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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Reflexões sobre as práticas de composição dos vocacionados

Ensaio Agosto 2013 - Música Vocacional
Reflexões sobre as práticas de composição dos vocacionados


Equipamento: CEU Quinta do Sol
Artista Orientador: Alejandro López Jericó


No ensaio do mês de julho descrevi alguns exercícios que tinham como intuito instigar a criação dos vocacionados para tentar sair do estagio da imitação ou reprodução de modelos já conhecidos. No mês de agosto continuei com essas práticas, mas de uma maneira mais “livre”, pois percebi que alguns vocacionados têm dificuldades para compreender as “regras” da teoria musical e em outros casos, mesmo tendo assimilado a parte teórica, as tentativas de criação ficam muito restritas aos exercícios feitos nas orientações e, portanto as “criações” apresentadas viram uma espécie de imitação ou reprodução do que já foi feito, tornando o processo um paradoxo. Como tentativa de escape deste paradoxo, sugeri que houvesse mais liberdade no processo criativo e menos preocupação com a teoria, deixando esses processos na mão da intuição e da espontaneidade.
Também foram sugeridos exercícios de criação coletiva onde cada participante poderia aportar uma ideia e a somatória de todos os “fragmentos” geraria um resultado final diferente e inesperado.
O trabalho em grupo fomenta as relações interpessoais e estimula tentativas de composição coletiva. Quando um vocacionado mostra um esboço de criação, seja de música ou de letra, esta instigando os outros integrantes do grupo a mostrarem os seus próprios esboços e em certas ocasiões surgem resultados interessantes produto da junção desses trabalhos.

Devo aclarar que estas opiniões representam o acontecido neste último mês e mesmo que possa parecer contraditório com o ensaio realizado no mês anterior, acredito que é fundamental perceber as mudanças que acontecem no grupo e é necessário registrar as diferentes respostas que vão surgindo. Este aparente “caos de processos pedagógicos” (onde processos são deixados de lado, outros são começados e às vezes sobrepostos aos anteriores) é um procedimento muito rico que gera desafios para o artista orientador e que contribui para o desenvolvimento da tão falada autonomia artística.


Falarei a continuação de uma composição feita em parceria onde uma das vocacionadas aportou uma letra e outra criou a música a partir dessa letra.
Um dos desafios enfrentados foi o de adaptar uma letra a uma melodia já existente tendo que trabalhar ao mesmo tempo sobre o conteúdo que queria ser colocado, mas sem perder de vista o rigor que a métrica das palavras impõe para poder encaixá-las sobre a melodia.
As vocacionadas também tentaram aplicar conceitos que foram trabalhados nas orientações como dinâmica e contraste. Para criar uma parte B que fosse radicalmente diferente da parte A já composta, foi criado uma espécie de rap onde a letra é falada ritmicamente sem uma altura determinada. Depois de analisar o resultado (as vocacionadas foram mostrando em varias orientações os avanços na composição), concluímos que na parte B (o rap) deveria ter um acompanhamento rítmico diferenciado do resto da música. Para isso a compositora adaptou uma levada em estilo “funck abrasileirado” de uma música do Djavan que estávamos tentando tocar e cantar no grupo, valendo-se de uma grande intuição e criatividade.
Também quero ressaltar o fato de que as compositoras tentaram um pequeno “arranjo vocal” fazendo duas vozes no refrão da música.

Faixa 1: “Um só” ( Vitória Elizabeth/ Bárbara Cristina).


O próximo exemplo que comentarei trata-se de uma composição com letra e música próprias. O desafio neste caso era tomar como base uma levada de uma música que a vocacionada já tocava. A partir desta levada a ideia era criar uma harmonia diferente e tentar compor outra melodia. A maior dificuldade aqui consistia em tirar da cabeça a melodia da música que serviu como base. A vocacionada acabou modificando a harmonia e isso a ajudou a criar a nova melodia.

Faixa 2: “Indivisíveis” (Vitória Elizabeth)


O último exemplo que vou comentar é uma composição de uma vocacionada que conseguiu aplicar os recursos básicos aprendidos nas orientações em relação ao violão (dedilhados, levadas e acordes) e misturá-los com os recursos intuitivos de ritmo e criatividade enquanto à letra que a vocacionada naturalmente já possui.

Faixa 3: “Amalgamados”



Para finalizar quero destacar a importância de incentivar a criatividade nas orientações, seja através de exercícios direcionados à aplicação dos procedimentos da teoria musical, seja incentivando a criação através da intuição, com maior “liberdade” em relação às “regras” da música. Devemos ter a amplitude suficiente para aceitar que através da intuição pode se obter resultados interessantes embora não tenha sido seguido o caminho da aplicação dos recursos teóricos.
Muitas vezes sinto que entramos no caminho da formação e surgem preocupações sobre “passar informações” e deixamos de lado elementos como a vontade e a intuição com os que também podemos obter resultados surpreendentes.
Os exercícios propostos nas orientações funcionam como desafio para os vocacionados, são geradores de dúvidas e não têm a intenção de servir como exemplos. Acredito que mostrar possibilidades e estimular a prática é fundamental, como disse o poeta: “Navegar é preciso, viver não é preciso”.


Obs: Músicas estão em cd com a coordenação do programa Música Vocacional

Alejandro López Jericó

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