Páginas

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Mapeamento. AO André Blumenschein. Vocacional Teatro/leste 3.

Mapeamento_André_Centro_de_Formação_Cultural_Cidade_Tiradentes_abril_2013

 






















A: Minha casa:  Rua Tucuna, 824, Vila Pompeia, São Paulo, SP
B: Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes  Av. Inácio Monteiro nº 6900 – COHAB Barro Branco II – Cidade Tiradentes, São Paulo, SP

*      À  pé: 6,0 km, 7 horas 29 mins

*      Autocarro Metropolitanohttps://maps.gstatic.com/mapfiles/transparent.png  De transporte coletivo: 2 horas 8 mins

*       De carro: 45,3 km, 51 mins

Ontem, fui direto do encontro com a turma de sábado para a Livraria Cultura no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, para assistir ao espetáculo Azirilhante, de minha amiga, a atriz Flávia Melman Xaxa. No início deste trajeto, andei até um ponto de ônibus que ainda não conhecia e peguei a lotação Barro Branco II até o metrô Itaquera, o que durou cerca de 40 minutos. Na caminhada até o ponto, ainda dentro dos limites do Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, eu encontrei um casal namorando, crianças jogando bola em um cercado de areia, mães, meninos empinando pipa, jovens fazendo manobras de skate em uma pista, que eu acho bem legal, um bebedouro vazando com uma torneira aberta. Já na rua, um sábado à tarde, pessoas em descontração, um trio de louras tingidas trajando shortinhos provocantes, churrasquinhos na calçada, pequeno comércio ainda aberto, movimento, bares cheios, pinga, cigarros, funk em som alto. Lembrei-me dos meus vocacionados. Pretendo sair com eles para estes lugares na vizinhança.
Meus pensamentos: “Tarde de sábado agradável...” “Esse Centro Cultural podia estar mais cheio.” “Será que esses meninos estão usando cerol na linha das pipas que empinam? Melhor ficar atento.” “Quem será que deixou esta torneira aberta? Que falta de cuidado, desprezo pelo que é público. Onde estão os vigias? Eles não viram isso?” “Os skatistas estão me notando? É bonito vê-los nas manobras radicais, eles são bonitos.” “Essas três loiras estão iguaizinhas, com o mesmo cabelo, vestidas de forma igual. Será que a mais velha é mãe das outras duas? Elas estão se insinuando pra esses rapazes...” “Quanto churrasco, que fumaceira!” “Vontade de tomar uma pinga... Tô com o estômago vazio.” “Como vou sair com os vocacionados por aqui? Separados em grupos? Alguns são menores de idade e estarão sob minha responsabilidade.”
Parei em uma padaria, pra comprar um biscoito. Conversei com a moça do caixa, sobre que horas eles fechavam o estabelecimento. Expliquei que trabalhava no Centro Cultural e que pretendia ir até lá para esperar a condução, nas quartas à noite, pois o ponto lá de baixo era muito vazio, por volta das 22. Ela me respondeu que é bom estar atento, ainda mais uma pessoa que eles acham que tem dinheiro. “Eu pareço alguém que tem dinheiro? Tô destoando no ambiente?”
No trajeto de ônibus, observei a paisagem, ao som de canto lírico nos fones do meu celular, que estava sintonizado na rádio Cultura. “Será que a rádio Cultura toca funk?” “Quantos prédios iguais, não há casas bonitas.” “Ah, esse é o Mercado Negreiros, que os vocacionados comentaram...” “Parece que estou numa cidade do interior.”
“O Extra, será que os preços são os mesmos?”
“Outro Habib´s?” “Mac Donalds.” Cheguei à Estação Itaquera.
Na outra ponta do meu itinerário, os Jardins, as ruas próximas à Avenida Paulista. Eu senti o forte contraste. Repeti o sentimento de muitos: um outro mundo, na mesma cidade... Na calçada da avenida, quase na esquina com  a Rua Augusta, um pequeno pedaço de piso de linóleo, onde quatro jovens bailarinas, vestidas com tutu, saia de balé clássico, dançavam na ponta dos pés, ao som de uma música da Adele. Uma delas, bem compenetrada, com a cara sofrida, parecendo que ela achava que aquela sua feição trazia seriedade para sua interpretação. Outras duas pareciam constrangidas, envergonhadas, riam no meio da cena, como acontece com alguns dos vocacionados, em alguns exercícios. “Devem ser de alguma Academia de dança. Não devem ter onde se apresentar, estão se virando aqui na rua. Aquelas senhoras devem ser as professoras. Quem será que optou por Adele?”
Finalmente, dentro da sala Eva Herz, a atriz Xaxa entra em cena para apresentar seu trabalho solo Azirilhante. Ela está segura, sua voz e corpo preenchidos. “Será que consigo com que os vocacionados estejam neste estado? Claro que sim, mas o tempo de treinamento é curto... Preciso leva-los ao teatro.“
Ontem, descobri que cerca da metade dos vocacionados dessa turma de 21 integrantes que apareceu no encontro de sábado nunca foi ao teatro. A iniciativa de fazer essa pesquisa não foi minha e sim de um Vocacionado, o Welisson. Fiquei surpreso e intrigado. Como deve ser para essas pessoas vir para nossos encontros, participar das propostas sugeridas, sem nunca terem assistido à uma peça na vida? Entretanto, é preciso aprofundar essa informação, já que a enquete foi feita de maneira rápida, no final do encontro, e depois que outro vocacionado, Manoel, me revelou que realmente nunca tinha ido a um teatro de verdade, só no teatro do CEU. “O teatro do CEU não é teatro de verdade?”
Observando que só obtive essa informação sobre frequência ao teatro, porque um vocacionado se interessou e lendo o mapeamento do Herbert, sinto que preciso planejar tempo para saber mais deles em nossos encontros. Analisando, agora, a lista de presença, consigo me lembrar de cada um pelo nome, mas é preciso mais. Pode ser que os encontros estejam recheados de propostas e faltem momentos de decantação. É claro que ainda foram poucos, mas já deu pra isso me chamar a atenção. Nos primeiros encontros de alguns deles, fizemos uma pequena entrevista com alguns deles, na qual eles descreveram seu dia anterior. A partir daí, selecionamos alguns acontecimentos descritos para levar à cena. Pretendo voltar e usar mais esse procedimento, quem sabe com todos os integrantes, inclusive comigo no centro da roda.

