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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Exercícios de improvisação gerando composições

Ensaio de Pesquisa – Agosto de 2013
Luís Reys – Coordenador da Equipe Leste 1 de Música Vocacional


Um dos assuntos que envolveu a equipe leste-1 de Música no primeiro semestre de 2013 foi a Improvisação. Este assunto, dentro da música, traz consigo mística, folclores, polêmicas e questionamentos. Há quem diga que não existe improvisação já que ela é previamente e exaustivamente estudada. Outros tendem a encarar a improvisação musical com exemplos únicos e isolados de grandes gênios músicos inventores, o que leva o assunto a um patamar muitas vezes inatingível por alunos e muito distante da realidade da música tocada e executada na atualidade. Existe uma tendência a que sejam apresentadas obras de artistas como Hermeto Pascoal executando sons diferentes em objetos estranhos, instrumentos não-convencionais, e tomar isso como base da Improvisação musical.

             A abordagem que darei a esta questão é a do desenvolvimento de pequenas idéias rítmicas e melódicas extraídas de composições populares. Estas pequenas idéias chamamos de Motivos. Esta abordagem é a mesma usada para atividades e estudos de Composição, desta forma podemos encarar a Composição como sendo um improviso planejado, estudado e escrito, feito passo a passo, e por sua vez a Improvisação seria encarada como uma composição instantânea.

            O aprendizado de improvisação consiste num processo de dois passos: O trabalho preparatório de assimilação do vocabulário musical, e em seguida o próprio ato da improvisação (REEVES, 1989 – Creative Jazz Improvisation). Através da repetição de padrões para desenvolvimento técnico e da apropriação teórica e auditiva do vocabulário musical, o músico terá condições de improvisar sobre temas mesmo que durante o ato da improvisação ele não esteja preocupado com os conceitos teóricos e técnicos (previamente assimilados) e sim com a comunicação espontânea de idéias musicais e interação com outros músicos.

Abaixo descreverei pequenos exercícios, separados por temas, trabalhados em orientações de grupos vocacionados orientados por mim desde 2009 e também nas atividades dos artistas orientadores da Equipe Leste, quando citados.


RITMO

            O ritmo é o aspecto mais importante da improvisação. Não importa quanto inventiva possa ser a melodia ou o acorde, ela será insignificante a menos que seja tocada no tempo com a intepretação correta. (REEVES, 1989) Como podemos lembrar Duke Ellington em sua música: “It don´t mean a thing if it ain´t got that swing”.

            O Artista Orientador Alejandro Lopez costuma utilizar “O PASSO” (método de Educação Musical criado por Lucas Ciavatta em 1996) para trabalhar o ritmo com seus vocacionados. Prática esta que foi incorporada também às orientações do Artista Orientador Tião Bazotti. Os exercícios preliminares consistem em trazer para o corpo a noção do compasso (em um compasso de 4 tempos, a pessoa deve dar passos para frente e para trás formando um quadrado).

           

O Exercício rítmico proposto é o seguinte:

1 ) Apresentação dos “Lugares do Compasso” – Representação no quadro de um compasso quaternário e as possibilidade rítmicas: tempos fortes representados como tempos 1, 2, 3, 4 e contratempos representados como “e do 1, e do 2, e do 3, e do 4” Exercícios cantados a partir de fórmulas apresentadas no quadro.


2a)  Com o corpo marcando o compasso quaternário com os passos, os vocacionados devem cantar semínimas nos 4 tempos. No quadro é apresentada e representada a figura da semínima.
2b) Em seguida, os vocacionados cantam duas colcheias por tempo enquanto marcam o compasso com os passos. São apresentadas no quadro as figuras das colcheias e o conceito de tempo e contratempo.
2c) Os vocacionados devem cantar apenas os contratempos. É representado no quadro a figura da pausa de colcheia no tempo forte, e da colcheia no contratempo.
2d) É proposta a execução de uma combinação de figuras rítmicas. Exemplo que gosto de utilizar é o que posteriormente será usado na atividade harmônica, equivalente ao ritmo de canção pop rock amplamente utilizado na atualidade: Tempo 1 semínima. Tempo 2 duas colcheias Tempo 3 pausa de colcheia e colcheia. Tempo 4 Semínima.

3) Regras de desenvolvimento de Motivo (quadro extraído do livro “Improvisação Moderna, Vol. 1 de Lupa Santiago)

O motivo escolhido será : 1 semínima e duas colcheias (tempos 1 e 2 do exercício 2d)
São apresentados algumas regras de desenvolvimento de motivo e sua utilização:

3 a) Expansão – Cada nota fica com o dobro de seu valor. Semínima vira mínima e colcheias viram semicolcheias.

