Páginas

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Celebrações e identidades - Miranda de Amaralna


Celebrações e identidades
AO Miranda de Amaralina / Biblioteca Álvares de Azevedo
           
A trajetória de vida de um indivíduo nunca pode ser encarada como um caminho reto. Nossa experiência pessoal nos mostra que são muitos os fatores que nos levam a tomar determinados rumos, a fazer escolhas do que queremos fazer, do que queremos nos tornar. O que me fez tornar-me músico? O que me levou a optar por trabalhar como arte-educador? Qual a relação entre minha experiência de vida e minha forma de trabalho?
            Estas questões me levaram a buscar, neste artigo, a analisar a trajetória de vida da arte-educadora Rosângela de Macedo Santos, sua formação como artista e arte-educadora, assim como sua atuação dentro do grupo Sambaqui e as ações desenvolvidas por este grupo no Jd. Guarani, zona Norte de São Paulo. Muitas vezes este olhar sobre o outro nos permite rever e repensar nossa própria história e atuação.
            Rosangela, em sua entrevista, nos diz ter nascido na cidade de Rosário do Ivaí, no Paraná. Mas ainda bebê mudou-se para São Paulo com a família, indo residir na zona Norte da cidade nos bairros de Vila Brasilândia e depois Jd. Guarani. Ao ser indagada sobre seu contato com a música ela respondeu:
“Cresci ouvindo meu avô cantando cocos e emboladas com o acompanhamento dos ganzás de lata de óleo que ele mesmo confeccionava, meu pai cantava aboios, emboladas, folias e gostava de contar histórias de trancoso (mistério) e cordéis, minha mãe passava os dias assobiando
            Este contato cotidiano com elementos da cultura popular foi ressignificado quando ela, aos 26 anos, entrou para o grupo Cachuera em 1996. Segunda ela: Meu aprendizado é na prática, necessito de tempo para digerir essas informações.
            Minha trajetória de vida, como músico e arte-educador é muito semelhante. Como Rosangela a música foi algo que esteve presente em meu cotidiano, assim como meu contato com a cultura popular se deu através de um saber/fazer e não de um processo formal de estudo.
“O meu interesse pela cultura popular tradicional brasileira se deve a percepção de que nossa cultura nos educa para a convivência, o fazer coletivo, o desenvolvimento em comunidade, a resolução de conflitos pelo consenso, claro que isso só é possível se estivermos alicerçados nos fundamentos das nossas tradições e não no aproveitamento superficial, recortado apenas de algumas características. É preciso que nos reconheçamos como comunidade/aldeia.”,
Dentro desta perspectiva venho desenvolvendo uma ação com os vocacionados ligada as festas de São João. Estas festas remetem não apenas a tradição popular cristã, mas também a um conjunto de símbolos ligados a vida camponesa e em comunidade. Ao trabalhar com os vocacionados os ritmos ligados a estas festas, como o xote, o baião e o rastapé procuro,  também, discutir o contexto em que tais formas de expressão musical se desenvolveram, assim como a sua relação profunda com a festas de São João.
Neste sentido, as conversas com os vocacionados nas orientações foram muito importantes para pensarmos a forma como iriamos construir o repertório da mostra, se deveriam apresentar as composições que o grupo havia trazido e que não tinham necessariamente relação com os festejos juninos.
Foi aí que começamos a conversar sobre o significado da festa para cada um, as experiências de vida com esta manifestação e principalmente, como deveríamos construir a nossa mostra.
O vocacionado Wagner contribuiu para a construção do repertório, falou sobre a importância da música nesta festa, defendeu que deveríamos apresentar tanto as canções que cada um trouxe para o grupo, quanto o repertório junino e então poderíamos fazer um coro.Ele está no projeto desde o ano passado, adora a música popular brasileira, seu instrumento é violão e gosta de cantar samba, se interessou em participar este ano do projeto, porque quer aprender a tocar os instrumentos de percussão.
Rosi Cheque, por exemplo, é formada em jornalista, ficou incumbida de escrever o roteiro e o texto da apresentação da festa. Há dez anos ela participa do projeto Vocacional, já fez teatro, dança e agora está no vocacional música, segundo ela, estou adorando participar deste grupo de música.  Descobri que posso cantar e tocar percussão, eu não sabia que era capaz de fazer as duas coisas.  É uma descoberta... Eu adorei tocar triângulo!
Daise Lu, já era do vocacional teatro desde o ano passado, chegou muito animada para fazer parte do grupo de música, participa das orientações nas quintas e nos sábados. Segundo ela, gosta muito das orientações porque  é um espaço do encontro entre os amigos, momento em que ela pode fazer o que mais gosta:  cantar.
Daise Lu escolheu para cantar na festa a canção - No dia do meu casório – pois retrata a realidade do casamento de maneira muito divertida.  Têm 80 anos, viúva, mora sozinha, durante as nossas conversas falou bastante das suas experiências pessoais, suas alegrias e frustações ao longo da vida e encontrou neste grupo um espaço para retomar algo que sempre gostou de fazer e também de realização pessoal.
Neste sentido, busco não só orientar os aspectos ligados diretamente ao fazer musical, mas também trabalhar com eles os laços identitários, fundamentais dentro da cultura popular e sempre presentes nestas formas de celebração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário