04/06/2013
3º Mapeamento - Herbert Hnerique - CEU Água Azul
Como disparo, nos primeiros encontros o movimento que
busquei foi instaurar a construção da relação dos AVs com o espaço e as suas
múltiplas vozes. O espaço na esfera individual, que é o espaço de minha
subjetivação, meus discursos, minhas vozes. O espaço na esfera coletiva, que é
o espaço de dialogo com os outros, onde seja possível todos colocarem suas
vozes. Nesse processo me deparei com uma relação de poder constituída entre a
figura dos Artistas Vocacionados e do Artista Orientador. Esses viam na figura
do orientador um professor que traria seu conhecimento e os vocacionados o
executariam. Essa relação apaziguava as vozes dos AVs constrangendo a
possibilidade de colocarem suas formas, seus imaginários, seus anseios e
desejos. Visto isso o processo foi o de suavização dessa figura de poder do
Artista Orientador, e a construção de uma nova relação que possibilitasse a
eclosão dos diversos discursos presentes dos Artistas Vocacionados.
Percebi nesse movimento a construção da disponibilidade de
dialogo dos AVs e o surgimento de diferentes formas e discursos nas criações e
discussões. Mesmo havendo o surgimento dessas outras formas, existe presente na
região um imaginário de uma forma única de se fazer teatro que se manifestava
nos discursos dos AVs. A forma do teatro do palco italiano, da construção de
personagem, um teatro textocêntrico. De
fato essa é uma forma de se fazer teatro, mas oque me chamava atenção é que
esses viam essa como a única forma de se fazer, apesar de nos encontros
surgirem formas singulares potentes e provocativas. Esse imaginário constrangia
o espaço construído anteriormente da experimentação de outras possibilidades
formais e discursivas, sendo que as cenas em dado momento acabavam se tornando
a exposição das habilidades do AV que estava em busca de aprovação do coletivo,
ao invés de ser um espaço de experimentação, de formas diferentes, que
comportasse o erro, o diferente, etc.
Nesse momento o processo é o de ampliação de possibilidades
formais e discursivas. Pretendo deslocar a percepção do que seja teatro do produto
final para o processo. Outro deslocamento é espacial do palco para outros
espaços, fomentando com que nesses busquem outras soluções para além das
conhecidas, ampliando a percepção de outras possibilidades formais.
Processo de construção de relação com o
Equipamento
No processo de construção da relação com o espaço, acidentalmente
me deparei com outra esfera, a da instituição CEU e a utilização do espaço público.
A sala que ocorreu o primeiro encontro não era propicia ao desenvolvimento da
atividade, e ao solicitar o teatro, os coordenadores me lançaram uma
preocupação. Em edições anteriores quando os encontros eram no teatro ocorria a
depredação do mesmo por parte dos artistas vocacionados. Por outro lado, os
próprios artistas vocacionados também manifestavam uma insatisfação revelando a
falta de disposição para o dialogo da gestão do equipamento e que aquela sala
os desestimulavam, oque fazia inclusive em edições passadas desistirem no meio
do processo.
Nesse imprevisto configurou-se outra esfera de construção da
relação com o espaço, a de apropriação do próprio equipamento/espaço público
para a realização de ações artísticas e culturais. Por parte dos artistas
vocacionados busquei um dialogo no sentido de construirmos conjuntamente a
relação de utilização de um espaço público, estabelecendo acordos de
corresponsabilidade no zelo pelo mesmo. Nas turmas percebi que muitos estavam
dispostos a colaborar. Mesmo assim, em alguns casos isolados ocorria certo
descaso análogo ao ocorrido em escolas publicas. Observando mais atentamente
essas ações vi que elas vinham de uma falta de compreensão do que seja um
espaço público acompanhada do sentimento de exclusão social do individuo, que
não se achava pertencente a aquele espaço. Visando subverter essa relação
busquei novamente estabelecer um dialogo nesse sentido, oque possibilitou
nesses indivíduos estabelecer essa outra relação, a de zelo.
Como ação seguinte convidei os coordenadores e a gestora do
CEU para um encontro de dialogo com os Artistas Vocacionados. Eles se mostram dispostos e no dia da visita
desses ao encontro eclodiram muitas perguntas e questionamentos dos Artistas
Vocacionados sobre a utilização do equipamento e a manifestação do desejo de
ocupação do CEU para a realização de atividades culturais junto à comunidade.
Ambos, coordenadores, gestor e Artistas Vocacionados demostraram interesse em
promover tais ações, oque mobiliza as turmas atualmente em organizar um
encontro aberto onde seja possível compartilhar suas materialidades artísticas
e processos com a comunidade.
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