O Som interno
AO: Ricardo de
Almeida Valverde/ Casa de Cultura Salvador Ligabue
Há três anos venho trabalhando como
artista orientador no programa Vocacional de Música da Secretaria de Cultura da
Prefeitura de Sâo Paulo, e um fato interessante: orientar um grupo grande de
vocacionados com muitas diferenças ( idade, religião , gosto e estilo, técnica
no instrumento e conhecimento geral), vem me fazendo refletir bastante.
A princípio eu achava que teria que
encontrar um ponto em comum para conseguir dar uma boa orientação . Acreditava
que se encontrasse essa unidade conseguiria estabelecer uma harmonia entre as
pessoas e amenizar as diferenças entre elas ,proporcionando dessa forma um
desenvolvimento musical coletivo.
Porém
logo percebi que isso seria uma utopia pois estaria indo contra uma
característica formidável do ser humano; cada indivíduo é único e possui suas
próprias competências e habilidades específicas. sendo assim , se cada
indivíduo é diferente , a música dele também vai ser diferente da do outro.
“Não existem duas pessoas com o mesmo mapa
sonoro, assim como não existem duas pessoas com a mesma situação genética"
nos coloca Silvia Goes, musicista e pedagoga.[1].
No
livro, Silvia defende que cada indivíduo tem o seu próprio som interno e
relata: " minha função não é formar músicos , mas sim tratar da música das
pessoas para que elas consigam ficar felizes e satisfeitas com a sua expressão
sonora e, mais ainda, para que aprendam a utilizar o canal do som em seu
próprio beneficio : uma descoberta que traz equilíbrio , pois dela se consegue
ver oque esta realmente acontecendo dentro de cada um."
Aceitando as
diferenças e entendendo que cada artista vocacionado sente , escuta e produz
música de uma maneira própria percebi que uma forma de orientar um grande e
heterogêneo grupo de pessoas é fazer com que elas se descubram, ou seja
,conheçam seu próprio som interno.
Para se chegar a descoberta do som interno a melhor ferramenta é a percepção
musical . Portanto nas minhas orientações venho trabalhando muito a audição. Um
exercício que utilizo no inicio , é o de fazer com que os vocacionados fiquem
em silêncio por dois minutos e percebam todos os sons que estão no ambiente,
perto ou longe. Este simples exercício pode ser feito para qualquer pessoa
independente da idade e técnica musical.
Então
os primeiros trabalhos são o de fazer o indivíduo começar a perceber o seu som
interno. E isso requer tempo e dedicação do aluno. " o crescimento de cada
um depende única e exclusivamente de trabalho pessoal, que pode ser estimulado
ou até mesmo orientado"[2].
Depois de estimular bastante a descoberta do som interno, o próximo passo é
fazer com que o aluno comece a ter sua própria musicalidade , o fazer tocar
único, ou seja, começar expressar o que esta dentro dele através da musica.
Para ilustrar este trabalho , vou
exemplificar com um exercício feito na orientação : faço uma roda com os
vocacionados. Começo a tocar uma seqüência harmônica no violão: Am - Dm- G7-
C7M e peço que cada pessoa improvise com o próprio canto . Esse exercício faz
com que a pessoa trabalhe primeiro a percepção harmônica dos acordes e na
sequencia com que ela produza melodias atraves da sua voz , se manifestando
expressivamente . Silvia Goes aponta que
"a compreensão leva ao movimento e
o movimento leva a expressão ".
Para concluir, preciso dizer que a busca do som interno e o fazer musical
expressivo é um trabalho diário que faço como músico e acredito que o farei
para sempre, pois sempre poderemos descobrir e reiventar a nossa propria
música.
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