Páginas

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

II Mapeamento. AO Herbert Henrique. Vocacional Teatro/leste 3.

São Paulo, 14 de Maio de 2013

2º Mapeamento Herbert - CEU Agua Azul

Processo em andamento, processos em andamento, múltiplos processos em andamento. Processos corporais, processos biológicos, processos de encontro, processos de construção do encontro, processo de construção de si, processo coletivo, processos com os pequenos coletivos dentro do grande coletivo, processo de construção de relação com o espaço, processo de autonomia e emancipação, processo de ação cultural, processo pedagógico, processo(s) artístico(s).
Eu processo, tu processas, ele processa, nós processamos, vós processais, eles processam.
...
Processando...
...
Processo de Construção da Relação AO AV ou Relação entre artistas

Nas turmas que oriento observando a teia de relações e poderes constituída, lanço nesse momento olhar para uma em especifico, a relação Artista Orientador Artista Vocacionado. Nessa, percebi que os Artistas Vocacionados estabelecem comigo a relação professor e aluno. Culturalmente, ao menos na subjetividade a mim ali apresentada, o professor é visto como o que detem o conhecimento e o aluno o que não o detem, e deve se manter passivo diante daquele. Essa subjetividade apaziguava ou freava os múltiplos processos e imaginários que estavam acontecendo ali naquele momento, dando a mim o poder de ditar a trajetória a ser traçada. Nesse território eu poderia ensina-los os meus conhecimentos e guia-los para um grau de compreensão, em um imaginário meu, eu sou o professor de teatro e tenho a verdade.

Cito um exemplo. Há alguns dias quando fui visitar um grupo chamado Os Moisézes, constituído na orientação do ano passado. Poucos ali me conheciam, apenas o Felipe, Geovani, Denis e Anna Lygia.
Felipe me buscou em um ponto de encontro e me levou até lá onde todos estavam. Chegando ao espaço me encontrei com pessoas conversando e brincando umas com as outras, vivazes. Um dos meninos que não me conhecia fez até uma brincadeira com meu nome. Todos riram. Na roda todos conversavam sobre o processo e davam sua opinião. Passado algum tempo estávamos em uma roda de apresentação, um a um falando a oque veio. Ao chegar minha vez me apresentei como Artista Orientador do Programa Vocacional Teatro. Palavras magicas que transformaram de vez aquele universo anteriormente instaurado. 

Instantaneamente aquele menino que tinha brincado com meu nome esmoreceu, como se tivesse falado uma besteira com a pessoa errada. Gerou-se um silêncio por parte daqueles que não me conheciam, um certo constrangimento, um estado de atenção e seriedade e cuidado com as palavras. Ali eu comecei a ser olhado como diferente, o professor.

Mas oque se processa quando tentamos tirar do centro essa figura de poder? Quando não há um único deus, mas múltiplos deuses que em conjunto constroem múltiplas realidades? Possíveis realidades sui generis dentre as infinitas e infinitas. Para isso me coloquei em processo de construção dessa relação, buscando suavizar esse olhar de detentor do conhecimento. Fui selecionando os passos necessários a serem dados. Tracei estratégias para trazerem as múltiplas vozes e imaginários ali presentes e fazer com que esses contribuíssem para a construção desse espaço. Em constantes diálogos busquei romper a relação de ditador para a de parceria, expondo minhas pretensões e dialogando para a construção conjunta daquele espaço de troca. Na escrita parece que isso foi o paraíso e correu tranquilamente. Ledo engano, pois lidar com o doloroso processo de desconstrução de meus saberes, se abrir para a incerteza aterradora do que poderia vir, construir passo a passo no aqui agora tendo que escolher um caminho dentre os vários apresentados sem a certeza de que isso dará certo ou errado eram tarefas nada fáceis a priori, mas pouco a pouco vou tentando pegar a mão desse tipo de condução. A todo o momento me colocando na posição de questionador, perguntas e mais perguntas surgindo e me exigindo à urgência de uma ação. O dilema Hamiletiano ser ou não ser não da conta, pois os caminhos apresentados não eram apenas dois, mas vários.
Ainda estou nessa trajetória homérica e as perguntas não param de surgir. Qual o próximo passo a ser dado? Meus procedimentos não dão conta de abarcar essa turma, quais novos procedimentos posso inventar? Essa turma é grande, tem 30 pessoas, como dar conta desses diferentes imaginários? Existe uma grande heterogeneidade e deferentes parcerias sendo realizadas, seria interessante fomentar a criação de um único grupo ou a criação de mais de um grupo? Mas eu que tenho que dizer isso ou seria interessante que esses mesmos se auto organizassem na busca de realizarem suas próprias parcerias? A roda de apreciação é redutora e sintetizadora da potência apresentada no encontro e nas criações, essa é necessária, será necessária a reinvenção dessa apreciação, se sim qual?...?...?...?...