Bem, a turma de quartas à noite teve apenas dois encontros, com a frequência de sete, no primeiro dia, e dez, no segundo. Dela, participam vocacionados entre 11 e 24 anos. Está difícil lidar com esses mais jovens, o de onze e outros de 14. Não param de falar, não respeitam totalmente os acordos firmados. Eles minaram minhas energias na quarta retrasada. Já de cara, senti que o horário das 18h30 às 21h30 é tarde, já tem feito frio e o Centro Cultural parece um prédio fantasma. Nem os coordenadores estavam lá, quando terminei esses encontros. Vamos ver como as coisas se sucedem.

A turma de sábado é maior, média de 20 por encontro, com idades que vão de 14 a 45 anos. Sinto que eles estão mais sintonizados entre si.

A verdade é que a disponibilidade deles me emociona e, de certa forma me aflige, ao aumentar minha responsabilidade. Lendo as boas provocações do Primeiro movimento(?) Ensaiando-me: ensaio mapeamento, ensaio dúvidas, ensaio visões., em alguns momentos, fiquei preocupado comigo mesmo.(rs) O fato é que estou instaurando uma rotina, Penso em trabalhar com os artistas vocacionados, para que eles gostem, para que eles voltem. É necessário, neste momento, um espaço para instauração/percepção de crise (entendida aqui não no seu sentido reativo, niilista, negativo)? O que é ‘alegria banal’? Existe uma ‘alegria excêntrica’? Tenho receio de que a manutenção do ‘gostoso’ não seja possível para a instauração de processos criativos emancipatórios.


