Depoimentos, Leituras, poesias,
contos, vídeos, partitura corporal, partitura vocal, imagens, musicas...
E agora? O que fazer
com tudo isso?
Vamos construir um “caderno de bordo” para dar conta de
relatar essas experimentações!
E depois? Fazer escolhas?
NA QUEBRADA foi o nome do experimento de domingo que
teve o tema da FAVELA. Cada vocacionado escolheu seu personagem e a partir
dessa escolha criamos o enredo. Alguns desses personagens nasceram de
experimentos vividos em 2012, outros vieram das observados nas ruas e alguns
partiram da ficção. Depois a brincadeira foi criar uma narrativa que desse
conta da história desses personagens. Muitos problemas dramatúrgicos ocorreram,
mas o grupo sustentou até o fim. Subtemas entraram no enredo como: violência
domestica, drogas, preconceito racial e religião. E desse caldeirão de ideias
criamos cenas que foram apresentadas no final do processo junto com a dança do
Jongo.
O LADO DE CÁ foi o nome do experimento escolhido
da turma de quinta, que para nós se tornou uma micropeça com o tema MORADORES
DE RUA. Durante o processo criativo
assistirmos o filme ESTAMIRA que deu o norte para o experimento. Os personagens
surgiram de observações nas ruas, alguns foram alimentados pelo filme e outros
foram criados pela imaginação do aprendiz. Criamos também uma musica tema para
a peça, um RAP que contava a história dos personagens, a peça atingiu tanto o
público que ficou para o bate-papo mais tempo do que o tempo da própria
encenação. Conversando com os vocacionados, depois da apresentação, vi que o desejo
do coletivo é de continuar com esse processo e apresentar o trabalho em outros
lugares. Creio que é bem possível que isso aconteça, tendo em vista que O LADO
DE CÁ tem uma amarração dramatúrgica muito consistente, mas sabendo que os vocacionados
ainda tem muito que pesquisar.
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