Proposta de Ensaio Artístico-Pedagógico
AO: Milena Araújo (Musica Vocacional)
CEU Navegantes - ZS
Processos Criativos: Um Olhar Pedagógico
Nas
orientações encontra-se uma imensa variedade de vocacionados com
diferentes ideias do que fazer na música. Dos vocacionados encontrados
no CEU Navegantes deparei-me com aqueles que desenvolvem a escrita
poética, os que tocam alguns poucos acordes ou gostam de cantar. Há,
ainda, uma grande maioria que estabeleceram dentro de alguma prática
religiosa o elo direto com a música. A pesquisa das experiências
trazidas por eles tem mostrado certa imaturidade, pois existe o desejo
de fazer música, porém não se sabe “o que” fazer para produzi-la.
Por vezes compartilhamos em equipe as dificuldades em desenvolver o
processo criativo com os vocacionados, seja por falta de conteúdo
técnico-teórico por parte do público alvo, seja por um “engessamento das
ideias” – como se a música tivesse que seguir os padrões dados pelas
rádios que ouvem.
Com isso, várias questões vieram provocar-me,
tanto nas orientações como nas reuniões pedagógicas: Como desenvolver a
criatividade do vocacionado? Existem métodos pedagógicos que nos dão
recursos para esse desenvolvimento? Como envolver esses métodos para que
a orientação se torne um vasto meio de experimentos musicais, mas não
perca o foco artístico, aspecto fundamental desse projeto?
Quando analisamos diversas pedagogias ativas como Dalcroze e Willems,
vemos que parte do processo de desenvolvimento musical passa pela
vivência rítmica e pela sensibilização sonora antes de estudar um
instrumento. Segundo Dalcroze:
“Dominar o corpo, em todas as
suas relações com o espírito e a sensibilidade, é romper as resistências
que paralisam o livre desenvolvimento de nossas faculdades de
imaginação e criação” (Dalcroze Apud RODRIGUES)
Dentro do
processo de aprendizagem musical, Willems defende como forma ideal:
OUVIR → SENTIR → VIVENCIAR → INTERNALIZAR. Pensando nisso, os Processos
Criativos se encaixariam perfeitamente no VIVENCIAR e INTERNALIZAR visto
que o primeiro constitui-se em imitar, improvisar e comunicar-se
musicalmente através do canto, da dança ou tocando um
instrumento. O segundo seria mais focado em conceituar e constituir/construir uma forma de registro.
Pensando nesse processo de aprendizagem, propus algumas atividades para as turmas de iniciação:
Num primeiro momento, ouvir três versões de uma mesma letra composta
por Milton Nascimento, Ponta de Areia: a 1ª cantada por Elis Regina; a
2ª pelo grupo Boca Livre; a 3ª pela cantora e contrabaixista Esperanza
Spalding.
A turma da tarde fez uma análise das diferenças entre
as versões ressaltando a instrumentação, o andamento, a existência de
improviso, o uso de arranjo vocal e tudo mais que puderam observar.
Despertaram-se então algumas reflexões no sentido de que não
necessariamente é preciso fazer uma cópia exata do CD para cantar ou
tocar uma música. A releitura entrou para o contexto.
Nessa
mesma orientação passamos a vivenciar corporalmente algumas músicas
aproveitando o espelho contido na sala. Foram feitos grupos com quatro
vocacionados. Durante a execução da música cada um por vez deveria criar
seu movimentos, estes seriam imitados por seus três companheiros. Em
determinado momento eles trocariam de lugar transformando um dos
imitadores em criador. Logo no início alguns ficaram encabulados, sem
ideias do que fazer, mas aos poucos foram cadenciando alguns poucos
movimentos.
Ao fim da atividade muitos deles afirmaram que
ficou mais fácil quando eles pararam de pensar no que deveriam fazer e
no que os outros iam pensar e começaram a prestar mais atenção na música
e no que sentiam enquanto a ouviam.
Durante a atividade muitos
pontos foram trabalhados: a escuta, a expressividade corporal, conceito
de cópia e a criação, improvisação, pulsação, ritmo, andamento, estímulo
à desinibição perante um público, o olhar sobre si e o outro, uso do
espaço. Conceitos e experiências um tanto abstratas quando somente
explicadas e não vividas.
O Processo de Aprendizagem Artística
Alguns
meses passados do inicio das atividades, pulsação esclarecida e nuances
musicais afloradas, inicia-se o processo de produção musical,
composição.
Fica evidente a necessidade de lançar as ideias,
atividades pedagógicas não de modo estático. Mas de modo um tanto tímido
começam a surgir produções coletivas a partir de temas sugeridos por
minha orientação ou mesmo escolhido por eles.
Nas primeiras
intervenções, sugeri ditos populares, posteriormente foram trabalhados
poemas e por fim a escrita de ideias próprias. Em ambos os grupos
sugiram intenções completamente diferentes, cada um trouxe alguma
experiência. Do reggae ao pop, do refrão grudento ao experimental.
Houve
momentos interessantes com intervenções externas de artistas da região
como foi o caso do baixista e compositor Honda Silva, cujas
participações tornaram-se intensas nas composições e arranjos.
Enfim começa uma vivência artística.
O
caso específico de um grupo de vocacionadas da turma da manhã, chama-me
a atenção. O interesse pela experimentação tem trazido resultados bem
diferenciados, talvez por apresentar uma maior maturidade. Sua atividade
é o canto. Tenho trabalhado técnica vocal e diferentes formas de
emissão. Com isso, as atividades com textos renderam uma produção
experimental. Com pequenas intenções performáticas, uma das três moças
resolveu apresentar essa experiência no evento Pop Performance,
realizado no dia 14 de setembro.
Em sua primeira apresentação da vida, interpretou sozinha, duas obras ainda em desenvolvimento, mas inéditas.
A
preparação para esse momento foi intensa da parte dessa que se chama
Paula. Preocupação com a música, com a utilização da voz, a vestimenta, o
psicológico. De fato começou outro processo de aprendizagem para esse
grupo em específico: os Processos Artísticos.
“O que fazer, onde fazer, como fazer e o que é preciso para tudo isso?” São essas as questões levantadas agora.
Para a Paula ficou muito claro que a produção artística depende de muito trabalho, de dedicação, de testes, de planejamento.
Com várias dificuldades completamente compreensíveis para uma primeira
apresentação, Paula pareceu satisfeita com sua performance.
Começam
agora os preparativos para uma nova apresentação, mais aprendizados
práticos e mais ideias. A experiência dela já é uma referência para os
outros grupos que começam a se articular. Com isso surge novos desafios e
talvez um novo tema: As dificuldades de organizar uma apresentação sob o
olhar do AO e do Orientado.
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