Páginas

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Observando Aisha Lourenço


OBSERVANDO...
Aishá Lourenço

   Para trabalhar com musica e musicalidade primeiramente, procuro entender as peculiaridades de cada vocacionado, convidando-o a apresentar seus interesses musicais. Depois que eles me apresentam suas referências, faço uma atividade em que eles tenham que me responder de acordo com suas percepções o que cada umas das 10 musicas apresentadas lhe remetam em relação a cor, lugar e sensação. Por exemplo, com a primeira turma, composta por 10  vocacionados entre orientadores e participantes do CAPS, tivemos momentos bem interessantes em que fui surpreendida pelas suas respostas, pois apesar de algumas dificuldades de concentração devido aos remédios fortes adquiridas nos seus tratamentos percebi que essas atividades serviram para deixa-los a vontade e confiantes, principalmente das reflexões sobre as respostas. Pois a ideia era conectar as similaridades e destituir as diferenças dando valor a cada resposta e não distinguindo entre respostas certas e erradas. Além de aguçar suas percepções sinestésicas, a imaginação e ativar suas memórias, tive um retorno positivo de umas das médicas que cuidam deles. Em outro momento que fui ao CAPS para fazer um mapeamento, conhecendo um pouco mais do local, do publico e de suas necessidades, a doutora entrevistada me falou que estava bem contente com o resultados das participação deles nas minhas orientações pois alguns deles tem grandes dificuldades de se vincular a algum tipo de atividade em grupo.
 Este “tipo” de abordagem de ativar a percepção, a memória, a sinestesia e a imaginação é coerente com a  abordagem da musica orgânica que venho pesquisando[i] . Percebo que esta é uma linha interessante e essencial para educadores musicais, ela acesa várias aspectos íntimos do ser humano, desarmando-o e direcionado-o para um amadurecimento das percepções, muitas vezes uma integra o participante ao ritual da música, a alteração da consciência,
a expressão e a interação das individualidades. E para uma passo inicial onde não temos muitos instrumentos podemos  criar musica através dos sons
e dos movimentos corporais. Com este processo, percebo a necessidade ímpar do despertar para a música interna que faz parte da aprendizagem “...viver é afinar um instrumento, de dentro pra fora e de fora pra dentro, a toda hora a todo momento ”. (Lurdi Blauth)[ii]
  No Material Norteador e de certa forma instintivamente nos deparamos com a importância de se  criar/desenvolver materialidade artísticas,concordo. Mas acho importante frisar de que  “a crença de que toda educação genuína que surge através da experiência não significa que todas as experiências são genuinamente ou igualmente educativa”.[iii] Por isso venho desenvolvendo reflexões sobre as estruturas de educação e ensino, em outras palavras a estética educacional, em que os vocacionados e comunidade está vinculada. Proporcionando e promovendo atividades distintas, sensibilizar os vocacionados para as diferentes formas de se vincular à musica e realçar sua lucidez em relação  a sua própria musicalidade, sua percepção, sua execução (o tocar), sua capacidade de refletir, interpretar, compor, criar, materializar e apreciar.
“ Um facilitador, um mediador, um instigador que orienta e estimula os alunos a descobrir essa imensa riqueza das experiências estéticas que estão além de um ensino que promove apenas uma variedade de atividades técnicas e materiais, oriundas apenas de um único ponto de vista. Isso se dá ao estabelecer conexões com produções estéticas de outras culturas e entender que, a partir do um certo ponto de vista, determinadas manifestações expressivas são válidas naquele contexto e que ocasionaram impactos naquele período histórico.[iv]
É importante que nós, A.O.s vislumbre possibilidades que oportunizem estabelecer conexões significativas para que os alunos possam identificar, experimentar e assimilar as diferentes expressões estéticas que, mesmo que muitas vezes, não têm nenhuma relevância justamente pelo desconhecimento dos seus códigos simbólicos.
   A cultura é entendida como um processo dinâmico, pois está em constante transformação, no entanto meu intuito é aproximar os vocacionados das realizações e das experiências multiculturais, oportunizando a construção de uma visão de uma análise crítica diante das produções e re-produções consideradas eruditas, populares, ou de cultura de massa. 


[i] OLIVEIRA, Ricardo. Música, Saúde e Magia.
[ii] BLAUTH, Lurdi. Arte e ensino: uma possível educação estética. In: Revista Em aberto v. 21, n.77, p.41-49, jun. 2007
[iii] Idem
[iv] IDem

Nenhum comentário:

Postar um comentário