Segue minha carta de pretensões, na inscrição do Vocacional 2013:

Pretendo que o primeiro passo no processo seja dado no sentido de reconhecimento e sensibilização do corpo. Ressalto ser o caso de um reconhecimento, pois independente da idade, nunca chegamos ao fim do conhecimento de nosso próprio corpo, há sempre novos espaços corporais a serem conquistados. O trabalho com o corpo libera a mente, o que deve contribuir com desarmar idéias e expectativas pré-concebidas, bem como com a abertura para irrupção de novas experiências ou de visões diferentes daquelas que estamos acostumados a ter da vida, da cena, do teatro e seus meios de produção. Na sensibilização pretendida, seguirei os passos que experimentei sob a condução de Cristiane Paoli Quito: os olhos/olhar, o coração, a coluna vertebral e os calcanhares, e suas interligações. Estimularei a relação dos corpos dos indivíduos em três níveis: com o próprio corpo, com o corpo do outro (aquele que é meu parceiro da sala de encontro do Vocacional, o artista vocacionado, e também aquele que encontro fora dali, em casa, no equipamento, no trabalho, na rua e no cotidiano), e com o espaço físico também da sala, do equipamento onde ocorrem os encontros, do bairro e da cidade. Aí, penso na reflexão do estado cênico, baseado no texto que me foi apresentado por Francisco Medeiros, O Corpo Cênico e o Espaço Cênico, de Eleonora Fabião: “No palco não há imunidade. O olhar é palpação, o movimento ação, e ser, relação... A cena, portanto, não se dá “em”, mas “entre,” ela funda um entre-lugar.”
Em uma fase seguinte, penso em intensificar a relação com o que acontece fora das salas de encontro, lançando mão de experiências vividas pelos surrealistas, companheiros de André Breton, na Paris dos anos 20 do século passado, e por brasileiros, como Roberto Piva e Wesley Duke Lee, um pouco mais tarde, meados do séc. XX, na cidade de São Paulo. Vejam bem, não imporei a estética surrealista, mas tentarei usar como instrumento o que eles chamavam de acaso objetivo, que eram episódios de deambulo pela cidade, perambulando dentro de estipulados espaços geométricos das coincidências, que resultaram em diálogos poéticos com os espaços públicos. Pretendo estimular e verificar se aí virão respostas à realidade que vivemos e refletir sobre os tipos de resposta que surgirão, as diferentes formas para determinados conteúdos, além de testar a recepção destas, buscando que nos aprofundemos no estudo, reconhecimento e percepção diferentes símbolos que compõem a cena, a comunicação por meio do teatro. Assim, creio que acompanharei os caminhos dos artistas vocacionados, trilhando os meus como mestre ignorante, pois o encontro do meu corpo com os deles e os deles entre si, e com os outros é sempre um território surpreendente e inexplorado para todos. E da relação com o exterior, que mistérios nos reservará o acaso? “Benditas coisas que eu não sei, os lugares onde não fui, os gostos que não provei, meus verdes ainda não maduros, os espaços que ainda procuro.” (Zélia Duncan para Martinália)


Acredito que iniciei o trabalho pela sensibilização do corpo, como desejava, e é aí que sinto que instituo uma rotina. Parece que eles estão se envolvendo com isso. Há pistas no diário de bordo, que já está na ativa, como forma de protocolo, em ambas as turmas.