3b) Contração – Cada nota fica com metade de seu valor.
3c) Redução- É subtraída do motivo uma ou mais notas.
3d) Adição de Prefixo – Adicionada uma nota no início do motivo
3e) Adição de Sufixo – adicionada uma nota ao final do motivo
3f) Adição interna – Adicionada uma nota no meio do motivo
3g) Repetição – O motivo é repetido
3h) Deslocamento – toca-se o motivo em outro lugar do compasso
3i) Inversão – A nota que começava no tempo vira contratempo e vice-versa.
3j) Espelho – O motivo vira duas colcheia e uma semínima.

É pedido que cada vocacionado, ou grupo de vocacionados escolha 2 regras e preencha ritmicamente 8 compassos quaternários. Com outras 2 regras, preencha outros 8 compassos. Esta atividade é feita através da repetição, tentativa e erro, e colocando os resultados escritos no papel.Depois cada vocacionado ou grupo executa cantando sua rítmica resultante.
Com o uso do motivo e as regras de desenvolvimento, a fórmula rítmica soará coerente. É o que se espera de qualquer composição ou improviso. Que não seja somente um monte de idéias e frases jogadas aleatoriamente, mas que tenham forma e coerência.




Exercício Harmônico

Tomando como base o campo harmônico de Dó Maior, é dado os seguintes acordes: C, Dm, Em, F, G, Am. Podemos utilizar acordes de qualquer outro campo harmônico, de acordo com o conhecimento dos vocacionados envolvidos.

Os vocacionados devem testar e escolher os acordes que desejar para completar 8 compassos, que já serão dados com os seguintes compassos preenchidos.

C   /          /          /          /
     /          /          /    G ( C )  /   

Serão apresentados os sinais de Ritornello e de Casa 1 e Casa 2. Este primeiros 8 compassos serão repetidos com o uso do ritornello e o acorde G estará na Casa 1. Na casa 2 estará o acorde C.

Em seguida mais 8 compassos para completar com os seguintes acordes já dados.
Este 8 compassos também terão o ritornello, casa 1 e 2 e a regra que: a) Pelo menos 1 dos acordes deverá durar 2 compassos inteiros e B) Pelo menos 1 compasso deverá conter 2 acordes.

F  /       /        /         /
    /       /        /   C  ( G ) / 

O ritmo sugerido para a execução é a sequência realizada no exercício 2d. Pensando na prática com o violão, esta seqüência pode ser executada tanto como batida quanto como dedilhado.


Exercício Melódico


Para o exercício melódico apresento o conceito de “tensão e relaxamento” ou “tensão e repouso”. À partir de um exercício prático de poucos minutos, é possível que um grupo de pessoas consiga executar e perceber as notas tensas e as notas de repouso de uma escala maior.

Costumo ilustrar o exercício com duas brincadeiras que trazem a atenção das pessoas para o assunto de Tensão e repouso.Primeiro a história de que um “grande compositor” não conseguiu dormir depois que seu filho, brincando no piano, executou a conhecida seqüência “Tan ta ra ran tan” sem a resolver, e que no meio da noite o compositor precisou levantar, ir até o piano e completar “Tan Tan” para que enfim pudesse ter uma noite de bons sonhos. Também peço que as pessoas cantem a escala maior e que parem na nota Fá, e depois parem e segurem a nota Si, e que prestem atenção de que só quando continuamos a escala e chegamos novamente no Dó que teremos a sensação de repouso, ou aquela “vontade de aplaudir”.


Na seqüência, o exercício de Tensão e Relaxamento:

Cantar as notas nesta ordem: 

Fá Mi
Lá Sol
Si Dó (8va acima)
Ré Dó
Si (8va abaixo) Dó

É apresentado o conceito de Tônica e de Sensível (nota si, neste caso).
Após executar o exercício algumas vezes, é pedido que as pessoas tentem cantar notas separadas, escolhidas pelo proponente do exercício. Os resultados deste exercício costumam ser bastante positivas.


Com os três exercícios executados, o próximo passo é pegar aqueles compassos preenchidos de acordes e aquela seqüência rítmica criada a partir dos desenvolvimentos do Motivo e improvisar até compor uma melodia. Este exercício pode ser realizado cantando ou com algum instrumento, e é a parte mais intuitiva deste procedimento. Dependendo do nível de conhecimento dos vocacionados, neste momento pode ser apresentado e colocado em prática os assuntos de arpejos, tríade e tétrades.

Os vocacionados costumam ficar empolgados com o resultado. Uma canção com uma forma definida, 2 partes distintas e seqüência rítmica e harmônica coerente. Como sugestão para continuação da atividade, pode-se pedir que os vocacionados escrevam uma letra ou poema que encaixe nesta melodia e tragam nos próximos encontros. Também pode-se colocar mais regras de conteúdo mais avançado, e também afrouxar as regras deixando que se fique livre da regra do campo harmônico ou das seqüências de oito compassos. Ou seja, improvise a vontade a partir desta atividade.

Bibliografia:

REEVES, Scott D. – “Creative Jazz Improvisation” – 1989 – Prentice Hall, Inc.

SANTIAGO, Lupa – “Improvisação Moderna, Vol. 1” – 2008 – Editora Espaço Cultural Souza Lima

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