São Paulo, 27 de
Abril de 2013.
Mapeamento Herbert Henrique - CEU Agua Azul
Tentarei realizar a difícil
tarefa de mapear as turmas a partir dos encontros até então vivenciados.
Difícil, pois, diante de uma complexa cadeia de encontros, relações, anseios e
olhares inerentes de uma coletividade, meu olhar é apenas uma possibilidade das
múltiplas que eclodem de tal fenômeno, da qual capturo aquilo que me salta aos
olhos e dessa constelação de fragmentos atribuo um sentido arbitrário. Tal
inquietação não se refere apenas ao texto que traçarei, mas também a uma
inquietação que me surge na condução das próprias turmas. Tentarei então eleger
pontos que considero interessantes serem trazidos à tona.
Nesses primeiros encontros
busquei criar uma zona de dialogo, amenizando ao máximo o poder de minha voz
como condutor e possibilitando que os discursos e formas artísticas surgissem dos
artistas vocacionados. As turmas são grandes com uma média de frequência em
ambas de 25 pessoas sendo uma média de 10 frequentastes de ambas as turmas.
Dentro dessa grande turma me atentei as particularidades dos participantes. A
maioria participa pela primeira vez do programa vocacional. Desses alguns já
participaram de cursos de teatro em ONGs da região, mas para a maioria é a
primeira vez que participam de um curso de teatro. Também existem anseios
distintos, alguns revelaram o objetivo de iniciar uma experiência visando
seguir uma carreira em teatro. Outros possuem outros objetivos sem a pretensão
de serem futuros profissionais. Diante dessa constelação me lanço à pergunta.
Como fomentar um espaço que permita a coexistência dessas diferenças e
singularidades?
Existem participantes de um grupo
formado no ano passado pelo vocacional, o Grupo Os Moisés. Entre alguns
participantes que frequentam os encontros Felipe é o mais presente e demonstra
ser uma espécie de condutor do grupo. Busquei estabelecer contato na tentativa
de retornar uma orientação. Segundo o Felipe o grupo diminuo de tamanho se
mantendo em 7 pessoas. Por não terem um espaço para desenvolvimento das
atividades e não saberem como continuar o processo de criação, os mesmos acabam
desestimulados a continuar havendo em alguns momentos faltas nos encontros. Combinei
uma visita futura ao encontro do grupo na tentativa de retomada de dialogo com
o programa.
Anna Lygia, uma integrante do
grupo Os Moisés, teve uma breve conversa comigo em particular, solicitando
orientação em um processo dela que surgiu a partir da leitura do livro O Diário
de Anne Frank. Ao falar sobre, ela apontou que era uma urgência dela, mesmo
termo utilizado por Felipe ao explicar como surgiu o processo de seu grupo no
ano passado. Percebo que o procedimento das urgências vivenciado ano passado
continua reverberando nesses participantes.
Na maioria das criações
realizadas nos encontros, percebo uma forte presença de conteúdos com criticas
sociais. Manifestam-se também cenas que buscam maior abstração e
experimentações estéticas formais. Nas rodas de discussões quase todos
participam dão suas contribuições com a criação dos outros. Aqueles que já
fizeram cursos de teatro veem carregados de um discurso já constituído como
verdade das praticas teatrais que em alguns momentos acabam por constranger
experimentações formais de outras naturezas. Nesses momentos tento intervir
fomentando a ampliação desses olhares, fazendo com que olhem para essas outras
formas que surgem como outras possibilidades estéticas.
Apesar dos encontros irem se
constituindo aos poucos constantemente problematizo os procedimentos que venho
empregando e me pergunto, será que esses dão conta de fato de abarcar esse
coletivo, será necessária a criação de novos procedimentos que deem conta dos
contornos singulares de cada coletivo? Até então de ambas as turmas existe uma
predisposição a experimentação cênica e ao compartilhamento em roda. Mas também
problematizo esse meu olhar, pois alguns pouco se colocam mais que a maioria em
roda. A Pergunta que me faço quanto a isso é, seriam interessante fazer com que
haja um equilíbrio nessas participações em roda ou existe outra dinâmica desses
que não se colocam tanto e que deve ser descoberta?
Como atuação pretendo fomentar no
espaço um ambiente que possibilite com que cada vez mais os artistas vocacionados
se coloquem e que se permitam experimentar e ser influenciado pelas proposições
dos demais. Quero com que cada vez mais eu vá me desprendendo do papel de
condutor e que a própria turma assuma esse papel trazendo suas proposições e
inquietações para o encontro, e estabeleçam com as criações uma relação de
experimentação artística e não de reprodução de formas já estabelecidas. Para
isso busco fomentar a reflexão em roda das dinâmicas vivenciadas e das criações
apresentadas. Futuramente pretendo com que esses comecem a observar e criar
procedimentos próprios e necessários para os encontros.
Vale também citar uma relação de
atrito que existia com o equipamento. O primeiro encontro aconteceu em uma sala
extremamente não propicia a realização das atividades. Havia o vazamento de
sons de atividades externas, impossibilitando muitas vezes o dialogo em roda ou
ouvir as falas nas criações de cenas. Também uma sala fria, oque deixava os
exercícios de corpo a desejar. Em uma conversa com o coordenador do equipamento
na tentativa de conseguir o espaço do teatro para a realização das atividades
esse me revelou uma preocupação ocorrida em edições anteriores, da qual havia a
depredação do espaço do teatro por parte dos artistas vocacionados. Diante
disso busquei estabelecer uma relação de parceria com o espaço promovendo nas
turmas dialogo sobre a utilização do espaço público e convidando o coordenador
para ter uma fala sobre o assunto. Essa ação foi mais para reestabelecer a
relação de confiança com o coordenador do espaço, já que até então a turmas se
mostram compenetradas nas atividades não havendo dispersões ou descasos com a
utilização do espaço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário