O COORDENADOR DE EQUIPE ou a direção da chuva no
caminho para o chão
No meio de uma
fala minha, em uma reunião de coordenação me deparo com a seguinte imagem: a gota de chuva/informação, demandas e
questões artístico-pedagógicas-, no trajeto do céu/coordenação geral, de projetos e afins-, lá do alto, se
encaminha para o chão/A.O. ou, ainda, vocacionados
e nesse trajeto, muitas vezes se enfraquece e quase some. Solto essa fala em
plena reunião e nela percebo muitas questões a serem analisadas.
A primeira delas
é, óbvia e claramente, a relação de “cima para baixo”. Poderíamos pensar que se
trata apenas de uma característica aleatória da imagem escolhida, mas, como
sabemos nós artistas, as imagens têm força e não são escolhidas por acaso.
Ítalo Calvino conta que seu livro O
Cavaleiro Inexistente surgiu assim, de uma imagem. Ele “teve a imagem” de
uma armadura com nada dentro e começou a se perguntar o que tinha de estórias e
de verdades nela. Dessa forma,
brincando de Calvino e sem carecer da sua genialidade, claramente me deparo com
uma verdade do Vocacional: fazemos parte de uma organização piramidal, onde as
informações, demandas, exigências, desafios, e muitos mais deles – uns mais
criativos, artísticos e poéticos – e outros nem tanto, surgem na ponta da
pirâmide e são disseminados para a base. Seguindo a verdade da imagem da chuva
percebo outra coincidência aleatória. Aleatória? Nada como um conhecimento raso dos tempos escolares como o meu para lembrar que a chuva
volta para o céu em forma de vapor. Mais rarefeita do que sempre. Será que o
ciclo se completa e a informação,
demandas e questões artístico-pedagógicas voltam de verdade com força para
o topo?
A questão real
que me salta aos olhos é que nos estruturamos em uma grande “brincadeira” de
telefone sem fio e nesse trajeto do céu para o chão e do chão para o céu, as
informações se perdem, se enfraquecem, se transmutam através das diferentes
subjetividades pelas quais passam e quando não criam equívocos complicados,
muitas vezes simplesmente não cumprem seu papel.
Nesse ponto, o
que poderia ser chamado de trajeto, na
imagem da chuva, ou o próprio fio, na
imagem do telefone, me aparece à mente como a função do grande mediador dessa
história, o coordenador de equipe. Obviamente, em pequenos e menores graus,
todos somos mediadores dos princípios artístico-pedagógicos do Programa, mas,
sinceramente acho o papel do coordenador de equipe exponencialmente importante
nessa função.
Um caso clássico
de grandes confusões que podem ser geradas a partir da falha da condução da
informação (ou da informação mal disseminada) foi a ação dos “18 A.O.s” contra(?) a ação com a São Paulo
Cia de Danças. Na queda da chuva, na vinda da informação
de cima para baixo, muitos ruídos
foram criados. Quem e qual de nós, A.O.s, soubemos que houve uma tentativa de
desmarcar a ação? Era obrigatório ou não? De onde e de qual instância vinha a
demanda de que a ação deveria acontecer mesmo à revelia dos A.O.s e dos
questionamentos de coerência desse encontro junto aos nossos princípios
artístico-pedagógicos? Quais mediadores/coordenadores incitaram a não presença
dos A.O.s à ação? Quais mantiveram os A.Os. de sua equipe bem informados e
tranqüilos? Quais os utilizaram como “massa de manobra” aos seus próprios
pontos de vista? E no caminho inverso, de baixo para cima, na evaporação da
tempestade, quais souberam receber as críticas e as discordâncias?
Há outros
exemplos menos tempestuosos onde podemos pensar na falha ou exacerbação ou
contundência dessa mediação. Como o coordenador de equipe leva as informações, demandas e questões
artístico-pedagógicas para sua equipe? Como dar a devida importância ao que
deve ser apropriado pelo A.O. e deve retornar à coordenação geral com força e
posicionamento? Como ser um viés de passagem de uma informação com o peso
preciso que ela tem? Como criar uma dinâmica durante a reunião de equipe onde o
próprio A.O. se aproprie de tal forma de uma informação que ele mesmo consiga
ter o peso preciso que ela tem e consiga ter uma opinião individualizada e
potente sobre o seu ponto de vista diante das questões abordadas. Como fazer a
informação vinda desse A.O. - suas competências, seus pensamentos e seus afetos
quanto ao Programa, - serem disseminados sem distorções advindas de uma
subjetividade que não é a dele. Me
utilizando novamente da imagem, como
fazer chover para cima? Ou talvez como retirar os conceitos de cima e baixo e
transversalizar os trajetos?
Era só uma imagem, mas me faz pensar em um
monte de questões. Acima de tudo me faz pensar na responsabilidade do
coordenador de equipe dentro do Programa Vocacional. Como não se ausentar
quando necessário? Como não se fazer presente demais quando necessário? Como
favorecer o trânsito livre e a potencialidade desses limiares: coordenação
geral/de projetos e A.O.s? Como favorecer o melhor caminho para a chuva?
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