“Algumas
Reflexões Sobre Espaço/Tempo”
Meios de transportes, distâncias, tempo,
horas, minutos, longos segundos, gente, muita gente aglomerada, ruas, rampas,
vagões, algumas contradições, micro-ônibus para atender excedente número de
passageiros, uma única linha de ônibus para atender uma região extensa e
populosa onde não há outra opção de transporte público, cartografia, geografia,
calçadas...
Calçadas? Que espaço é este? Onde estamos?
Num determinado Sábado em que fui orientar
ou dar aula no CFCCT (Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes), me
deparei com algo que eu já havia visto, percebido, mas sobre o qual ainda não
havia refletido.
Como o espaço físico-geográfico, ou a falta
deste, pode influenciar no comportamento das pessoas e na forma como elas percebem/refletem
seu espaço de direito: seus corpos e suas opiniões.
Saindo com minha filha do bairro aonde
moro, no Belém e utilizando o carrinho de bebê, com o qual já me aventurei por
algumas calçadas e ruas das regiões do Tatuapé, Centro de SP, Vila Mariana,
Paulista, Vergueiro e Jd. Europa, embarquei nessa nova aventura rumo a Cidade
Tiradentes.
O fato é que, durante o percurso (trem +
micro-onibus, que costuma durar de 2h30 a 3h), percebi o quanto a medida em que
me aproximava de meu destino final, o espaço era estreitado, limitado e seu
acesso dificultado.
Mesmo o carrinho de bebê sendo de um modelo
leve e pequeno, justamente para passeio, foi impossível entrar com ele no
micro-ônibus que possuía uma escada super estreita e espaço interno reduzido,
já abarrotado de passageiros. E do lado de fora já se formavam 3 filas
quilométricas, impossibilitando meu acesso mesmo sendo preferencial por estar
com a bebê.
Enfim, contei com a gentileza de um dos
funcionários do CFCCT (Inácio) que foi me buscar na estação de carro. E durante
o trajeto observei com mais atenção as calçadas muito estreitas e sua não
existência em alguns pontos.
Chegando no Centro Cultural, equipamento
recém-inaugurado, de amplo espaço e fácil acesso, e após uma reflexão sobre o
local e a região em que este esta inserido, me deparei com as contradições do
entorno. Algumas casas e sobrados de proporções tradicionais, e muitas outras
casas e barracos muito pequenos, aglomerados.
Na sala de aula com os alunos/vocacionados,
e com auxílio de alguns objetos e materiais como bastões, barbantes e alguns
sacos de kilos de feijão, trabalho dentre outros aspectos da dança a relação: TEMPO – PESO – ESPAÇO.
Este estreitamento revelou-se nítidamente,
quando os observei durante as improvisações e durante alguns exercícios de
experimentação e criação coletiva.
Notei o quanto eles ainda não percebem o
espaço ao redor para fazer uso deste, o quanto ainda não se conhecem ou
reconhecem seu corpo e espaço interno (seus órgãos, músculos, ossos), o quanto
ainda tem receio e dificuldade de manifestar opiniões, pensamentos ou
sugestões, o quanto ainda é incômodo entrar em estado de atenção corporal, e o
quanto ainda há dificuldades de ler e compreender contextos vários.
.
Digo AINDA
porque acredito em mudanças, e sei que este é um trabalho de formiguinha.
Não estou fazendo julgamentos, mas estas
são algumas constatações com as quais me deparei. É desafiador, e eu gosto de
desafios. Gosto de desatar nós, de buscar possíveis soluções.
Esta claro que estamos plantando, e para observarmos algumas mudanças/frutos é necessário
ESPAÇO e TEMPO.
E é o que venho tentando proporcionar nos
encontros. Um espaço de troca para primeiramente nos conhecermos melhor, para
então estarmos e interagirmos com o outro através da dança.
Se algumas dessas experiências vividas
pelos vocacionados nos diversos encontros, fizer algum sentido maior através da
dança de cada um, que diálogue com outras questões transversais, creio que isto
já possa ser considerado um belo fruto.
“E assim
seguimos, tentando traçar o traço do que pode vir a ser um rabisco de um
rascunho de uma dança”.
Artista-orientadora
Dança: Morgana Sousa
1° Semestre 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário