Páginas

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Pedagogias abertas no ensino de música (segunda parte)

Ensaio outubro de 2013

Pedagogias abertas no ensino de música (segunda parte)

Equipamento: CEU Quinta do Sol
Artista Orientador: Alejandro López


Dando continuidade às reflexões feitas no ensaio de setembro sobre a minha participação no XIX Seminário do FLADEM (Fórum Latino-americano de educadores musicais), abordarei aqui algumas questões relacionadas com as minhas práticas nas orientações, que considero encaixadas dentro da filosofia da pedagogia aberta.

Começarei falando sobre o trabalho em grupo. Apostar ao trabalho coletivo, segundo a realidade específica do equipamento, pode ser um conceito atrativo do ponto de vista do discurso, mas na prática pode apresentar algunas problemas. Um deles é a questão numérica, onde é difícil captar a atenção e o interesse de um número elevado de pessoas ( no meu caso particular, uma turma que por momento teve 35 pessoas). O problema não está na quantidade de individuos, mas na quantidade de individualidades onde existem interesses diversos, aptidões diferentes e bagagens na linguagem artística ( no nosso caso, a música) diferentes.

Me parece que para que um grupo com essas características funcione é necessario aplicar alguns critérios não muito usuais nas práticas pedagógicas, por exemplo, a construção coletiva do repertório que será trabalhado. O grupo perceberá que  se não existe uma participação ativa e propositiva não haverá resultados visíveis a serem apresentados.
Por diversos motivos, dentre eles, afinidade nos gostos musicais, etários e de pertencimento a um grupo resulta natural ou inevitável que dentro da turma maior acabem se formando pequenos grupos. Acho importante trabalhar e mostrar as realizações destes grupos, mas considero que é necessário e fundamental misturar os integrantes de cada pequeno grupo, não somente por motivos de socialização, mas como uma estrategia para que essas pessoas possam conhecer um tipo de repertório que não forma parte da sua realidade musical. As pessoas conhecem através da prática estilos musicais que a maioria das vezes são rechazados ou não são levados em consideração por motivos extra-musicais. Este procedimento é mais sutil e delicado do que a tradicional “imposição” de um repertório por parte do educador, mas acredito que possa deixar uma semente de dúvidas e talvez gere, em alguns casos, a vontade de iniciar ou aprofundar uma pesquisa sobre outros estilos, repertórios e compositores.

Outro criterio utilizado nas orientações, e que está profundamente ligado com o asunto anterior, é a construção coletiva das formas e dos arranjos para as músicas que são trabalhadas. Partindo de uma proposta base começamos a ensaiar uma música tentando, sempre que possível, que o grupo toque sem a minha participação. Isso contribuirá para que fique em evidência a falta de uma forma clara e de um arranjo que por mais simples que seja, dê uma “cara prórpia” à música que está sendo trabalhada. Estes conceitos de forma e arranjo são geralmente desconhecidos pelos vocacionados que apresentam um interesse primario na reprodução ou imitação.
Partindo desses questionamentos tentamos criar formas e arranjos que contemplem as possibilidades do grupo, deixando nas mãos dos vocacionados as propostas e sugestões que irão conformando a versão definitiva da música.
Dependendo de qual foi música escolhida aparecerão maior ou menor número de propostas e o arranjo só ficará pronto quando as sugestões apresentadas sejam testadas e aprovadas pela maioria.

Outro ponto que quero comentar é o incentivo à criação.
Como sabemos o sistema educativo tradicional e a propria vida em sociedade  estimulam a reprodução de modelos estabelecidos e não dão muito espaço para a criação nas suas diferentes formas. Isto gera travas nas pessoas que pensam que como a música é uma linguagem específica com códigos próprios, elas devem conhecer e dominar estes códigos para poder expressar-se musicalmente.
Além dissso, outra característica das pessoas que participam do Vocacional é a procura  por formação e conteúdos o que muitas vezes nos leva a atitude tradicional de “professor” que tem o conhecimento e vai transmiti-lo a seus “alunos”.
Por estes motivos acho importante e procuro incentivar a criação através de exercícios de composição onde se misturam a criação livre com exercícios que contém conceitos mias técnicos e da teoria musical.

Nenhum dos procedimentos citados anteriormente produzem grandes resultados “visíveis” e de uma certa maneira são seletivos, pois requerem das pessoas que participam das orientações um envolvimento maior do que o simples passatempo ou a socialização, além de que são melhor “aproveitados” por quem participa do processo desde o inicio até o fim. Aposto nesse processo como o elo que guia o meu trabalho.

Acredito que os processos de aprendizado são caóticos por natureza, aprender uma língua, um instrumento ou aprender a cantar não necessariamente requer um método onde os conceitos são aprendidos linearmente seguindo um grau de dificuldade, indo do mais simples ao mais complexo e eu tento aplicar este conceito de “caos criativo” nas orientações realizadas no Vocacional.
Para finalizar, cito duas frases do educador Paulo Freire com as quais me identifico e que tento colocar na prática:

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.


Alejandro López

Nenhum comentário:

Postar um comentário