Programa
Vocacional - Projeto Vocacional Música
Ensaio
de Pesquisa
Artista
Orientador: Marcus Henrique Simon
Data:
08/07/2013
As minhas orientações
no CEU Formosa estão direcionadas principalmente à prática de conjunto de
repertório de músicas brasileiras, a partir de músicas sugeridas pelos
vocacionados e por mim. Trabalho também com a apreciação musical por meio da
escuta de CDs trazidos pelos alunos e de exemplos musicais de áudio e vídeo que
levo nas orientações. Discutimos e analisamos conjuntamente diversos aspectos
musicais e estéticos, como forma musical, fórmula de compasso, instrumentação,
estilo, performance, entre outros. Ouvimos músicas de estilos e artistas
variados: Nirvana (rock grunge), Lelo Costa (vocacionado que compõe no estilo
sertanejo/gospel), Radiohead (rock eletrônico) e Quinteto Amazonas (grupo de
MPB do AO Marcus Simon). Exibi também o documentário “Hermeto Campeão”, sobre a
vida e obra do músico Hermeto Pascoal. Além da escuta musical, desenvolvo
dinâmicas de grupo com exercícios rítmicos, utilizando a percussão corporal e
instrumentos de percussão. O intuito é trabalhar a noção de pulso e o
entendimento dos ritmos em relação ao compasso e à pulsação. A improvisação e a
memória rítmica também são estimuladas por meio de palmas, peito, pés, e outros
timbres corporais, com ritmos simples de apenas um compasso.
As orientações são
divididas em duas turmas (manhã e tarde), e contam atualmente com
aproximadamente 15 participantes no total. Os vocacionados tocam violão, baixo,
guitarra, bateria, teclado e percussão, e alguns se arriscam no canto. Possuem
diferentes idades e níveis musicais, porém as referências e os gostos musicais
entre os mais jovens são parecidos, indo de Milton Nascimento a Capital
Inicial. Alguns possuem um gosto mais refinado e um nível musical acima da
média em relação aos colegas. É o caso do vocacionado Guilherme, que aprendeu a
tocar no violão a música “Travessia”, de Milton Nascimento, e “Quero me
encontrar”, de Cartola; e do guitarrista Vinícius, que aprendeu a tocar com o
pai músicas como “Carinhoso”, de Pixinguinha, “Bachianinha nº 1” , de Paulinho Nogueira, e
“Brasileirinho”, de Waldir Azevedo. A presença desses alunos incentivam e
estimulam os outros participantes a estudarem música e a ouvirem estes compositores.
O encontro de gerações
distintas também possibilita uma ampliação do repertório de todos numa troca de
saberes. A música “Tocando em Frente”, de Almir Sater e Renato Teixeira,
sugerida pelo vocacionado compositor Lelo Costa, era desconhecida por alguns
vocacionados adolescentes, até ser ensaiada e depois apresentada na Mostra do
Vocacional no CEU Quinta do Sol e no Sarau do CEU Formosa. Esta música
possibilitou a criação de um arranjo que tem como base dois ritmos do sul do
Brasil e da Argentina, e que também eram novidades para os vocacionados: a
chacarera e o chamamé. Estes ritmos trabalham com uma polirritmia de “3 pulsos
contra 2 pulsos”, muito comum na musicalidade argentina e também africana. Em
geral, a música de origem argentina, que veio a influenciar a do sul do Brasil,
possui em sua estrutura rítmica acentuações que podem tanto ser entendidas como
um compasso ternário simples (3 por 4) como um binário composto (6 por 8). Em
espanhol é usado o termo “birritmia”, ou seja, um ritmo que pode ser escrito,
executado e sentido tanto por uma determinada fórmula de compasso, quanto por
outra. O que acontece na prática é que durante a música a melodia e o
acompanhamento instrumental transitam entre subdivisões e acentuações binárias
(3 por 4) e ternárias (6 por 8), criando um caráter ambíguo quanto à definição
de métrica do compasso. O livro “Cajita de Música Argentina”[1], de Juan Falú, explica mais
detalhadamente esse aspecto polirrítmico e traz informações históricas e
musicais sobre os ritmos da música argentina.
