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sábado, 30 de novembro de 2013

ENSAIO GERAL CEU FEITIÇO DA VILA



ENSAIO GERAL CEU FEITIÇO DA VILA – Naloana Lima - 2013 - TEATRO
 
VOCACIONADOS: Estou no equipamento CEU Feitiço da Vila desde 2012. Ano que me deparei com um grupo e duas turmas de adolescentes muito dispostos a embarcar no universo teatral, sem amarras, sem restrições... Vivenciamos diversos experimentos cênicos e eu pude apreciar o desenvolvimento de cada aprendiz. Com as turmas criamos cenas com temas distintos que foram apresentadas nas Ações Culturais ocorridas no CEU Gurapiranga e Cantos do Amanhecer, depois com o processo mais concretizado apresentaram no Festival Vocacional e no CEU Feitiço da Vila.
O grupo “Os que titiram o sono” se dividiu em dois coletivos “Cia Basalto” e “Conectados”, ambos, mesmo após o termino do programa, estabeleceram comigo laços que se seguiram firmes durante as “férias do programa”. Os Conectados ganharam o VAI para produzirem o espetáculo chamado “Sertão Amado” com o texto e musicas criadas pelos vocacionados. Nesse ano de 2013 circularam nos CEUS e apresentaram no Espaço Clariô e agora vão também participar da festa dos 10 anos de VAI que ocorrerá em dezembro na Olido. O Grupo Basalto criou uma micro-peça chamada “Carne Seca não da Sopa” e também apresentaram nos CEU’S e em alguns espaços alternativos além de se apresentaram no Espaço Clariô , dentro do Sarau do Binho no encerramento da V Mostra de Teatro do Gueto. 

CEU FEITIÇO DA VILA: O diálogo dentro do equipamento tem sido árduo desde a antiga gestão, como 2012 foi o meu primeiro ano no programa, observei muito o comportamento dos AO’s das outras linguagens que já estavam no CEU há mais tempo, e via um diálogo conflitante já naquele período, tivemos diversas reuniões que começaram a serem resolvidas no final do ano passado.
No começo do programa em 2013, os mesmos problemas afloraram (pois, como o período de férias é grande, é quase impossível criar um vinculo duradouro dentro do equipamento) e eu depois da experiência vivida ano passado mudei meu comportamento, saí do campo da observação e parti para a ação, na tentativa de minimamente resolver os problemas primários encontrados no equipamento, mas não tive muitas conquistas e senti com mais força a barreira que limita a relação entre a gestão do CEU e o projeto Vocacional, pude ver com clareza o quanto é difícil para o AO isolado com os vocacionados resolver problemas estruturais do equipamento.
A maior “briga” lá dentro era (e é) para que tivéssemos um mínimo de estrutura espacial para as orientações, pois as salas não tem teto, e acabamos por competir de forma desproporcional com o barulho da quadra. O espaço do redondo também é ruim porque as salas são de vidro e a acústica é péssima. O teatro seria a única opção viável, porem nós ficamos a mercê de ter um técnico disponível para acompanhar as atividades. Creio que existe uma má vontade da coordenação do CEU em ceder o Teatro para as orientações do programa, mas isso não é revelado de forma clara, o que vejo é que tudo poderia ser mais tranquilo se houvesse interesse de ambas as partes. 

PROGRAMA VOCACIONAL: Esse ano foi de transformação, e não foi por acaso que ocorram tantas manifestações nas ruas.  Esse movimento ao redor reverberou de forma positiva ao programa, que depois de resistir por diversas fases, hoje se revela muito forte perante aos programas existentes na cidade. Essa potencia do vocacional, se vê na ponta, nas orientações, nos encontros, nas ações culturais, no diálogo político dos vocacionados e tudo isso se desemboca no diálogo ocorrido nas assembleias das segundas-feiras.  Dentro das assembleias foi conquistado um espaço muito importante de debate em que pudemos discutir problemas estruturais relacionados ao programa, no intuito de estabelecer melhores condições de trabalho.  Essa ação se fez necessária e deve ser louvada. 

A EQUIPE: Os reuniões artístico-pedagógicas da equipe sul 2 foram potentes no primeiro semestre. Trocamos experiências que passava pela teoria e pela pratica através de pensamentos, debates filosofias, exibição de vídeos, filmes, leitura de textos, artigos etc. Ocorria uma espécie de um “ensaio artístico pedagógico” de forma colaborativa. Já no segundo semestre as reuniões foram transferidas para a Olido, porém procuramos manter o diálogo antes do começo da assembleia no intuito de manter ativa a discussão artístico-pedagógica da equipe. 

APOIO PSICOLÓGICO: Tive a oportunidade de trabalhar com uma equipe de psicólogos que acompanharam o processo criativo da turma de domingo, observaram muito e depois analisaram cada aprendiz. Para mim foi um prazer ter essa equipe disposta a me acompanhar com a turma, uma psicóloga chamada Tatiane em um trabalho de conclusão de curso, precisavava trabalhar com ua grupo e por conta própria procurou a turma de teatro do CEU Feitiço da Vila, e assim começou, ela se encantou com o coletivo e chamou uma equipe para continuar com ela o trabalho iniciado. Essa equipe foi bem acolhida por todos e proporcionou aos vocacionados uma experiência que talvez eles não tivessem em outro lugar. Muitas vezes eu começava o trabalho e depois a turma seguia com a equipe por fases que ia de questionários a pinturas e no final do processo foi entregue um relatório para cada aprendiz que dizia uma pouco sobre suas inteligências e suas habilidades.  A maioria teve uma inclinação grande para a arte. 

VIVENCIAS ARTISTICO-PEDAGÓGICAS: Existe autonomia sem conhecimento?  Creio que é preciso entender para então questionar, conhecer para se posicionar e fazer escolhas... Quatro longos meses de pausa houve dentro do programa, mas o lado criativo despertado lá atrás com os aprendizes continuou e nesse ano me deparei com diversos questionamentos, que ano passado não havia sido apontado, tais como:
Quem é esse tal de Stanislaviski?
O que é uma quarta parede?
Como faço para elaborar uma gênese?
O que fazemos é teatro de Brecht?
 O que é quebra?
Hum...
Que tal investigar tudo isso?  Mas me diga uma coisa, o que é teatro?  Qual é o seu teatro?  
Qual é a sua Forma e o seu Conteúdo?
E foi assim que começou a brincadeira. Na EXPERIMENTAÇÃO. A construção cênica de cada aprendiz traz elementos que carregam em si, tanto sua memória artística bem como a sua experiência de vida.
Vamos trabalhar temas?
Quais?
Favela, Medo, Romance, Dramaturgia, Tragédia, Comedia, Mitologia, Moradores de Rua...
De que modo?
Depoimentos, Leituras, poesias, contos, vídeos, partitura corporal, partitura vocal, imagens, musicas...
E agora? O que fazer com tudo isso?
Vamos construir um “caderno de bordo” para dar conta de relatar essas experimentações!
E depois? Fazer escolhas?

NA QUEBRADA foi o nome do experimento de domingo que teve o tema da FAVELA. Cada vocacionado escolheu seu personagem e a partir dessa escolha criamos o enredo. Alguns desses personagens nasceram de experimentos vividos em 2012, outros vieram das observados nas ruas e alguns partiram da ficção. Depois a brincadeira foi criar uma narrativa que desse conta da história desses personagens. Muitos problemas dramatúrgicos ocorreram, mas o grupo sustentou até o fim. Subtemas entraram no enredo como: violência domestica, drogas, preconceito racial e religião. E desse caldeirão de ideias criamos cenas que foram apresentadas no final do processo junto com a dança do Jongo. 

O LADO DE CÁ foi o nome do experimento escolhido da turma de quinta, que para nós se tornou uma micropeça com o tema MORADORES DE RUA. Durante o processo criativo assistirmos o filme ESTAMIRA que deu o norte para o experimento. Os personagens surgiram de observações nas ruas, alguns foram alimentados pelo filme e outros foram criados pela imaginação do aprendiz. Criamos também uma musica tema para a peça, um RAP que contava a história dos personagens, a peça atingiu tanto o público que ficou para o bate-papo mais tempo do que o tempo da própria encenação. Conversando com os vocacionados, depois da apresentação, vi que o desejo do coletivo é de continuar com esse processo e apresentar o trabalho em outros lugares. Creio que é bem possível que isso aconteça, tendo em vista que O LADO DE CÁ tem uma amarração dramatúrgica muito consistente, mas sabendo que os vocacionados ainda tem muito que pesquisar.

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