Segue um breve currículo meu:
André Blumenschein, 47 anos, formou-se em Engenharia Agronômica, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da USP, em 1989. Foi no campus da ESALQ que participou da Oficina Permanente de Teatro do TUSP, sob direção de Gustavo Trestini e Simoni Boer, que resultou no espetáculo "Macunaíma", adaptação para teatro de rua da obra de Mario de Andrade, da qual participou como ator.
No final dos anos 90, ingressou na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP), onde concluiu o curso de Bacharelado em Teatro, com especialização em interpretação. Em 2007, foi idealizador, realizador e ator da adaptação para o teatro do romance "Como me Tornei Estúpido", de Martin Page, por Fernando Bonassi e direção de Beth Lopes. Em 2008, foi bolsista de interpretação do Centro de Aperfeiçoamento Teatral (CAT) da Funarte, sendo selecionado entre 1500 artistas de todo o País, e que teve como resultado final a montagem de "Os Possessos", baseada no romance homônimo de Dostoyévski, dirigida por Antonio Abujamra.
Entre 2009 e 2011, participou como ator dos seguintes espetáculos: "Réquiem", de Hanoch Levin, direção de Francisco Medeiros, e "Escuro", dramaturgia de direção de Leonardo Moreira. Entre 2001 e 2004, foi monitor e coordenador do Projeto Formação de Público para o Teatro,e desde 2008 é artista orientador do Projeto Teatro Vocacional, ambos da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. 
Seguem informações e grandes expectativas do Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (fonte: site da Prefeitura):
“A área total construída é de 7.300 metros quadrados e o espaço é dividido em 4 pavimentos, sendo que no térreo estão instaladas a biblioteca, o centro de memória e o cinema. No primeiro andar, funciona o laboratório de literatura e línguas, o salão de exposições, um terraço e o telecentro. O segundo andar terá ateliês de artes visuais e jardim interno e, no último andar, salas de formação técnica, laboratório multimídia, teatro. A área externa terá um jardim, quadra poli-esportiva, pista de skate, playground, áreas de convivência e anfiteatro.

Foram investidos R$ 21,6 milhões nas obras do Centro, iniciadas em maio de 2009. A Prefeitura de São Paulo investiu cerca de R$ 18 milhões e recebeu apoio do Governo do Estado, cujo aporte foi de R$ 3 milhões. A cooperação entre a região Ile-de-France e São Paulo iniciou-se em 2004 e contemplou ações com ênfase em áreas como administração pública, meio ambiente e saúde. O projeto do Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes, de autoria dos arquitetos da Secretaria Municipal de Cultura, José Rollemberg Filho e Lara Melo e Souza, foi apresentado e aprovado pela região Ile-de-France em 2006. O apoio da francês foi de aproximadamente R$ 800 mil.

O Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes promoverá cursos modulares de formação técnica em profissões ligadas à arte e à cultura, podendo abranger cursos em áreas como cenografia, iluminação, sonoplastia, moda, figurino, serigrafia, música, dança, teatro, literatura, artes circenses, artes visuais, audiovisual, animação, cultura digital, entre outros. Haverá, ainda, espaço para cursos e atividades formativas relacionadas à língua portuguesa e a línguas estrangeiras.

Demanda Histórica: A existência de um equipamento cultural em uma das regiões mais carentes da cidade é uma demanda histórica da população. Além de oferecer infraestrutura para o desenvolvimento de atividades nas áreas de leitura, teatro, cinema, circo e artes visuais, algumas características inéditas deste novo equipamento público estão em sintonia com reivindicações locais identificadas pela Secretaria Municipal de Cultura na concepção do projeto.

O Centro de Formação Cultural também abrigará um Centro de Memória que vai desenvolver atividades de pesquisa, além da constituição de acervo e documentação da história do bairro. O Centro de Memória deverá promover atividades como debates e seminários referentes ao assentamento urbano, à produção cultural local, à situação ambiental, ao trabalho e à vida social da comunidade, formando um acervo de cultura material e imaterial. As ações de pesquisa e produção da memória deverão ser difundidas por meio eletrônico e impresso e dedicar especial atenção à cultura afro-brasileira, um traço importante da expressão local.

Outra característica importante é a interface com os Direitos Humanos, que terá espaço destacado na primeira biblioteca pública do distrito, que será temática nesta área. Além de oferecer acervo de livros comum a todas as unidades do Sistema Municipal de Bibliotecas, disponibilizará um acervo específico sobre este tema, dando continuidade ao programa de Bibliotecas Temáticas iniciado em 2006 e que já conta com outras 8 unidades na cidade, com temas como Literatura Fantástica e Cinema. A biblioteca dispõe de acervo de livros em braile, voltado para os usuários com deficiência visual, espaço específico para crianças e uma filmoteca. “

No que diz respeito ao equipamento, encontrei gente muito disposta a trabalhar e contribuir com o Programa Vocacional.

André, 05 de maio de 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário