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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Pedagogias abertas no ensino de música (primeira parte)

Pedagogias abertas no ensino de música (primeira parte)

Equipamento: CEU Quinta do Sol
Artista Orientador: Alejandro López


Neste ensaio o relato central esta baseado na minha participação no XIX Seminário de Educadores Musicais do FLADEM (Fórum Latino-americano de educadores musicais) que foi realizado entre os dias 16 e 20 de setembro de 2013 em Montevidéu, Uruguai.
O tema central do seminário foi “Pedagogias abertas, mitos e realidades”.
Me parece que o nome do seminário foi muito bem colocado porque muitas vezes pensamos que estamos trabalhando com pedagogias abertas, mas na realidade estamos somente continuando modelos tradicionais que comprovadamente não funcionam.
No seminário foram apresentadas diversas propostas de práticas pedagógicas através de aulas demonstrativas, além de oficinas, debates e mesas de discução sobre vários assuntos relacionados com o ensino de música formal e não formal.

Um debate interessante foi o realizado sobre os processos pedagógicos utilizados nas orquestras juvenis nos seus diferentes formatos na América Latina. A discussão foi centrada sobre o modelo venezuelano de grande sucesso conhecido como “El Sistema”, um sistema de orquestras que envolve a participação de um grande número de profissionais e de jovens que podem iniciar e aperfeiçoar seus estudos musicais. O ponto central da discussão foi se este sistema representa realmente uma proposta renovadora com um vies original (latino-americano) ou se somente reproduz o modelo das orquestras europeias e se esse modelo contribui para o desenvolvimento de uma linguagem e uma autonomia artística novas na cena educativo-artística latino-americana.
Também foi abordada a questão de como essa realidade acontece aqui no Brasil, onde através da isencão fiscal, muitas empresas proporcionam uma iniciação musical à crianças e jovens, mas sem cuidar de maneira séria e crítica dos processos pedagógicos, preocupando-se com a quantidade em detrimento da qualidade.

Pude constatar o quanto é difícil levar à prática o conceito de pedagogia aberta e de educar para a liberdade pois nossos sistemas educacionais formais nunca deram espaço suficiente para esse tipo de prática e portanto, nós, os profissioanis, somos formados conhecendo pensamentos e teorias que falam sobre autonomia e liberdade artística, mas na prática adotamos, a maioria das vezes, posturas que reproduzem os mesmos modelos já estabelecidos
Foram compartilhadas algumas experiências do Projeto Guri, tido como uma das referências enquanto ao modelo proposto e os resultados obtidos.
Acho necessária numa próxima edição do seminário, uma participação mais ativa do Programa Vocacional Música, pois acredito que é uma experiência rica que pode aportar muito desde o ponto de vista conceitual e que também tem resultados práticos interessantes que valem a pena ser conhecidos no resto da America Latina, contribuindo para a formação de um pensamento crítico sobre a pedagogia musical adaptada à realidade latino-americana.



Algumas conclusões elaboradas foram: falta construir o conhecimento, saber como fazer e não simplesmente fazer. A pesar das nuances que cada realidade local apresenta, em geral, na America Latina é necessario observar e pesquisar mais profundamente os processos de aprendizado para conhecer melhor como o conhecimento é adquirido e consequentemente, desenvolver práticas pedagogicas apoiadas nesses processos.
Temos que educar para a liberdade e a autonomia. Este conceito vai de encontro com umas das minhas práticas no vocacional: tentar gerar o pensamento crítico nos vocacionados através da prática e não de um discurso conceitual. Não proponho nada revolucionario, simplesmente pequenas atitudes e ações que levam ao questionamento, como por exemplo, deixar que seja o vocacionado que proponha alguma música para trabalhar nas orientações. Este pequeno ato desperta o interesse pois a maioria não propõe e espera que seja o professor que traga o conhecimento e que fale o que é bom e o que é de menos qualidade para trabalhar. Quando um vocacionado traz uma proposta de música e esta é aceita pelo grupo e incluída no repertório, acredito que isso desperta algum processo interno, por mínimo que seja, e que remete a algum tipo de reflexão sobre ser propositivo, ter a iniciativa e sobre a autonomia.
Outro conceito central nestas reflexões foi o de que o professor ou educador esteja “musicalizado” e seja consciente da sua musicalidade para poder transmitir de maneira natural e efetiva a musicalização aos seus alunos  pois num processo pedagógico musical o centro e o principal deve ser a música. Relacionando este conceito com as práticas vivenciadas no Vocacional, acredito que estou no caminho certo, pois é sempre através da prática musical que eventualmente algum vocacionado reflete sobre aspectos como ser crítico ou reagir ao estabelecido pelo sistema como “verdade”. Embora esses processos possam ser lentos, não muito evidentes ou conscientes, acredito que deixam uma marca profunda em cada vocacionado. Citando a educadora musical Violeta Hemsy: “A inclusão musical é um direito”.
Estamos vivendo um momento de crise como sociedade, onde a arte encontra-se desvalorizada, portanto é fundamental que através da pedagogia artística tentemos resgatar alguns conceitos como o desenvolvimento de um pensamento crítico em relação à homogeneidade, ao consumismo, à massificação para ter acesso à igualdade de direitos e poder gerar processos educativos libertadores tanto para os alunos quanto para os professores.


Alejandro López Jericó

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