Ensaio de Pesquisa – Agosto de 2013
Luís Reys – Coordenador da Equipe Leste 1 de Música
Vocacional
Um dos assuntos que envolveu a
equipe leste-1 de Música no primeiro semestre de 2013 foi a Improvisação. Este
assunto, dentro da música, traz consigo mística, folclores, polêmicas e
questionamentos. Há quem diga que não existe improvisação já que ela é
previamente e exaustivamente estudada. Outros tendem a encarar a improvisação
musical com exemplos únicos e isolados de grandes gênios músicos inventores, o
que leva o assunto a um patamar muitas vezes inatingível por alunos e muito
distante da realidade da música tocada e executada na atualidade. Existe uma
tendência a que sejam apresentadas obras de artistas como Hermeto Pascoal
executando sons diferentes em objetos estranhos, instrumentos
não-convencionais, e tomar isso como base da Improvisação musical.
A abordagem que darei a esta questão é a do
desenvolvimento de pequenas idéias rítmicas e melódicas extraídas de
composições populares. Estas pequenas idéias chamamos de Motivos. Esta
abordagem é a mesma usada para atividades e estudos de Composição, desta forma
podemos encarar a Composição como sendo um improviso planejado, estudado e
escrito, feito passo a passo, e por sua vez a Improvisação seria encarada como
uma composição instantânea.
O
aprendizado de improvisação consiste num processo de dois passos: O trabalho
preparatório de assimilação do vocabulário musical, e em seguida o próprio ato
da improvisação (REEVES, 1989 – Creative Jazz Improvisation). Através da
repetição de padrões para desenvolvimento técnico e da apropriação teórica e
auditiva do vocabulário musical, o músico terá condições de improvisar sobre
temas mesmo que durante o ato da improvisação ele não esteja preocupado com os
conceitos teóricos e técnicos (previamente assimilados) e sim com a comunicação
espontânea de idéias musicais e interação com outros músicos.
Abaixo descreverei pequenos exercícios, separados por temas,
trabalhados em orientações de grupos vocacionados orientados por mim desde 2009
e também nas atividades dos artistas orientadores da Equipe Leste, quando
citados.
RITMO
O ritmo é o
aspecto mais importante da improvisação. Não importa quanto inventiva possa ser
a melodia ou o acorde, ela será insignificante a menos que seja tocada no tempo
com a intepretação correta. (REEVES,
1989) Como
podemos lembrar Duke Ellington em sua música: “It don´t mean a thing if it
ain´t got that swing”.
O Artista Orientador
Alejandro Lopez costuma utilizar “O PASSO” (método de
Educação Musical criado por Lucas Ciavatta em 1996) para trabalhar o ritmo com
seus vocacionados. Prática esta que foi incorporada também às orientações do
Artista Orientador Tião Bazotti. Os exercícios preliminares consistem em trazer
para o corpo a noção do compasso (em um compasso de 4 tempos, a pessoa deve dar
passos para frente e para trás formando um quadrado).
O Exercício rítmico proposto é o seguinte:
1 ) Apresentação dos “Lugares do
Compasso” – Representação no quadro de um compasso quaternário e as
possibilidade rítmicas: tempos fortes representados como tempos 1, 2, 3, 4 e
contratempos representados como “e do 1, e do 2, e do 3, e do 4” Exercícios cantados a partir
de fórmulas apresentadas no quadro.
2a) Com o corpo marcando o compasso quaternário
com os passos, os vocacionados devem cantar semínimas nos 4 tempos. No quadro é
apresentada e representada a figura da semínima.
2b) Em seguida, os vocacionados
cantam duas colcheias por tempo enquanto marcam o compasso com os passos. São
apresentadas no quadro as figuras das colcheias e o conceito de tempo e
contratempo.
2c) Os vocacionados devem cantar
apenas os contratempos. É representado no quadro a figura da pausa de colcheia
no tempo forte, e da colcheia no contratempo.
2d) É proposta a execução de uma
combinação de figuras rítmicas. Exemplo que gosto de utilizar é o que
posteriormente será usado na atividade harmônica, equivalente ao ritmo de
canção pop rock amplamente utilizado na atualidade: Tempo 1 semínima. Tempo 2
duas colcheias Tempo 3 pausa de colcheia e colcheia. Tempo 4 Semínima.
3) Regras de desenvolvimento de
Motivo (quadro extraído do livro “Improvisação Moderna, Vol. 1 de Lupa
Santiago)
O motivo escolhido será : 1 semínima e duas colcheias
(tempos 1 e 2 do exercício 2d)
São apresentados algumas regras de desenvolvimento de motivo
e sua utilização:
3b) Contração – Cada nota fica com metade de seu valor.
3c) Redução- É subtraída do motivo uma ou mais notas.
3d) Adição de Prefixo – Adicionada uma nota no início do
motivo
3e) Adição de Sufixo – adicionada uma nota ao final do
motivo
3g) Repetição – O motivo é repetido
3h) Deslocamento – toca-se o motivo em outro lugar do
compasso
3i) Inversão – A nota que começava no tempo vira contratempo
e vice-versa.
