Artista
orientadora: Thais Antunes
CEU Inácio
Monteiro
Ensaio Impressões/Tempo
Cortar o
tempo
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente
Meu ensaio não começava com esta
reflexão, mas ao procurar este poema do Drummond acabo inserindo aqui uma breve
reflexão em relação ao que ele diz, pois cabe muito bem ao que foi discutido nas
reuniões do projeto vocacional dança da nossa equipe e até em conversas
parelalas individuais, das quais poucas eu participei por ter entrado tão
recentemente no projeto, mas como artista/educadora de dança sempre conheci o
projeto e tenho alguns conhecidos que trabalharam ou trabalham nele, então
muito já refletia sobre o que acontecia dentro do projeto vocacional. O projeto
vocacional de dança sempre foi um projeto no qual eu quis estar inserida como
artista orientadora, pela proposta dele, oferecer iniciação artística na área de
dança, principalmente, nas zonas periféricas de São Paulo, que não tem este
acesso a dança contemporânea como quem mora no centro e está ao lado de vários
pólos de formação gratuitos e espaços públicos, aonde a dança contemporânea
acontece.
Esta luta, esta vontade, para que este
tempo fatiado em oito meses e meio se transformem em um trabalho frutífero,
mesmo que suas raízes sejam colhidas daqui muitos anos, acredito ser a vontade
verdadeira de cada artista orientador que está ali presente, seja ele da dança,
da música ou do teatro. Então o que acontece,
quais são os desafios, como lidar com eles? Acredito que as reuniões são
muito importantes por isso, para que juntas as equipes possasm encontrar a
articulação e as soluções necessárias para agir em cada equipamento
específico. Seria mesmo necessário mudar
o tempo do projeto, aumentar estas fatias? Ou mudar o jeito de fatiar? Como
organizar este tempo? E quando um artista orientador está ausente o que poderia
ser feito neste tempo vago? Neste espaço de tempo que ficou vazio? Que resposta
dar para os vocacionados que ficaram sem orientação? Eu cada vez mais me
questiono como deveria ser esta formação, pois tem espaços que existem grupos
consistentes e outros em que há a
necessidade ainda de se apresentar a dança contemporânea, então seria
necessário também trazer esta dança para os equipamentos, pois a dança
comteporânea aparece muito tímida nestes espaços. Bom, mas não vou me estender
sobre este assunto pois são muitas questões que fugiria muito do principal
tema, a minha experiência com os vocacionados, mas estas questões me foram trazidas
exatamente pela relação com eles, pela vontade de assistir o crescimento deles.
O que é o tempo? São os segundo que
contamos no relógio, ou a nossa memória e como ela vai e vem na nossa mente,
como ela transcorre a qualquer momento no nosso corpo nos lembrando hoje do dia
que se passou já alguns meses atrás, talvez anos, nos tocando o coração nos
transformando como pessoas aqui agora no presente. Ao conhecer meus alunos do
projeto vocacional fiz algumas viagens no tempo, principalmente com o grupo
Estrelas do Inácio, grupo constituído de senhoras e um senhor na faixa dos
sessenta anos, reconheci ali a minha mãe, a minha avó, meu avô, muitas
histórias que trago na lembrança.
Histórias que estão traçadas pelo tempo
nos gestos, nas linhas, nas expressões, nos corpos da maioria daquelas
senhoras. Seja através de um sorriso, uma expressão, ou mesmo aquele olhar que
só uma pessoa com mais idade traz e nos faz lembrar com certeza que ali está
desenhado anos e anos de sabedoria, de memórias corporais boas ou ruíns, pois
então porque não optar por escutar, escutar atentamente estes corpos. Ao invés
de tentar trazer alguma técnica contemporânea como objetivo, apenas escutar
mais, ter mais paciência e através da preciosidade que é estes corpos, estas
histórias, ouvi-los e deixá-los dançar a sua dança, transformando a experiência em uma prendizado
que pode acontecer através do diálogo, da prosa, poesia, poemas, contos,
histórias e porque não da dança, muita alegria e muita festa? Pois veja só,
quantas senhoras me trazem nos rosto o olhar e a fecidade de uma criança, como
se o tempo tivesse voltado anos e anos e congelado, estou reaprendendo a
festejar, com a história que pulsa no corpo destas eternas crianças...
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