Observando a configuração atual dessa turma vejo pessoas bastante propositivas, que se auto organizam e entrando em dialogo, e sedentas por criação. Possuem um imaginário rico que surpreende criação após criação. É lógico que sou suspeito para falar e diversas são as características que se apresentam. Por outro lado existe ainda um imaginário presente em alguns de que existe uma forma certa e única de se fazer teatro, a do palco plateia, da personagem, da historinha, e essa de certa forma constrange em dados momentos as experimentações e descola o olhar do processo como a possibilidade de descoberta da forma para o processo como as fases de assimilação de uma forma pré-estabelecida. Percebo que múltiplos processos estão acontecendo, processos de diferentes naturezas. Um passos que estou tentando constituir é fomentar o desenvolvimento de um ou vários processo(s) de criação(ões), que possivelmente possa desembocar em um ou vários produto(s) estético(s).

Processo de construção da relação com a Ação Cultural

Quando cheguei ao equipamento existia um atrito quanto à utilização do espaço.  No primeiro encontro utilizei uma sala nada favorável, que vazava sons externos, fria, com condições hostis a um processo artístico. Ao solicitar a coordenação à utilização do teatro, os mesmos revelaram uma preocupação de edições passadas, onde havia muita bagunça e depredação do espaço, oque inviabilizou o acontecimento dos encontros no teatro. Em uma conversa tentando contornar a situação embarquei novamente em um processo de desconstrução das relações, onde pelo lado do coordenador se estigmatizou a figura dos vocacionados e pelo lado dos vocacionados havia de fato alguns momentos de descaso na utilização do espaço.

Em alguns momentos nessas turmas por parte de alguns AVs percebi a presença de uma relação de descaso com o espaço público, análogo ao acontecido em escolas públicas. Ensaiei uma reflexão sobre isso e me permitirei errar um pouco nessa escrita: Culturalmente existe ali uma relação de não pertencimento e apropriação da coisa pública, talvez por abandono social. Essa relação com a coisa pública, no caso o espaço público, necessitava ser construída. Não estou falando que todos zoneavam o espaço, de forma alguma, mas a maioria desconhecia as possibilidades de utilização de um espaço público. Juguei necessária à construção dessa relação para fomentar a autonomia, já que futuramente esses terão que se relacionar com esses espaços sem a presença do AO.

Consegui conquistar a confiança do coordenador e os encontros passaram a ser no teatro. Quanto aos vocacionados em alguns momentos busquei expor minhas preocupações na utilização do espaço e estabeleci uma relação de parceria no zelo pelo mesmo. Visto que os acordos estavam acontecendo vi nessa uma oportunidade de aproximar o coordenador ao AV. Convidei-os para em um encontro se apresentarem, falar sobre o espaço, sua utilização. Para os coordenadores queria que eles vissem que a turma estava disposta a cooperar e por outro queria começar uma relação direta de dialogo entre AV e coordenadores para ações em parceria e o fomento da autonomia quanto à utilização do espaço. No momento da visita dos coordenadores ao encontro fiquei surpreso em ver a curiosidade e a participação ativa no dialogo. Os AV perguntaram sobre como utilizar o espaço, se podiam solicitar para apresentar alguma coisa, e até se poderiam tirar fotos dos encontros e fazerem uma apresentação dessas fotos no futuro projetando no telão. Nesse momento vi que a questão é era a falta de dialogo entre ambas as partes.

 Natanael, um AV, buscava em vários momentos zonear e em um momento deu um puxam na corda que manipulava a cortina. Nesse momento conversei diretamente com o Natanael sobre como ele tinha quebrado o acordo feito anteriormente. Foi disciplinador? Não vejo dessa forma, foi uma conversa e busquei expor para ele que aquele ato poderia prejudicar não só a ele, mas também o coletivo e o levei a perceber a responsabilidade que todos coletivamente estávamos partilhando naquele espaço. 
Posteriormente a isso em um exercício de confiança, percebi nele uma dificuldade de ser responsável pelo outro. Percebi que ele não havia praticado essa habilidade e seria fundamental que exercitasse isso para perceber como ter essa corresponsabilidade coletiva. Alguns dias se passaram e me surpreendi com duas atitudes dele, uma foi no final do encontro trazer a mim alguns objetos esquecidos por outra pessoa e nesse mesmo dia ele me ajudou sem eu pedir a apagar as luzes do espaço. Foram gestos banais, mas que para mim evidencia o processo que Natanael passou e a diferente relação que foi criada com o espaço.

A questão sobre a liberdade fomentada em momentos nas reuniões pedagógicas fez-me lançar reflexões em relação a essas situações. Fiz-me as seguintes perguntas. Natanael e outros que participavam dessa turma eram de fato livres para zonear, mas será que eles tinham consciência o quanto os atos deles interferiam coletivamente? Será que esse estado de liberdade não requer também a responsabilidade com o outro por parte do individuo? Em relação à autonomia, caso eu escolhesse não chamar a atenção de Natanael e de outros quanto a suas ações e refleti-las, não estaria nesse movimento de certa “solidariedade” não possibilitando que ele perceba a responsabilidade que tinha? Pior, não estaria sustentando uma relação assistencialista a qual eu vejo o outro como coitado e incapaz de perceber seus atos? Vejo nesse momento de reflexão a possibilidade de exercício de autonomia, esses construindo a possibilidade de utilização do espaço sem a necessidade do AO.

Nesse quesito da ação cultural percebo nesse momento reverberações desse movimento. Em vários momentos surgem novas pessoas e algumas dessas ainda vem nesse espirito de zonear. Mas as relações que foram construídas da turma com o espaço acabam por sufocar essas ações, me parece que ali se construiu uma cultura de corresponsabilidade quanto a isso. Também surgiu a necessidade de alguns de participarem mais ativamente no dialogo com a coordenação e a gestão do espaço, surgindo proposições de tentar aproximar a comunidade do CEU, construir a relação do CEU como um espaço onde se desenvolve cultura e arte e não, como na fala de Felipe, o CEU visto como uma escola grande, e até a proposição de um evento onde a turma compartilharia seu processo com a comunidade e a convidaria a criar conjuntamente. Pensamentos que atualmente estão sendo gestados.

Resíduos

Como Artista Orientador possuo uma vantagem dentro de uma realidade estabelecida a qual o professor é aquele que detem o conhecimento e o aluno é aquele que não o detem, sendo passível de aprender com o seu professor, o deus do conhecimento. Poderia então me utilizar desse discurso e dos poderes a mim conferido por convenções sociais, apaziguando os múltiplos processos dos Artistas Vocacionados, que se tornam passivos, e, através de uma voz ativa e ditadora, engendrar no coletivo aquilo que me convém. Dessa forma constituo um processo linear, progressivo, que visa um fim. Nessa situação também existe um processo, mas ele é meu ou é conjunto?

Nas turmas que oriento turma em que estou na função de Artista Orientador minha figura possui um poder, sou o professor, e como tal o detentor do conhecimento. É essa a relação que os Artistas Vocacionados estabelecem inicialmente comigo, por questões culturais, se colocando na posição passiva a aquele que possui o conhecimento e que o recebera gradativamente. Nessa realidade, sou então o deus do conhecimento que dita os caminhos para se alcançar um certo grau de compreensão por mim estabelecido.

Mas e se eu me arriscar na desconstrução desse discurso e fomentar no coletivo que as suas múltiplas vozes surjam e atuem também sobre a condução? Nessa situação me dispo dos discursos já constituídos e me coloco na posição daquele que também esta em processo, oque me leva a pensar, qual a relação eu construo conjuntamente com esse coletivo?


No processo que 

Nenhum comentário:

Postar um comentário