3j) Espelho – O motivo vira duas colcheia e uma semínima.
É pedido que cada vocacionado, ou grupo de vocacionados
escolha 2 regras e preencha ritmicamente 8 compassos quaternários. Com outras 2
regras, preencha outros 8 compassos. Esta atividade é feita através da
repetição, tentativa e erro, e colocando os resultados escritos no papel.Depois
cada vocacionado ou grupo executa cantando sua rítmica resultante.
Com o uso do motivo e as regras de desenvolvimento, a
fórmula rítmica soará coerente. É o que se espera de qualquer composição ou
improviso. Que não seja somente um monte de idéias e frases jogadas
aleatoriamente, mas que tenham forma e coerência.
Exercício Harmônico
Tomando como base o campo harmônico de Dó Maior, é dado os
seguintes acordes: C, Dm, Em, F, G, Am. Podemos utilizar acordes de qualquer
outro campo harmônico, de acordo com o conhecimento dos vocacionados
envolvidos.
Os vocacionados devem testar e escolher os acordes que
desejar para completar 8 compassos, que já serão dados com os seguintes
compassos preenchidos.
C / / / /
/ / /
G ( C ) /
Serão apresentados os sinais de Ritornello e de Casa 1 e
Casa 2. Este primeiros 8 compassos serão repetidos com o uso do ritornello e o
acorde G estará na Casa 1. Na casa 2 estará o acorde C.
Em seguida mais 8 compassos para completar com os seguintes
acordes já dados.
Este 8 compassos também terão o ritornello, casa 1 e 2 e a
regra que: a) Pelo menos 1 dos acordes deverá durar 2 compassos inteiros e B)
Pelo menos 1 compasso deverá conter 2 acordes.
F / /
/ /
/ /
/ C ( G ) /
O ritmo sugerido para a execução é a sequência realizada no
exercício 2d. Pensando na prática com o violão, esta seqüência pode ser
executada tanto como batida quanto como dedilhado.
Exercício Melódico
Para o exercício melódico apresento o conceito de “tensão e
relaxamento” ou “tensão e repouso”. À partir de um exercício prático de poucos
minutos, é possível que um grupo de pessoas consiga executar e perceber as
notas tensas e as notas de repouso de uma escala maior.
Costumo ilustrar o exercício com duas brincadeiras que
trazem a atenção das pessoas para o assunto de Tensão e repouso.Primeiro a
história de que um “grande compositor” não conseguiu dormir depois que seu
filho, brincando no piano, executou a conhecida seqüência “Tan ta ra ran tan”
sem a resolver, e que no meio da noite o compositor precisou levantar, ir até o
piano e completar “Tan Tan” para que enfim pudesse ter uma noite de bons
sonhos. Também peço que as pessoas cantem a escala maior e que parem na nota
Fá, e depois parem e segurem a nota Si, e que prestem atenção de que só quando
continuamos a escala e chegamos novamente no Dó que teremos a sensação de
repouso, ou aquela “vontade de aplaudir”.
Na seqüência, o exercício de Tensão e Relaxamento:
Cantar as notas nesta ordem:
Dó
Fá Mi
Lá Sol
Si Dó (8va acima)
Ré Dó
Si (8va abaixo) Dó
É apresentado o conceito de Tônica e de Sensível (nota si,
neste caso).
Após executar o exercício algumas vezes, é pedido que as
pessoas tentem cantar notas separadas, escolhidas pelo proponente do exercício.
Os resultados deste exercício costumam ser bastante positivas.
Com os três exercícios executados, o próximo passo é pegar
aqueles compassos preenchidos de acordes e aquela seqüência rítmica criada a
partir dos desenvolvimentos do Motivo e improvisar até compor uma melodia. Este
exercício pode ser realizado cantando ou com algum instrumento, e é a parte
mais intuitiva deste procedimento. Dependendo do nível de conhecimento dos
vocacionados, neste momento pode ser apresentado e colocado em prática os
assuntos de arpejos, tríade e tétrades.
Os vocacionados costumam ficar empolgados com o resultado.
Uma canção com uma forma definida, 2 partes distintas e seqüência rítmica e
harmônica coerente. Como sugestão para continuação da atividade, pode-se pedir
que os vocacionados escrevam uma letra ou poema que encaixe nesta melodia e
tragam nos próximos encontros. Também pode-se colocar mais regras de conteúdo
mais avançado, e também afrouxar as regras deixando que se fique livre da regra
do campo harmônico ou das seqüências de oito compassos. Ou seja, improvise a
vontade a partir desta atividade.
Bibliografia:
REEVES,
Scott D. – “Creative Jazz Improvisation” – 1989 – Prentice Hall, Inc.
SANTIAGO, Lupa – “Improvisação Moderna, Vol. 1” – 2008 – Editora Espaço
Cultural Souza Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário