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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Algumas reflexões Sobre Espaço/Tempo AO Morgana Souza


“Algumas Reflexões Sobre Espaço/Tempo”
Meios de transportes, distâncias, tempo, horas, minutos, longos segundos, gente, muita gente aglomerada, ruas, rampas, vagões, algumas contradições, micro-ônibus para atender excedente número de passageiros, uma única linha de ônibus para atender uma região extensa e populosa onde não há outra opção de transporte público, cartografia, geografia, calçadas...
Calçadas? Que espaço é este? Onde estamos?
Num determinado Sábado em que fui orientar ou dar aula no CFCCT (Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes), me deparei com algo que eu já havia visto, percebido, mas sobre o qual ainda não havia refletido.
Como o espaço físico-geográfico, ou a falta deste, pode influenciar no comportamento das pessoas e na forma como elas percebem/refletem seu espaço de direito: seus corpos e suas opiniões.
Saindo com minha filha do bairro aonde moro, no Belém e utilizando o carrinho de bebê, com o qual já me aventurei por algumas calçadas e ruas das regiões do Tatuapé, Centro de SP, Vila Mariana, Paulista, Vergueiro e Jd. Europa, embarquei nessa nova aventura rumo a Cidade Tiradentes.
O fato é que, durante o percurso (trem + micro-onibus, que costuma durar de 2h30 a 3h), percebi o quanto a medida em que me aproximava de meu destino final, o espaço era estreitado, limitado e seu acesso dificultado.
Mesmo o carrinho de bebê sendo de um modelo leve e pequeno, justamente para passeio, foi impossível entrar com ele no micro-ônibus que possuía uma escada super estreita e espaço interno reduzido, já abarrotado de passageiros. E do lado de fora já se formavam 3 filas quilométricas, impossibilitando meu acesso mesmo sendo preferencial por estar com a bebê.
Enfim, contei com a gentileza de um dos funcionários do CFCCT (Inácio) que foi me buscar na estação de carro. E durante o trajeto observei com mais atenção as calçadas muito estreitas e sua não existência em alguns pontos.
Chegando no Centro Cultural, equipamento recém-inaugurado, de amplo espaço e fácil acesso, e após uma reflexão sobre o local e a região em que este esta inserido, me deparei com as contradições do entorno. Algumas casas e sobrados de proporções tradicionais, e muitas outras casas e barracos muito pequenos, aglomerados. 
Na sala de aula com os alunos/vocacionados, e com auxílio de alguns objetos e materiais como bastões, barbantes e alguns sacos de kilos de feijão, trabalho dentre outros aspectos da dança a relação: TEMPOPESOESPAÇO.
Este estreitamento revelou-se nítidamente, quando os observei durante as improvisações e durante alguns exercícios de experimentação e criação coletiva.  
Notei o quanto eles ainda não percebem o espaço ao redor para fazer uso deste, o quanto ainda não se conhecem ou reconhecem seu corpo e espaço interno (seus órgãos, músculos, ossos), o quanto ainda tem receio e dificuldade de manifestar opiniões, pensamentos ou sugestões, o quanto ainda é incômodo entrar em estado de atenção corporal, e o quanto ainda há dificuldades de ler e compreender contextos vários.
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Digo AINDA porque acredito em mudanças, e sei que este é um trabalho de formiguinha.
Não estou fazendo julgamentos, mas estas são algumas constatações com as quais me deparei. É desafiador, e eu gosto de desafios. Gosto de desatar nós, de buscar possíveis soluções.
Esta claro que estamos plantando, e para observarmos algumas mudanças/frutos é necessário ESPAÇO e TEMPO.
E é o que venho tentando proporcionar nos encontros. Um espaço de troca para primeiramente nos conhecermos melhor, para então estarmos e interagirmos com o outro através da dança. 
Se algumas dessas experiências vividas pelos vocacionados nos diversos encontros, fizer algum sentido maior através da dança de cada um, que diálogue com outras questões transversais, creio que isto já possa ser considerado um belo fruto.
“E assim seguimos, tentando traçar o traço do que pode vir a ser um rabisco de um rascunho de uma dança”.

Artista-orientadora Dança: Morgana Sousa
1° Semestre 2013


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