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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O COORDENADOR DE EQUIPE ou a direção da chuva no caminho para o chão - Dança - Leste 4

O COORDENADOR DE EQUIPE ou a direção da chuva no caminho para o chão


No meio de uma fala minha, em uma reunião de coordenação me deparo com a seguinte imagem: a gota de chuva/informação, demandas e questões artístico-pedagógicas-, no trajeto do céu/coordenação geral, de projetos e afins-, lá do alto, se encaminha para o chão/A.O. ou, ainda, vocacionados e nesse trajeto, muitas vezes se enfraquece e quase some. Solto essa fala em plena reunião e nela percebo muitas questões a serem analisadas.
A primeira delas é, óbvia e claramente, a relação de “cima para baixo”. Poderíamos pensar que se trata apenas de uma característica aleatória da imagem escolhida, mas, como sabemos nós artistas, as imagens têm força e não são escolhidas por acaso. Ítalo Calvino conta que seu livro O Cavaleiro Inexistente surgiu assim, de uma imagem. Ele “teve a imagem” de uma armadura com nada dentro e começou a se perguntar o que tinha de estórias e de verdades nela.  Dessa forma, brincando de Calvino e sem carecer da sua genialidade, claramente me deparo com uma verdade do Vocacional: fazemos parte de uma organização piramidal, onde as informações, demandas, exigências, desafios, e muitos mais deles – uns mais criativos, artísticos e poéticos – e outros nem tanto, surgem na ponta da pirâmide e são disseminados para a base. Seguindo a verdade da imagem da chuva percebo outra coincidência aleatória. Aleatória? Nada como um conhecimento  raso dos tempos escolares  como o meu para lembrar que a chuva volta para o céu em forma de vapor. Mais rarefeita do que sempre. Será que o ciclo se completa e a informação, demandas e questões artístico-pedagógicas voltam de verdade com força para o topo?
A questão real que me salta aos olhos é que nos estruturamos em uma grande “brincadeira” de telefone sem fio e nesse trajeto do céu para o chão e do chão para o céu, as informações se perdem, se enfraquecem, se transmutam através das diferentes subjetividades pelas quais passam e quando não criam equívocos complicados, muitas vezes simplesmente não cumprem seu papel.
Nesse ponto, o que poderia ser chamado de trajeto, na imagem da chuva, ou o próprio fio, na imagem do telefone, me aparece à mente como a função do grande mediador dessa história, o coordenador de equipe. Obviamente, em pequenos e menores graus, todos somos mediadores dos princípios artístico-pedagógicos do Programa, mas, sinceramente acho o papel do coordenador de equipe exponencialmente importante nessa função.
Um caso clássico de grandes confusões que podem ser geradas a partir da falha da condução da informação (ou da informação mal disseminada) foi a ação dos “18 A.O.s” contra(?) a ação com a São Paulo Cia de Danças.  Na queda da chuva, na vinda da informação de cima para baixo,  muitos ruídos foram criados. Quem e qual de nós, A.O.s, soubemos que houve uma tentativa de desmarcar a ação? Era obrigatório ou não? De onde e de qual instância vinha a demanda de que a ação deveria acontecer mesmo à revelia dos A.O.s e dos questionamentos de coerência desse encontro junto aos nossos princípios artístico-pedagógicos? Quais mediadores/coordenadores incitaram a não presença dos A.O.s à ação? Quais mantiveram os A.Os. de sua equipe bem informados e tranqüilos? Quais os utilizaram como “massa de manobra” aos seus próprios pontos de vista? E no caminho inverso, de baixo para cima, na evaporação da tempestade, quais souberam receber as críticas e as discordâncias?
Há outros exemplos menos tempestuosos onde podemos pensar na falha ou exacerbação ou contundência dessa mediação. Como o coordenador de equipe leva as informações, demandas e questões artístico-pedagógicas para sua equipe? Como dar a devida importância ao que deve ser apropriado pelo A.O. e deve retornar à coordenação geral com força e posicionamento? Como ser um viés de passagem de uma informação com o peso preciso que ela tem? Como criar uma dinâmica durante a reunião de equipe onde o próprio A.O. se aproprie de tal forma de uma informação que ele mesmo consiga ter o peso preciso que ela tem e consiga ter uma opinião individualizada e potente sobre o seu ponto de vista diante das questões abordadas. Como fazer a informação vinda desse A.O. - suas competências, seus pensamentos e seus afetos quanto ao Programa, - serem disseminados sem distorções advindas de uma subjetividade que não é a dele.  Me utilizando novamente da imagem, como fazer chover para cima? Ou talvez como retirar os conceitos de cima e baixo e transversalizar os trajetos?
Era só uma imagem, mas me faz pensar em um monte de questões. Acima de tudo me faz pensar na responsabilidade do coordenador de equipe dentro do Programa Vocacional. Como não se ausentar quando necessário? Como não se fazer presente demais quando necessário? Como favorecer o trânsito livre e a potencialidade desses limiares: coordenação geral/de projetos e A.O.s? Como favorecer o melhor caminho   para a chuva?






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