Os vocacionados
puderam experimentar na prática essa polirritmia, ao acompanharem a música
“Tocando em Frente”, cantada e tocada ao violão pelo vocacionado Lelo. Pedi
para baterem palmas em 3 pulsos, e pés em 2 pulsos, simultaneamente, e depois
invertendo, palmas em 2, pés
em 3. Para todos participarem da execução da música, criei uma frase rítmica
simples para ser inserida no arranjo, tocada com palmas e baquetas, somada ao
acompanhamento da bateria e da percussão.
Pretendo continuar
trabalhando com o repertório conhecido dos vocacionados, além de levar as
minhas referências musicais de compositores que considero importantes da música
brasileira e mundial. As orientações nesse estágio do Projeto estão muito
voltadas para as apresentações nas Mostras. Os vocacionados ficam entusiasmados
com o desafio de se apresentarem num palco, que é para muitos deles ainda um
lugar desconfortável e, ao mesmo tempo, fascinante. No entanto, procuro
conciliar aos ensaios práticas de
musicalização, apreciação musical e improvisação, além de conteúdos teóricos,
que considero fundamentais para se adquirir melhor preparo e um amplo
entendimento do fazer musical.
Como uma proposta de
atividade de apreciação musical, farei um mapeamento das origens étnicas de
cada vocacionado, e propor uma pesquisa na qual os vocacionados poderão
discutir sobre a música dos povos de seus ancestrais. Serão exibidos
alguns vídeos do Youtube com músicas tradicionais do
folclore brasileiro, dos povos ligados à origem familiar dos vocacionados e de
outros povos do mundo, como dos Pigmeus africanos, dos músicos do gamelão de
Bali, e dos monges tibetanos, por exemplo. Cito abaixo alguns objetivos que tal
atividade se propõe:
- Provocar a
estranheza e a curiosidade do aluno pela música tradicional do Brasil e do
mundo, a qual ele não está habituado a ouvir.
- Proporcionar aos participantes uma
experiência musical auditiva e estética, por meio do repertório e de
informações sobre a cultura e a musicalidade tradicional do Brasil e de outros
povos do mundo.
-
Ampliar o repertório musical dos alunos.
-
Instigar a curiosidade e a pesquisa por tais expressões musicais, e estabelecer
relações com o repertório conhecido dos alunos.
- Incentivar os
alunos a frequentarem mais shows musicais, principalmente de artistas e grupos
que buscam fazer uma música de qualidade, sem as padronizações estabelecidas
pela indústria fonográfica e pela mídia de entretenimento.
- Estimular a escuta
e a apreciação musical.
-
Desenvolver a capacidade de discernir e identificar timbres e características
de diferentes instrumentos e estilos musicais do mundo.
-
Demonstrar as diversas funções possíveis que a música possui e a sua
importância nas sociedades do mundo.
- Desenvolver
a compreensão da riqueza da diversidade cultural brasileira.
A partir
dessa atividade poderei avaliar se é possível dar continuidade à pesquisa de
músicas tradicionais do Brasil e do mundo e se há algum interesse dos
vocacionados. Possuo um trabalho acadêmico de conclusão de curso de
Licenciatura em Música intitulado “Oficina de Música Estranha - Musicalidades
tradicionais do mundo: provocações para uma escuta sem preconceitos”. Este
projeto apresenta uma pesquisa sobre a importância da etnomusicologia na
educação e sobre diferentes expressões musicais tradicionais dos povos do
mundo, além de uma série de atividades práticas relacionadas ao tema e de
referências bibliográficas, de áudio e de vídeo de tais musicalidades. Planejo
desenvolver algumas dessas atividades com os vocacionados, paralelamente às
orientações e ensaios para as Mostras.
[1] Link com o livro na íntegra: http://www.educ.ar/repositorio/Download/file?file_id=3263d348-527b-45e4-873c-3a74b900c35a
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