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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

...um mapeamento, um ensaio, um olhar sobre minha experiência: construção de um GPS Vocacional. AO Alda Maria. Vocacional Teatro/leste 3.

...um mapeamento, um ensaio, um olhar sobre minha experiência:
construção de um GPS Vocacional.

Abril e Maio/2013 – Alda Maria Abreu



O encontro, ou melhor, os primeiros encontros com os vocacionados do CEU Azul da Cor do Mar ainda revelavam muito pouco do que estava e do que está por vir. Tenho clareza de que, por enquanto, consigo ver apenas a pequenina ponta do imenso iceberg que se esconde dentro de cada um dos participantes das coletividades que estou experimentando e que irão me acompanhar ao longo deste ano de 2013 junto ao Programa Vocacional.
Nomeio de forma provisória estas coletividades, com a esperança de que o tempo e a experimentação tornem visíveis os desejos criativos que ainda encontram-se escondidos:
...Turma da tarde...
...Turma da noite...
...CEU Azul da Cor do Mar...
...Equipe Leste 3 de Teatro...
... Programa Vocacional...

Debruço-me sobre estas 5 coletividades, considerando a contiguidade entre elas, considerando suas existências em forma de rede. E sob a ótica das tensões e contradições evidentes, habito e componho com estas 5 coletividades, ficando claro que estes espaços-tempo são muito mais do que um conglomerado de pessoas, são muito mais do que espaços institucionalizados ou temporalidades contratuais.

Mas afinal o que são então? O que não fica claro? São coletividades, ou estão sendo? Uma dúvida ontológica...

Este ensaio tem como objetivo primeiro a criação de um GPS Vocacional. Um GPS para o que não está claro, para o que está icógnito, para o que desconheço naquilo que conheço como Vocacional.
Assim como a bússula já foi capaz de orientar a localização espacial de inúmeros aventureiros ao longo dos séculos, atualmente é o GPS a principal ferramenta de orientação para aqueles que desejam aventurar-se por locais desconhecidos.
Tentarei dar corpo a esta metáfora e para isso terei que subverter desde já o significado da sigla GPS. Pois aqui ela está a serviço de nomear um Guia de Pistas/Perguntas para Saberes/Sentidos, ou simplesmente, um GPS Vocacional
Para criar este GPS será preciso materializar perguntas e pistas capazes de guiar os processos de construção de saberes e sentidos artístico-pedagógicos. Na busca desta materialização de perguntas, engendro a partir de agora um permanente exercício de indagação, dúvida e questionamento.      
Ainda sem muita clareza do que virá a ser este “instrumento de orientação”, mas impulsionada pelo desejo de aventurar-me nessas “coletividades/lugares vocacionais” desconhecidos, dou início à criação deste GPS.

O que separa e o que aproxima estes coletivos/lugares? Existe diferença entre a artista-orientadora que transita por estas coletividades? Melhor dizendo, sou a mesma ao experimentar cada um desses universos? Em que medida, ao reconhecer-me estrangeira, forjo uma identidade na busca por aceitação? Como me coloco em experiência junto a cada um desses coletivos e como cada uma dessas alteridades colabora para a efetuação de minha experiência artístico pedagógica?  Qual desejo me move para existir nestes distintos e contíguos “lugares vocacionais”?

Ao encarar minha própria existência como um projeto estético, em permanente tensão com os sentidos e significados já preestabelecidos sobre a vida e o viver, efetivo o exercício cotidiano de um existir que se quer mutante, provisório, em estado de construção. E ao duvidar de minhas crenças mais fervorosas acerca “do que é teatro?”, coloco-as em xeque sob a perspectiva desse estado criativo/construtivo.
Duvidar é o moinho energético desse GPS Vocacional. Mas não se trata de uma dúvida paralisante, mas sim uma dúvida-terremoto, que faz ruir minhas certezas cristalizadas sobre o teatro, sobre a dança, sobre o aprender e o ensinar, reconfigurando em seus destroços novos mosaicos de sentido, a serviço de um projeto estético capaz de produzir “in lócus” possibilidades de experimentações estéticas inesperadas, inconcebíveis, duvidosas.
Irrevogavelmente carrego esse ser-dúvida, esse projeto estético-ético-político para dentro desses “lugares vocacionais”. Afirmo e duvido-me nesses “lugares”, no espaço de fronteira entre eles, nos caminhos percorridos e a percorrer na criação deste GPS Vocacional, que diferentemente dos tradicionais, poderá e deverá promover desvios de rota, destinos surpreendentes e becos sem saída, já que este GPS também deve ser compreendido como um Guia Poético de Subversões.
Lanço-me em perguntas e questionamentos, subverto alguns caminhos conhecidos e tateio outras rotas na construção desses “lugares”, reconstruindo assim o meu próprio fazer dentro deles. Creio que somente ao encarar a existência de cada um desses “lugares” à luz de suas intrínsecas potencialidades estéticas é que será possível construí-los de fato. E criando-os, talvez, eu possa também criar a mim mesma, sem perder de vista que estas “coletividades vocacionais” são da mesma matéria da experiência, portanto, estarão sempre inconclusas, como eu.

“Quais são meus momentos de liberdade? O que eu quero dizer ao mundo? Para que fazer teatro?” As primogênitas indagações que surgiram nas turmas de vocacionados do CEU Azul da Cor do Mar... a pequenina ponta do iceberg, o início de um GPS.

Partindo dessas indagações iniciais, construí perguntas de pesquisa para cada turma. Uma pergunta-motor, uma pergunta-alavanca, uma pergunta-trampolim. E, atravessada pelas diversas instâncias da minha experiência Vocacional, segui este mesmo procedimento e elaborei também perguntas-motores para os demais “lugares vocacionais”, nos quais venho construindo e construindo-me esteticamente desde abril de 2013.


Eis que surge então a primeira versão do GPS Vocacional:

...Turma da tarde...

Como construir junto aos vocacionados convenções cênicas capazes de revelar para o público a existência de múltiplas camadas de ficção? Como criar a lógica dessas convenções a partir de uma vivência estética experimental, para além das convenções tradicionais? Quais convenções performativas engendram este “lugar vocacional”?

...Turma da noite...

Quais vínculos afetivos venho estabelecendo com a turma? Como adentrar nessa coletividade sem vestir a carapuça do professor? Quais procedimentos tenho experiementado para despertar o desejo estético dos vocacionados?

... CEU Azul da Cor do Mar...

Como eu convivo com o fato de “estar estrangeira” nesta comunidade? Como esta comunidade está convivendo com o “estar estrangeiro” do Núcleo de Ação Cultural do CEU?
...Equipe Leste 3 de Teatro...

Como subverter o “planejamento de encontros e ações” por meio deste ato ensaístico?

...Programa Vocacional...


Como suportar a contradição? Como subvertê-la positivamente?

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