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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ensaio Impressões/Tempo AO Thais Antunes



Artista orientadora: Thais Antunes

CEU Inácio Monteiro



Ensaio Impressões/Tempo


Cortar o tempo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente


Meu ensaio não começava com esta reflexão, mas ao procurar este poema do Drummond acabo inserindo aqui uma breve reflexão em relação ao que ele diz, pois  cabe muito bem ao que foi discutido nas reuniões do projeto vocacional dança da nossa equipe e até em conversas parelalas individuais, das quais poucas eu participei por ter entrado tão recentemente no projeto, mas como artista/educadora de dança sempre conheci o projeto e tenho alguns conhecidos que trabalharam ou trabalham nele, então muito já refletia sobre o que acontecia dentro do projeto vocacional. O projeto vocacional de dança sempre foi um projeto no qual eu quis estar inserida como artista orientadora, pela proposta dele, oferecer iniciação artística na área de dança, principalmente, nas zonas periféricas de São Paulo, que não tem este acesso a dança contemporânea como quem mora no centro e está ao lado de vários pólos de formação gratuitos e espaços públicos, aonde a dança contemporânea acontece.
Esta luta, esta vontade, para que este tempo fatiado em oito meses e meio se transformem em um trabalho frutífero, mesmo que suas raízes sejam colhidas daqui muitos anos, acredito ser a vontade verdadeira de cada artista orientador que está ali presente, seja ele da dança, da música ou do teatro. Então o que acontece,  quais são os desafios, como lidar com eles? Acredito que as reuniões são muito importantes por isso, para que juntas as equipes possasm encontrar a articulação e as soluções necessárias para agir em cada equipamento específico.  Seria mesmo necessário mudar o tempo do projeto, aumentar estas fatias? Ou mudar o jeito de fatiar? Como organizar este tempo? E quando um artista orientador está ausente o que poderia ser feito neste tempo vago? Neste espaço de tempo que ficou vazio? Que resposta dar para os vocacionados que ficaram sem orientação? Eu cada vez mais me questiono como deveria ser esta formação, pois tem espaços que existem grupos consistentes e outros em que há  a necessidade ainda de se apresentar a dança contemporânea, então seria necessário também trazer esta dança para os equipamentos, pois a dança comteporânea aparece muito tímida nestes espaços. Bom, mas não vou me estender sobre este assunto pois são muitas questões que fugiria muito do principal tema, a minha experiência com os vocacionados, mas estas questões me foram trazidas exatamente pela relação com eles, pela vontade de assistir o crescimento deles.
O que é o tempo? São os segundo que contamos no relógio, ou a nossa memória e como ela vai e vem na nossa mente, como ela transcorre a qualquer momento no nosso corpo nos lembrando hoje do dia que se passou já alguns meses atrás, talvez anos, nos tocando o coração nos transformando como pessoas aqui agora no presente. Ao conhecer meus alunos do projeto vocacional fiz algumas viagens no tempo, principalmente com o grupo Estrelas do Inácio, grupo constituído de senhoras e um senhor na faixa dos sessenta anos, reconheci ali a minha mãe, a minha avó, meu avô, muitas histórias que trago na lembrança.
Histórias que estão traçadas pelo tempo nos gestos, nas linhas, nas expressões, nos corpos da maioria daquelas senhoras. Seja através de um sorriso, uma expressão, ou mesmo aquele olhar que só uma pessoa com mais idade traz e nos faz lembrar com certeza que ali está desenhado anos e anos de sabedoria, de memórias corporais boas ou ruíns, pois então porque não optar por escutar, escutar atentamente estes corpos. Ao invés de tentar trazer alguma técnica contemporânea como objetivo, apenas escutar mais, ter mais paciência e através da preciosidade que é estes corpos, estas histórias, ouvi-los e deixá-los dançar a sua dança,  transformando a experiência em uma prendizado que pode acontecer através do diálogo, da prosa, poesia, poemas, contos, histórias e porque não da dança, muita alegria e muita festa? Pois veja só, quantas senhoras me trazem nos rosto o olhar e a fecidade de uma criança, como se o tempo tivesse voltado anos e anos e congelado, estou reaprendendo a festejar, com a história que pulsa no corpo destas eternas crianças...


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