OBSERVANDO...
Aishá Lourenço
Para trabalhar com musica e
musicalidade primeiramente, procuro entender as peculiaridades de cada
vocacionado, convidando-o a apresentar seus interesses musicais. Depois que
eles me apresentam suas referências, faço uma atividade em que eles tenham que
me responder de acordo com suas percepções o que cada umas das 10 musicas
apresentadas lhe remetam em relação a cor, lugar e sensação. Por exemplo, com a
primeira turma, composta por 10
vocacionados entre orientadores e participantes do CAPS, tivemos
momentos bem interessantes em que fui surpreendida pelas suas respostas, pois
apesar de algumas dificuldades de concentração devido aos remédios fortes
adquiridas nos seus tratamentos percebi que essas atividades serviram para
deixa-los a vontade e confiantes, principalmente das reflexões sobre as
respostas. Pois a ideia era conectar as similaridades e destituir as diferenças
dando valor a cada resposta e não distinguindo entre respostas certas e
erradas. Além de aguçar suas percepções sinestésicas, a imaginação e ativar
suas memórias, tive um retorno positivo de umas das médicas que cuidam deles.
Em outro momento que fui ao CAPS para fazer um mapeamento, conhecendo um pouco
mais do local, do publico e de suas necessidades, a doutora entrevistada me
falou que estava bem contente com o resultados das participação deles nas
minhas orientações pois alguns deles tem grandes dificuldades de se vincular a
algum tipo de atividade em grupo.
Este “tipo” de abordagem de
ativar a percepção, a memória, a sinestesia e a imaginação é coerente com
a abordagem da musica orgânica que venho
pesquisando[i] . Percebo que esta é uma
linha interessante e essencial para educadores musicais, ela acesa várias
aspectos íntimos do ser humano, desarmando-o e direcionado-o para um
amadurecimento das percepções, muitas vezes uma integra o participante ao
ritual da música, a alteração da consciência,
a expressão e a interação das
individualidades. E para uma passo inicial onde não temos muitos instrumentos
podemos criar musica através dos sons
e
dos movimentos corporais. Com este processo, percebo a necessidade ímpar do
despertar para a música interna que faz parte da aprendizagem “...viver é
afinar um instrumento, de dentro pra fora e de fora pra dentro, a toda hora a
todo momento ”. (Lurdi Blauth)[ii]
No Material Norteador e de certa
forma instintivamente nos deparamos com a importância de se criar/desenvolver materialidade
artísticas,concordo. Mas acho importante frisar de que “a crença de que toda educação genuína que
surge através da experiência não significa que todas as experiências são
genuinamente ou igualmente educativa”.[iii] Por isso venho
desenvolvendo reflexões sobre as estruturas de educação e ensino, em outras
palavras a estética educacional, em que os vocacionados e comunidade está
vinculada. Proporcionando e promovendo atividades distintas, sensibilizar os
vocacionados para as diferentes formas de se vincular à musica e realçar sua
lucidez em relação a sua própria musicalidade,
sua percepção, sua execução (o tocar), sua capacidade de refletir, interpretar,
compor, criar, materializar e apreciar.
“ Um facilitador, um mediador, um instigador que orienta e estimula os
alunos a descobrir essa imensa riqueza das experiências estéticas que estão
além de um ensino que promove apenas uma variedade de atividades técnicas e
materiais, oriundas apenas de um único ponto de vista. Isso se dá ao
estabelecer conexões com produções estéticas de outras culturas e entender que,
a partir do um certo ponto de vista, determinadas manifestações
expressivas são válidas naquele contexto e que ocasionaram impactos naquele
período histórico.[iv]
É importante que nós, A.O.s vislumbre possibilidades que oportunizem
estabelecer conexões significativas para que os alunos possam identificar,
experimentar e assimilar as diferentes expressões estéticas que, mesmo que
muitas vezes, não têm nenhuma relevância justamente pelo desconhecimento dos
seus códigos simbólicos.
A cultura é entendida como um
processo dinâmico, pois está em constante transformação, no entanto meu intuito
é aproximar os vocacionados das realizações e das experiências multiculturais,
oportunizando a construção de uma visão de uma análise crítica diante
das produções e re-produções consideradas eruditas, populares, ou de cultura de
massa.
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